segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Nude




Quinta-feira passada resolvi dar uma de Juliana Paes na novela Totalmente Demais: fui pra manicure com o firme propósito de pintar a unha em algum tom de nude, exatamente como a personagem usa na novela. Acho muito lindo e chique e estava com vontade de ficar rica e elegante com minhas unhas nude. Saí do salão me achando a própria riqueza, lacrando na classe.

Mas sabe o que acontece com quem nasceu pra ser colorida e resolve ser nude? Mais ou menos assim:

Quinta-feira - Nossa, amei essa cor!!! Estou muito classuda! Apaixonada!!
Sexta-feira - É... Minhas unhas até que estão bonitinhas assim, discretas...
Sábado - Essa história de nude é meio sem graça, né não??
Domingo - Não aguento mais essas unhas sem cor. Quero vermelho, azul marinho, vinho, marrom!!! Que chaticeeeeeeeee!!!!!

Agora meu estágio é: compasso de espera até chegar o dia de fazer as unhas novamente e colorir minha mão. 

Gosto de cor, de vida, de luz. Sei que o nude tem seu valor, mas não combina comigo. 

Melhor eu abraçar o fato de não saber rir socialmente (rio alto, gargalhadas sonoras e cometo ainda o pecado de jogar a cabeça pra trás de tanto rir ou bater com a mão na mesa se estiver perto de uma), também não sei falar baixo...  Sou espontânea, minha cara diz muito, até mais que eu gostaria muitas vezes. Não sou blasé, discreta, sem sal. Então, pra quem não sabe ficar em cima do muro, o nude não é a cor mais indicada. 

Não me sinto fria e nem me sinto quente. Estou morninha com essas unhas discretas e ricas. Não sou eu, definitivamente. 

Moral da história: melhor a gente não tentar ser uma pessoa que não é. Dentro da nossa pele é o melhor lugar pra estar, quando a gente aprende a se aceitar. 

E pra resumir: estou doida por um esmalte vermelho!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Mudei

Coisa boa da vida é ter amigos. E melhor ainda é ter amigos do peito, desses que são capazes de lhe falar as verdades "na lata", mesmo que doa. Detesto o que chamo de "amigo foca": aquele que só bate palma pra tudo o que você faz ou pretende fazer, sempre rindo e achando bonito, falando, na maior parte das vezes da boca pra fora, palavras de incentivo. Eu gosto de amigo que se posiciona como eu: avalia uma situação, pontua o que é positivo e levanta as questões negativas para que o amigo possa se preparar, porque já passei da fase de achar que só existem flores na caminhada e acho que amigo que é amigo mesmo gosta de chamar o outro pra realidade da vida, mesmo que não seja o que o amigo quer escutar. Quem se preocupa com o outro não fica só rindo e batendo palma pra tudo. Embora eu saiba que muitas vezes sou mal interpretada por não ser "amiga foca", gosto de me cercar de gente que se preocupa comigo e que me ajude a colocar os pés no chão quando estou louca demais. Bem... Eu tenho amigos assim e gosto que seja desse jeito. Dispenso amigo pra me dar tapinha nas costas e concordar com tudo o que faço e penso.

Essa semana, alguns desses amigos me chamaram a atenção pra uma coisa que vem acontecendo. Disseram que achavam que eu preciso fazer algo a respeito porque sou uma Paula mais mãe que mulher hoje em dia. Eu era uma Paula antes de ser mãe. Cheia de ideias de independência  e de preservação do meu relacionamento com o Namorado. Consegui colocar em prática muito do que penso ser importantíssimo para o casal durante bastante tempo: consegui viajar com o Namorado algumas vezes deixando o Miguel com minha irmã, deixava o Miguel com minha sogra pra ir ao cinema quase todo final de semana, Miguel nunca dormiu na minha cama. E tudo corria muito bem até meu bebê ter uns 4 anos, acho. Escrevo "acho" porque não sei exatamente onde as coisas começaram a mudar. Fazendo uma reflexão após a conversa com esses amigos, cheguei a conclusão que a mudança começou a acontecer depois que Miguel ficou mais antenado com o mundo ao redor, mais articulado, querendo estar com a gente, seus pais. 

Miguel é uma criança que não pensa duas vezes antes de deixar a gente pra trás se for pra sair com algum amigo ou viajar com a madrinha ou avó sem a nossa presença. É um garoto independente e acho ótimo que não dependa emocionalmente de nós, que não precise que estejamos ao seu lado para que seja feliz. O problema está em mim. Vou exemplificar. Sempre achei que viajaria sem o Miguel uma vez por ano, nem que fosse por poucos dias. Só que quando faço isso agora, sinto culpa. Porque ele não é mais um bebezinho sem noção de tempo. Ele já entende e gosta de viajar. Outro dia, conversando com ele sobre uma possível viagem, perguntei se gostaria de ficar em casa com a avó ou se preferiria ficar na casa de seu Dido e Dida enquanto nós passaríamos uns dias fora. Ele disse: prefiro viajar com vocês! Outro exemplo: sinto falta de ir ao cinema sozinha com o Namorado, mas quando vou ao cinema e ele se mostra animado pra ir, tenho dificuldade pra dizer a ele que será um momento só meu e do pai, que ele ficará com a avó. E nessa onda meu relacionamento com o Namorado vem sofrendo um pouco... E fico sem saber se adoto uma postura mais radical e morro de culpa ou se respiro fundo e vivo essa fase da vida do meu filho porque ela vai passar, e vai passar em um piscar de olhos. 

