quarta-feira, 27 de março de 2013

Sem saco pra blá blá blá

Eu acho tanta graça de gente que adora dar palpite em assuntos sobre os quais não têm a menor vivência. E um dos assuntos que todo mundo acha que entende é crianças, filhos. Eu mesma já fui assim: cheia de idéias pra colocar em prática. Eu achava que educaria maravilhosamente bem o filho dos outros. Por isso, hoje rio de mim mesma quando lembro daquela Paula cheia de teorias bonitinhas sobre educação. E, atualmente,  deixo minhas amigas e irmã que já eram mães e tinham paciência pra ficar escutando minhas "abobrinhas educacionais" rirem da minha cara. Com toda a humildade, admito que eu era muito tolinha. 

As pessoas têm sempre uma solução pra tudo, uma dica, uma receita milagrosa. Sempre acham que suas teorias fariam a diferença na vida de qualquer criança. Ainda acham que tudo de errado que acontece é culpa dos pais. Pombas, pode ser, sim, culpa dos pais, algumas vezes. Mas pode não ser. Criança nasce e vem com seu código a ser decifrado, apresenta ao longo da infância gostos e preferências que algumas vezes conseguimos identificar de onde vieram e outras vezes nos perguntamos como é que pode... De onde veio esse gosto? De onde veio esse comportamento? Por exemplo, nunca bati no meu filho. Ele não vê isso em casa. Hugo também não bate. Mas Miguel bate nos amigos de vez em quando. E aí? 

Aí tenho que escutar fulaninho falando de alimentação infantil quando fulaninho não tem filhos. Tenho que escutar ciclaninha falando de estabelecer horários dentro da rotina familiar quando a ciclaninha também não tem filhos. E por aí vai. Desculpe, mas vai ter filho primeiro pra gente poder falar a mesma lingua. Porque a teoria é linda e eu mesma tinha MUITAS delas e na hora da prática entram as tais das variáveis que deixam qualquer mãe louca. 

Falam horrores de refrigerante. Aí levam a coisa pra um extremo totalmente radical. Vejo pais surtando porque os filhos tomaram refrigerante. Miguel toma refrigerante. É liberado lá em casa. Sabe o que acontece? Coloco meio copo pra ele, nas raras vezes em que ele pede, e ele não bebe nem esse meio copo.  O máximo de refrigerante que ele bebe é quando vai ao cinema e, como está comendo pipoca, acaba tendo a necessidade de ingerir mais líquido e como é o refrigerante que tem pra beber, é isso mesmo que ele bebe.  Duda, minha afilhada, sempre gostou de levar frutas como merenda pra escola. Levava frutas mas não gostava de suco. Levava frutas e coca. E aí? Minha irmã merece condenação por causa disso? 

Vejo mães andando atrás de seus filhos em festinhas infantis pra que não comam salgadinhos ou se entupam de brigadeiros. Na boa, meu filho mal come nas festinhas porque só pensa em brincar. Mas quando está comigo à mesa e quer pegar um salgado, deixo sim. Quando me pede pra comer bolo ou brigadeiro, também deixo. Acho que a proibição por certos alimentos gera uma compulsão por eles. E apresento de tudo pro meu filho e não o obrigo a nada e não proibo as balas. Apenas dou um corte quando já comeu umas 4 ou 5 balas. 

A única pessoa que comia muitas frutas lá em casa era meu falecido pai. Eu não tenho o costume de comer frutas, embora goste delas. O Hugo nem gostar, gosta. Quer dizer, não faço o que deveria fazer: dar o exemplo pro Miguel. Mas compro frutas porque meu filho as adora. A creche teve papel fundamental na alimentação do meu filho. Miguel come de tudo. E meu papel é apenas garantir que minha geladeira tenha frutas pra ele. Ontem eu estava na cozinha comendo biscoito recheado com o Hugo quando o Miguel apareceu. Olhou o biscoito e eu pensei que ele fosse pedir um. Nada. Abriu a geladeira e pegou a gelatina e perguntou se tinha "uma maçãzinha". Respondi: "Claro, filhote!". Peguei a maçã e lhe entreguei. Ele comeu a gelatina e depois a maçã enquanto os pais comiam biscoito. Tem dias em que ele tem vontade de comer biscoito recheado. E daí? É algum crime? Coloco em um pratinho uns 3 ou 4 e, em todas as vezes, ele me devolve o prato ainda com biscoito. Come 1 ou 2, no máximo. 

E ainda tem a pobre condenada salsicha. Cara, Miguel ama cachorro quente e come salsicha. Aliás, se tiver macarrão com salsicha ou feijão, arroz e salsicha o garoto desce o garfo mesmo. Nem esquento minha cabeça. Conheço mãe que coloca brócolis na merendeira da filha. Palmas pra ela. Acho bacana mesmo que ela esteja conseguindo essa proeza, mas não vai me dizer que a filha dela é mais saudável que meu filho SÓ por causa disso. Respeito o fato de a menina comer brócolis ao invés de biscoito, mas espero, sinceramente, que a menina goste de levar esses brócolis. Que ela leve esse verdinho pra escola com a mesma alegria que meu filho leva melancia. E acho totalmente possível que a menina curta mesmo comer suas arvorezinhas verdes no lanche. 

Quero deixar claro que não deixo meu filho se empanturrar de balas, doces, refrigerantes ou biscoitos amarelos. Essa não é a alimentação rotineira dele. Mas quando me pede, dou. Outro dia ele pediu Fandangos. Segundo minha irmã nutricionista, biscoitos amarelos são o terror das mães. Enfim, Miguel comeu muito Fandangos mesmo. Comeu bem meio saco ou até um pouco mais. Aí, em outro dia ele estava olhando o armário pra escolher o que iria comer e ele olhou pro saco de Fandangos. Perguntei se ele queria. E ele me respondeu que não. "Esse biscoito é muito salgado, mamãe, machuca a boca", me disse ele. Quer dizer, ele mesmo tirou suas conclusões e não vai mais comer tanto Fandangos. Por isso é que deixo que experimente. Miguel não come nem três quadradinhos de chocolate quando dou aquela tirinha da barra de chocolate pra ele. Acho que, como lá em casa rola essa liberdade pra ele comer o que tiver vontade, ele come com parcimônia. Ele sabe que vai poder comer depois se quiser. Se um dia ou outro Miguel estiver se excedendo, cabe a mim chamá-lo pra realidade. Sempre repito o preceito budista de que "a virtude está no meio". E busco isso pro meu filho, sem proibições. 

Eu dei sorte. Miguel ama frutas e come legumes. Mas poderia não comer. E seria culpa minha? Eu é que não estaria sabendo educar? Não. Concordo que não posso oferecer apenas alimentos vazios e engordurados pro meu filho. Mas se minha alimentação é saudável, se eu não sou compulsiva por alimentos cheios de açúcar, metade do caminho está trilhado. Mas a outra metade é com ele. O papel dos pais é orientar, sem proibir, sem ser xiita. O que acontece é que as pessoas não respeitam a opção alheia. Se acreditam que não comer carne é a melhor coisa do mundo, querem vender isso pra todos. Quem come carne, vira idiota. Se acreditam que o açúcar é o mal do século, pronto: resolvem banir os brigadeiros da vida dos filhos e os pobrezinhos viram reféns da decisão dos pais. 

Sempre acreditei no exemplo que damos aos filhos. Ainda acredito. É lógico que se eu como fast food somente 1 vez ao mês, meu filho não tem o costume de comer hamburger porque também só os come 1 vez ao mês. Mas não me considero péssima mãe se me delicio com um bom hamburger enquanto meu filho faz o mesmo porque isso não é uma constante na minha vida e nem na dele. De toda essa discussão sobre como educar, acho que fica a oportunidade pra refletir, nos perguntando se estamos fazendo o melhor que podemos sem tirar os pés do chão. Por isso é que hoje não acho mais que seja apenas uma questão de exemplos. Existem muitas outras coisas envolvidas nesse processo. Como criar um filho sem ver televisão - como já ouvi vários pais falando isso - se o que acontece na TV também está inserido no mundo? Quero é criar meu filho com capacidade de assistir um programa e escolher o que gosta e o que não gosta pra decidir que não irá mais perder tempo com o que considera inútil. Como criar um filho sem permitir que experimente biscoito recheado se seus amiguinhos vão levar biscoito pra escola? Vou fazer o quê? Proibir os amigos de darem biscoito ao meu filho? Não. Prefiro que meu filho saiba o gosto de um biscoito recheado e se ele não quiser levar biscoito porque prefere frutas, ótimo! Serei a primeira a encher a casa de frutas. Tenho que orientar, mostrar o que é certo e o que é errado mas preciso deixar meu filho exercitar seu poder de tomar decisões. Pequenas decisões a princípio, obviamente, maiores no futuro. 

Educar dá trabalho pra caramba. Em tudo. Nas mínimas coisas. Então, já tenho dor de cabeça suficiente queimando meus neurônios pra fazer do Miguel um cara legal e com saúde pra ainda ter que ficar escutando blá blá blá de quem não tem conhecimento de causa. Quero ver criar filho segurando o manual de instruções contendo todas as teorias mais furadas sobre educação debaixo do braço. Taí uma coisa que eu adoraria ver. 


quinta-feira, 21 de março de 2013

O dia em que o Miguel ficou sem lanche

Educar é mesmo tarefa das mais difíceis que existem nessa vida. Tudo é muito complicado desde as coisas que parecem mais simples. Criança é um ser que sai da sua barriga selvagem e - que maravilha! - cabe a nós, pais, domesticar. Há dias em que tudo parece que está correndo bem e que você está no caminho certo, tudo leva a crer que você conseguirá, sim, ter um filho bem educado. Há outros dias em que você tem certeza de que a coisa não está indo tão bem assim e que você está fadada a ter um filho louco dentro de casa. Ou pior: que esse filho vai conseguir lhe enlouquecer.

Desde que Miguel foi pra escola eu tenho meia hora pra dar banho, dar almoço, escovar os dentes, colocar o uniforme, arrumar a merenda e levá-lo até a porta da sala de aula. Nem sempre consigo e olha que conto com a ajuda da minha mãe e da Taninha que, na maior parte das vezes, já deu banho no Miguel quando chego em casa.

Hoje perdi a cabeça totalmente. Miguel conseguiu me levar ao limite. Quer dizer, Miguel me fez ir além do meu limite. Pressionada pelo tempo apertado, já estava angustiada demais pra lidar com uma criança que não queria tomar banho ou almoçar. Taninha conseguiu dar banho no meu pequeno selvagem e, cheia de paciência, coloquei o prato com farofa, carne e feijão e fui dar ao Miguel. Tentei a primeira colherada. 

- Mãe, você não colocou arroz. Eu quero comer arroz.

Ok. Ele quer arroz, vou colocar arroz... Voltei com o prato com arroz e fui pra segunda tentativa.

- Mãe, eu não quero farofa e tem muita farofa aqui. 

Ok. Vou tirar a farofa do prato. E voltei pra tentar pela terceira vez já me sentindo ferver por dentro. 

- Mãããããããeeeeeee, você tirou toda a farofa e eu quero um pouquinho...

Puta que pariu. Miguel só podia estar de sacanagem!!! E pra piorar as coisas ainda mais, Miguel esbarrou sem querer no prato que estava na minha mão e derrubou toda a comida, fazendo uma lambança que me irritou em nível máximo. Pronto, o caldo entornou de vez. Literalmente, porque tinha caldo de feijão pra todo lado.

A Paula calma e cheia de paciência deu lugar pra que a outra, a enfurecida, entrasse em ação. Comecei a gritar pra ele sumir da minha frentre e ir pro quarto. Não satisfeita, fui atrás dele e comecei a tacar as peças de seu uniforme em cima da criança - que cena patética... - bermuda, camiseta e meias e disse que se virasse e se vestisse sozinho. Depois disse que se ele não estava com fome pra almoçar, que falasse e não ficasse me fazendo de palhaça e que se estava sem fome pra comer comida também não estaria com fome pra comer o lanche da escola. E aí eu fiz merda. Disse que não colocaria o lanche dele na mochila e que todos os amigos iriam lanchar menos ele. Coloquei apenas o copo pra ele beber água dentro da mochila e não coloquei nada. Nadinha mesmo. Nem suco, nem biscoito e nem a fruta que ele tanto gosta. Estava totalmente irada. E o Miguel nada falava. Quieto, quase uma múmia. 

Enquanto eu proferia as palavras: "Hoje você não vai ter lanche pra comer na escola" eu já estava arrependida antes mesmo de terminar a frase. Mas aí já era tarde. Uma vez que se diz que vai fazer algo, pro bem ou pro mal, temos que ir até o final. Não é isso que dizem as bostas dos manuais de educação infantil?

Cheguei na escola e fui até a sala de aula pra falar com a professora. A essa altura meu coração já estava menor que um caroço de arroz. 

- Graziele, eu não mandei o lanche do Miguel hoje. 
E ela perguntou:
- Esqueceu?
Putz, pensei. Agora é que vai feder. Vou ter que explicar que achei que meu filho deveria ser castigado ficando sem comida. Socorro. Vamos lá, mantive a pose:
- Não. Foi de propósito. Ele não quis almoçar (resolvi resumir e poupá-la dos detalhes sórdidos) e, por isso, ficará sem lanche. 
A cara da Graziele foi de total incredulidade. Deve ter pensando em como existe gente louca nesse mundo. Gente que deixa o filho sem lanche, tipo eu. A pobrezinha só conseguiu falar:
- Ah... Tá bom.

Chamei o Miguel pra dar beijo de despedida e dizer que o amava. Expliquei pela milionésima vez o porquê de ele estar sem lanche e ele me olhou e só disse: "Tá bom, mamãe." 

E, como já está virando rotina, virei as costas e saí da escola em direção ao meu carro com uma vontade de chorar da porra. Porque sei que deveria ter tirado qualquer outra coisa do meu filho: os brinquedos, os DVDs, o Ipad. Tudo, menos a comida. Que tipo de mãe eu sou? Já sei. Uma mãe insana. Será que aquele ditado que diz que "mãe acerta até quando erra" está valendo? Só me resta esperar que sim. 

Ele sobreviverá, eu sei. Mas que uma criança é capaz de levar você pra caminhos nunca antes percorridos, isso é. Nunca eu imaginei que tomaria atitudes assim, no calor de uma situação, totalmente estressada e além do meu limite. Filho é capaz de fazer você chegar a lugares que nunca pensou que visitaria. E sabe quais são os lugares que eles mais gostam de lhe fazer ir? Os lugares mais escondidos dentro de você. Aqueles que nem você mesma pensa que existem. É preciso coragem pra educar filhos. Muita.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Dia das mães na escola... Sem a mãe.

Eu já estou ficando bem animada com a proximidade das minhas férias. Não vejo a hora de dar aquela fugida básica com o Namorado e viver 2 deliciosas semanas longe de tudo. Só que na semana passada uma coisa me afastou da minha animação. 

Sempre procuro programar a viagem de férias pensando em tudo, de forma a não deixar furo em casa e no trabalho. Gosto de viajar em abril, raras as vezes viajei em maio, mas esse ano, acho que por causa do calendário de provas aqui no trabalho ser bem no início de maio, não quis me ausentar nos últimos 15 dias de abril, como de costume. Aí, como o aniversário do Miguel é em 10 de maio e vou fazer a festinha dele antes, no dia 04, só sobraram os últimos 15 dias de maio. Ok. Vou passar o domingo, dia das mães, com ele e viajo. Toda essa programação foi feita no final do ano passado. 

Então, como em um passe de mágica, semana passada acordei com uma sensação estranha. Lembrei, assim que abri meus olhos de manhã, que a festinha das mães da escola do Miguel em 2012 foi, estranhamente, após do dia das mães. Assim como no ano passado, continuei achando que devia ter havido algo errado e que se tratou de um evento singular. Não passava, nem por um segundo na minha cabeça, que a festa de mães poderia acontecer, novamente, após o domingo das mães. Ainda mais eu que estou super acostumada a ver minhas professoras e funcionárias fazerem um esquema comigo para estarem presentes nas festinhas de seus filhos, que SEMPRE acontecem antes da data.

Só que com um medo horroroso, resolvi perguntar na secretaria da escola. Fui de mansinho, com pavor de ouvir a resposta que meu coração já sabia. 

- Quem marca a festa das mães, Deise, a professora ou a escola?, perguntei. É óbvio que em uma escola onde tudo quem resolve é a dona, eu já imaginava o que a secretária responderia. Eu ainda tinha esperança, é claro. Se fosse a professora, eu imploraria que marcasse antes do domingo das mães pra que eu pudesse estar presente. Mas...

- É a escola que determina a data, disse a Deise. 

- E, geralmente, é quando? Porque no ano passado foi depois do dia das mães... 

- Sim, trabalho aqui há anos e SEMPRE é na terceira semana de maio, depois do domingo da festividade.

PLOFT. Parecia que tinham derrubado um balde cheio de água fria na minha cabeça. Sem conseguir dizer mais que um sem graça "obrigada", virei as costas e fui saindo da escola chorando. 

Chorando de culpa, chorando de tristeza, chorando de raiva, entrei no carro e liguei pra minha irmã. A filha mais velha da Sis estudou lá e a mais nova ainda estuda e contei pra ela o que tinha acabado de saber. Ela disse que nem se tocou e que, de fato, as festas da escola sempre são realizadas após a data, tanto da mãe quanto do pai. E isso fez com que me sentisse ainda mais idiota e perdida porque poderia ter perguntado a minha irmã antes de organizar a minha vida. 

Além de ter que lidar com a culpa habitual de viajar e deixar o Miguel, ainda terei que lidar com o fato de que meu filho não terá a mãe dele na festinha da escola e só de estar escrevendo isso agora meus olhos se enchem de lágrimas e fico devastada outra vez. Eu viajo todo ano, sim, e me divirto e acho importante que eu faça isso pela minha sanidade e pela sanidade do meu casamento. Mas isso não significa que faço isso sem culpa. Tenho culpa mas faço o que acho certo. E acho certo que um casal tenha seus momentos pra viver como um casal e não só papai e mamãe. Mas daí a não estar presente na festinha do dia das mães ... Isso foi muito forte pra mim. Eu me desdobro em mil, sempre, se preciso for, pra ser uma mãe presente.

Não vou ver o Miguel dançando, cantando uma musiquinha que, com certeza, terá ensaiado pensando em mim. Ainda mais que no ano passado ele foi um dos poucos meninos que não ficou inibido, dançou, pulou olhando pra mim, muito, muito lindo. Só de lembrar, choro de emoção. E agora choro de emoção e tristeza porque vai haver outra festa e eu não poderei estar lá. E não poderei estar lá não por causa de uma reunião de vida ou morte no trabalho, porque estou doente, ou sabe-se lá porque motivo eu não iria na festinha do meu filho. Nenhum motivo é forte o suficiente pra mim. Nenhum motivo nesse mundo me faria não estar lá, assistindo meu filho fazer o que preparou pra mim. Nem a mais importante das reuniões, nem um chefe estérico, nem um pai de aluno barraqueiro, nem uma gripe ou febrinha. Nada disso me deixaria de fora. E saber que não estarei presente porque vou estar me divertindo, viajando, em outro país, me deixou na lona.

Devastada. Sem solução. Não estarei presente na festinha do dia das mães da escola do Miguel do ano de 2013. Única vez em que ele vai comemorar essa data com 4 anos. E isso não volta mais. E nada me consola. 

domingo, 17 de março de 2013

Estragada




A idade chega pra todos e disso ninguém pode fugir. 

Por mais que eu me olhe no espelho e me ache muito bem pra idade, eu nasci em 1971 e isso pesa. Não pesa na minha mente, no meu pensamento. Não pesa pra acompanhar as mudanças do mundo, o desenvolvimento tecnológico acelerado. Pesa no corpo. 

Ontem fizemos a festa de aniversário de 13 anos da minha afilhada Duda aqui em casa e é claro que dá trabalho. A festa mesmo começou às 19h e terminou uma da manhã, mas a gente ainda foi arrumar tudo e só foi dormir às 3 da matina. Ficamos só supervisionando, tirando fotos e passamos longe da pista de dança pra não acanhar os mais de 100 convidados adolescentes que, obviamente, não ficariam à vontade na presença de alguns "velhos". Somente no finalzinho da festa, depois de quase subornar o DJ, conseguimos nos acabar de dançar ao som de "Amante Profissional" do Erva Doce (kkkkkkkkkkkkkkkk MUITO BOM!!!!), "Nós vamos invadir sua praia" do Ultraje (música muito propicia para alguns coroas invadirem a pista de dança cheia de pirralhos!!) e mais umas duas outras músicas antes de nos expulsarem da pista. Fato é que hoje não aguento nem levantar da cama direito e só penso em dormir com uma ressaca terrível. E olha que nem bebo!!!!

Como eu podia aguentar isso todo final de semana há 15 anos? Mais: como eu podia aguentar isso TODOS OS DIAS do final de semana e ir, linda, trabalhar na segunda feira??? Esse é o poder da juventude. E ele vai embora, sim. Não tem jeito. 

Preciso ficar de molho hoje o dia inteiro porque amanhã a vida está de volta e não posso me arrastar assim... 

Estou estragada e isso é oficial. Mas estou feliz! 

sexta-feira, 8 de março de 2013

Parabéns, mulheres!!!

Hoje cedo, quando entrei no facebook, me deparei com a estória que minha eterna professora Claudia Mendes postou. Na hora, ainda encantada com o que li, me remeti ao passado, quando ainda tinha minha avó materna nessa vida, fisicamente perto de mim. A estória da mãe da Claudia me fez lembrar a estória da minha mãe. 

Minha avó era analfabeta, mas sempre incetivou minha mãe a estudar, a ser livre, independente, a não depender do dinheiro de homem algum. Uma mulher que não sabia ler nem escrever, mas que era de uma doçura ímpar, de uma sabedoria que só quem vive a vida de coração aberto pode adquirir. Minha avó estava a frente de seu tempo, porque naquela época as mulheres somente poderiam ter uma profissão: professora. E minha mãe não queria ser professora, não tinha a menor vocação pra tal. Minha avó entendia isso com toda a sua humildade, conseguia enxergar longe, conseguia ter a sensibilidade que vi em poucas pessoas. 

Minha mãe, filha de uma lavadeira e de pai machão, ignorante e bronco, um caminhoneiro, sempre teve tudo o que minha avó em suas limitações pôde lhe proporcionar e começou a trabalhar aos 16 anos, nunca largando os estudos. Passou no concurso do Banco Central e lá teve a estabilidade financeira que minha avó tanto sonhou pra ela. Minha avó não queria nada pra si. Só queria para os filhos. Os ditados populares, sempre ditos por ela na hora e local certo, sempre repetidos por minha mãe, hoje são usados por mim. Cada vez que falo algo que aprendi com ela, sinto minha avó viva dentro de mim. Uma mulher lutadora, de fibra, que conseguiu criar 4 filhos, fazendo deles pessoas dignas e honestas. 

Portanto, quando li a estória que lerão abaixo, de outra mulher linda com uma visão de vida que é tão rara hoje, quando tudo o que é valorizado parece ser o volátil e o fútil, me emociono. A essas mulheres que sempre deram valor a educação, que sempre entenderam a educação como a saída para uma vida melhor, meus sinceros parabéns. Essas mulheres são as dignas de honras. À elas dedico esse post. À minha professora Claudia Mendes, meu agradecimento por ter compartilhado essa estória, mais uma entre as tantas que tive o privilégio de conhecer enquanto convivia com ela na pós. 

Com você, professora, aprendi muito!


" Minha mãe. Mulher de fibra que não teve oportunidade de ir à escola, mas nunca deixou de me incentivar. Levantava cedo e caminhava kilometros pelo meio do mato escuro para me levar ao ponto de ônibus. Muitas vezes ela caia correndo de um touro bravo que parecia viver nos esperando para ter algo diferente para fazer. Era a parte que eu mais gostava: correr do touro. E ela excomungava o coitado do animal. Muitas vezes ela se molhava e perdia a saia no meio do caminho. Outra parte que eu mais gostava, claro. No caminho, ela sempre me contava histórias que eu até hoje me pergunto se eram verdadeiras. Ela me dizia que o que ela fazia era para mim e não para ela. Dizia que queria uma vida melhor para mim e que estudar era a saída. Dizia que eu era mulher, mas que ela queria que eu fosse para bem longe para ela poder sempre ir me visitar e conhecer lugares diferentes. Não queria que eu vivesse para cuidar de marido e filhos. E eu voei. Voei para bem longe. Um dia resolvi levá-la para conhecer o lugar que ela sempre sonhou: Lisboa. Ela aprendeu tanta coisa. Aprendeu sobre a arquitetura da cidade (na foto) , a língua, a cultura e etc. Um dia, em Lisboa, ela sentada em um restaurante falou: “Quando eu ia imaginar que conheceria esta cidade? Uma pessoa quase analfabeta que nasceu em uma zona rural. Eu nunca imaginei que voaria num avião tão grandão com pessoas fazendo biquinho (em referências às aeromoças da Air France)”. Eu falei: “Educação, mãe. Você me deu educação e foi só disto que eu precisei para voar”. Ela me olhou e falou: “Então posso pedir mais um sorvete?” E ela provou todos os “sabores existentes” em Lisboa e se depender de mim, ainda provará muitos outros.


FELIZ DIA DAS MULHERES A TODOS QUE ACREDITAM NA NOSSA FORÇA! NÓS TAMBÉM MUDAMOS O MUNDO!"

quarta-feira, 6 de março de 2013

Dia de Inferno

Tem dias que você tem vontade de riscar do calendário, fingir que não existiram. Os piores dias pra mim são aqueles que começam com você achando que tudo vai dar certo. Você acordou de bom humor, foi pra academia, voltou com mais energia ainda pra ir pro trabalho e aí... Bom, aí você chegou no trabalho e suas secretárias que não acordaram de tão bom humor assim, começam a lhe infernizar por causa de umas camisetas a serem vendidas. 

Bem, eu estava calma, tentei explicar a situação com toda paciência do mundo, disse que o que ocorreu foi um fato isolado e que elas não precisam se preocupar. Tá bom. Logo depois, por causa de outro assunto muito mais importante, comecei a ficar nervosa. Comecei a pensar que o dia não seria tão bom quanto eu havia imaginado e que a barra estava pesando. Pior, quanto mais nervosa eu ía ficando, mais nervosas elas também ficavam. Quer dizer, elas que já estavam com disposição pra briga, conseguiram o que estavam procurando: um prato cheio pra começar uma pendenga. E assim foi: pendenga total, com caras emburradas e palavras desmedidas, dessas que a gente profere na hora do nervoso máximo. Aquelas coisas que a gente fala pra atacar mesmo, ferir. 

Hora do almoço. Ótimo! Pensei que melhor coisa não poderia acontecer. Almoçar em casa com meu filho, levá-lo na escola e fugir da nuvem negra que pairava sobre o ambiente de trabalho. Só que chegando em casa, encontrei minha irmã que também não estava vivendo seus melhores dias e discutimos bobamente. Sabe dessas briguinhas idiotas que começam sem quê nem pra quê e depois você fica se perguntando: como foi que as coisas tomaram um vulto desproporcional? Pois é. Um rosnado daqui, outro de lá. Sorte que logo, logo fizemos as pazes. Ok. Menos uma coisa pra azucrinar. Então, tudo bem com a irmã,  rumei de volta ao trabalho porque a coisa por lá estava feia. 

O período da tarde conseguiu ser pior que o da manhã, isto porque os secretários da tarde já estavam envoltos na atmosfera de discórdia que iniciou mais cedo e aí a coisa ficou muito louca. Berros, discussão, acusações e choro, muito choro. Lavagem de roupa suja ao melhor estilo. No final das contas, trancados na minha sala, todos se abraçaram, nos desculpamos e acabou ficando um saldo positivo. Tem que haver algo bom depois que as nuvens malévolas passam. E ficaram as lições que só os erros deixam de herança.

Ao final do dia, cansada, com dor de cabeça, o corpo tão doído que parecia que eu tinha levado uma surra, recebo o telefonema da minha irmã falando que quando foi buscar o Miguel na escola, a professora falou que colocou meu anjinho de castigo e brigou firme com ele porque ele lanhou o rosto de um coleguinha, o Guilherme. Ai, meu Deus. Falta mais alguma coisa hoje?, indaguei. Chegando em casa, fui conversar com meu filho e perguntar o que tinha ocorrido na escola. O danadinho falou que era isso mesmo, que tinha arranhado o amigo. Ainda agradeci aos céus: pelo menos não mentiu, esse pestinha. Quis saber o motivo, e ele respondeu, sem a menor cerimônia que ficou com raiva porque o Guilherme não queria emprestar o "jogo dos peixes". Ora, ora, vejam só. Meu filho, o mais egoísta dos egoístas, ficou com raivinha porque o colega não queria emprestar o jogo!! Miguel chega ao extremo de não levar brinquedos pra escola porque sabe que na escola "tudo é de todo mundo" e todos os amigos vão querer pegar seus brinquedos. Ele prefere não levar nenhuma "novidade" a emprestar. Falei pra ele que era um absurdo ele agredir o colega e que o castigo imposto pela professora foi muito bem dado. Ele disse que já tinha pedido desculpas ao amigo e fiquei torcendo pra que o rostinho do Guilherme não tivesse ficado marcado. Com que cara eu olharia pra Mariana? 

Conversa terminada, pensei: vou jantar. Estava faminta. Se tem uma coisa que nunca perco, independente de qualquer situação, é meu apetite. Ah, que maravilha comer quando se tem fome! Que comidinha gostosa... O dia poderia ter terminado alí, comigo sentada a mesa. HA HA HA. De repente, olho pro Miguel e ele está na cozinha fazendo força pra fazer coco. Cara, diz que é mentira, pensei com vontade de gritar. Perguntei a ele: "Miguel, você está fazendo coco, filho?" E ele respondeu: "Estou sim e não me olha, tá?" Ai, como assim? Falei pra ele ir cagar em qualquer outro lugar da casa, seu quarto, sala, escritório, até o meu quarto - sim, já desisti de pedir pra ele ir pro banheiro. A última coisa que eu queria era pensar que meu filho tem 3 anos e lá vai fumaça e AINDA NÃO FAZ COCO NO VASO SANITÁRIO!!! Portanto,  naquele dia valeria qualquer lugar, exceto a cozinha pra eu poder comer sem aquele cheirinho de merda tão agradável, mas ele disse que já estava terminando. Pai celeste, tem que ter estômago pra ser mãe. E não deu outra: no meio do meu jantar ele acabou de fazer o que estava fazendo e em sua cueca encontrava-se um coco enorme esperando por mim! E lá fui eu limpar bunda cagada interrompendo meu jantar. Lavei a bunda, lavei a cueca, embora a vontade fosse de jogar a cueca no lixo. Lavei minhas mãos e voltei pro meu prato de comida. Tudo como se estivesse assistindo a um intervalo da novela. Tudo muito natural.

O apetite não perco, a comida estava lá, meio fria, meio borrachuda, e eu comendo com a mesma vontade. Mas a dignidade, meu povo, já perdi faz tempo!


domingo, 3 de março de 2013

Amigos pra sempre

Tem dias em que amanheço pensando se o Miguel sabe como meu amor por ele é imenso. Nessas horas me flagro olhando pra ele e vendo esse menino de 3 anos e 9 meses ainda cheio das carinhas de quando era um bebê. Olho pra ele e me sinto boba por viver uma incoerente sensação... Sinto a incoerência de estar feliz por ver meu filho crescer saudável e cada vez mais independente e de estar nostálgica - triste, talvez? - porque Miguel a cada dia mostra-se mais do mundo e menos da mamãe. Eu sei, parece loucura. Quem entende essas coisas de mãe?

Quando esses dias de insegurança chegam, penso em como será daqui pra frente. E tudo o que eu mais quero, se esse poder eu tivesse, é que o Miguel ganhasse a certeza de que sempre terá a mim ao seu lado. Em todas as circunstâncias. Quero que ele tenha a certeza de que eu sempre serei a voz sincera que, muitas vezes, vai dizer a ele o que ele não quer ouvir. A mão que vai mostrar que o caminho escolhido não é o certo e que nunca é tarde pra voltar. Serei sempre o último beijo de boa noite, mesmo quando ele não estiver mais morando comigo e já tiver construído sua família, porque ele sempre será meu último pensamento antes de dormir. Sempre estarei ao lado pra repetir que "hoje é um bom dia pra ser feliz!".  Sempre perguntarei se tem comido direito. Serei sempre a pessoa que nunca desistirá de fazê-lo ter fé. Quero muito que ele tenha a certeza de que estarei sempre na primeira fila pra lhe aplaudir, estimular. Eu serei sempre sua fã. 

Será que hoje, com tão pouca idade, Miguel consegue sentir em seu peito esse sentimento louco que tenho dentro do meu? Será que ele sente que eu tenho por ele o maior amor do mundo, quase que uma dor que me sufoca de tanta vontade de que ele seja feliz? Feliz acima de tudo. Será que ele sabe que me sinto derreter por dentro cada vez que ele me olha dos olhos e diz que me ama? Será que ele conhece o poder que tem quando chega perto de mim e diz que sou muito lindinha? Que sou sua gostosinha? 

É maior que eu pensar se estou fazendo tudo certo...Porque eu quero ser a melhor mãe que eu puder, a melhor mãe que eu tiver forças pra ser. Quero muito ser a mãe que o Miguel precisa, a mãe que Deus confiou que eu pudesse ser.

Olho pra casais com seus filhos crescidos, pais e filhos amigos, companheiros de vida, e um desejo grande brota em mim. Fico desejando muito chegar lá. Olho pro futuro e me vejo andando de mãos dadas com meu filho, um homem maior que eu, mais forte, um ser humano melhor que eu. E nesse futuro me sinto sua amiga, seu anjo protetor mesmo que a fragilidade da velhice faça parecer que eu é que sou a protegida. Miguel foi o melhor presente que o mundo poderia ter me dado. Só espero devolver pro mundo um homem a altura do bebê que recebi. 

Pra você, Miguel, deixo minha declaração de amor:





When you're down and troubled
And you need a helping hand
And nothing, ooh, nothing is going right.
Close your eyes and think of me
And soon I will be there
To brighten up even your darkest nights.

You just call out my name,
And you know wherever I am
I'll come running, oh yeah baby
To see you again.
Winter, spring, summer or fall,
All you have to do is call
And I'll be there, yeah, yeah, yeah
You've got a friend.

If the sky above you
Should turn dark and full of clouds
And that old north wind should begin to blow
Keep your head together and call my name out loud
And soon I will be knocking upon your door.
You just call out my name,
And you know where ever I am
I'll come running to see you again.
Winter, spring, summer or fall,
All you go to do is call
And I'll be there, yeah, yeah, yeah

Hey, ain't it good to know that you've got a friend?
People can be so cold.
They'll hurt you and desert you.
Well they'll take your soul if you let them.
Oh yeah, but don't you let them.

You just call out my name,
And you know wherever I am
I'll come running to see you again.
Oh babe, don't you know that,
Winter, spring, summer or fall,
Hey now, all you've go to do is call.
Lord, I'll be there, yes Iwill.
You've got a friend.