Sei que meus amigos se preocupam comigo e querem o melhor pra mim. Sei que não posso esquecer que sou mulher, a Namorada do Namorado. Não sou só mãe e sempre preguei isso, sempre defendi essa importância. Mas concordo com meus amigos de que meu discurso está distante da prática, do meu dia-a-dia. O que acontece e que talvez seja difícil de entender é que estou feliz. Sou feliz com a presença do Miguel nos meus passeios, e sou feliz quando ele não está ao meu lado porque está em outra programação por sua própria escolha. 

Não sei se estou certa ou errada, só sei que penso que logo meu filho vai preferir a companhia de seus amigos a minha. Eu vejo isso acontecendo ao redor, com os filhos mais velhos de amigos. Miguel terá seus próprios interesses, vai viajar para outros lados, terá suas festinhas, seus encontros. Sei que escolherá os filmes que vai assistir e com quem. E eu sei também que estarei sempre esperando sua volta. E eu quero viver tudo. Eu quero saborear cada momento. Não, não quero perder a Paula que namora, que ama o marido, que gosta de andar por aí de mãos dadas com o Namorado. Mas quero viver esse meu filho. Quero assistir de perto seu crescimento. E se a gente for contar, temos tão pouco tempo. Principalmente quando se é uma mãe que trabalha fora do lar. 

Quando olho pra vida da minha irmã, que sempre se doou tanto em prol das filhas, sempre trabalhou muito pra poder proporcionar o melhor pras meninas, sempre abdicou de tantas saídas a sós com o marido por elas, vejo que ela nunca cobrou das meninas nada em troca. Hoje, elas tem 12 e 16 anos, têm seus próprios interesses, suas festinhas, seus programas, vejo minha irmã voltando a namorar o marido, indo muito ao cinema, jantando juntos. As meninas estão aí, felizes. Adoram viajar em família, continuam gostando de desfrutar da presença de seus pais, mas tem sua própria agenda social o que permite que minha irmã volte a ser mais mulher. Eu fico olhando e vejo que só tenho feito o que meu coração manda. Aproveito muito os momentos em que o Miguel não está em casa, os momentos - poucos - em que estou só com o Namorado, e aproveito muito a companhia do Guel. Aproveito seu cheiro, seu abraço, sua presença. A vida é curta. E eu não quero abrir mão enquanto meu filho quiser estar comigo. 

Amigas que me amam e que se mostram preocupadas, sou eternamente grata por estarem ao meu lado. Vou procurar o equilibrio, juro. Mas, entendam: quando eu decidi ser mãe eu sabia que seria uma decisão  que mudaria toda a minha vida, que mudaria, simplesmente, tudo. Por mais que eu tivesse planos de manter várias coisas como antes, todos eles foram por água abaixo. Só que está tudo bem, eu estou feliz assim. Eu e Hugo passaremos por tudo isso juntos, tenho fé. Vamos olhar pra trás, olhando o Miguel crescido e vamos ter a certeza de termos feito um bom trabalho. Por ora, vou estar com ele enquanto ele quiser estar comigo. Sempre. Estou assumindo publicamente que mudei. Mudei, sim. Não consigo ir contra meu coração bobo. Simplesmente, não consigo agir diferente. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Tal mãe, tal filho...




Que o Miguel adora uma bagunça e que fala pelos cotovelos todo mundo sabe. As professoras, desde o Jardim I (acreditem!), já relatam essa facilidade do meu filho em se comunicar, digamos assim. Estamos na primeira semana de aulas na escola - a semana antes do Carnaval nem conta, né? - e a professora, quando fui buscá-lo na escola, já falou:

- Olha, esse bonitinho fala pra caramba!

Ok, nenhuma novidade. Eu já sabia disso.

Essa semana recomeçaram também as aulas do CCAA e no primeiro dia de aula o novo professor da turminha, já disse:

- Nossa, Paula! Como seu filho fala!

É, nenhuma novidade. De novo. Mas achei melhor conversar com Miguel antes que as coisas se compliquem. Comentei com o Namorado e ele foi logo dizendo:

- Isso é coisa da sua família, você sabe né? Lembra da Eduarda (filha mais velha da minha irmã)? Quando eu conheci você, ela tinha 4 anos. Lembra que eu a chamava de "burro falante" por causa do filme SHREK? Ela não parava de falar! Depois veio a Rafaela (filha mais nova da minha irmã) ... A mesma coisa! A garota me deixava atordoado com o tanto de histórias que sempre tinha pra contar! O genética terrível essa de vocês! E agora, temos o Miguel, Paula. Já reparou que eu chego do trabalho e mal tenho tempo de dizer boa noite? Ou perguntar como foi o dia? O garoto já sai me metralhando e se eu não pedir pra ficar um pouquinho em silêncio, acho que ele é capaz de falar madrugada adentro! Chega a me dar um desespero!

Depois dessa, falar mais o quê? Namorado tem razão mesmo. E, pra ele que é bem mais fechado e calado que eu, deve ser desesperador lidar com tanta falação.

Então, à noite, na hora em que estávamos deitados juntinhos, antes de dormir, puxei o assunto com o Miguel. 

- Filho, eu sei que conversar com os amigos é muito bom.

Miguel ficou me olhando com cara de "iiiiihhhhhh, lá vem ela!" Mas ficou caladinho aguardando o que viria a seguir. Continuei:

- Só que tem hora certa pra gente conversar com os amigos. Não pode ser toda a hora. Na escola, por exemplo, você não pode ficar falando durante a aula. É hora de prestar atenção ao que a professora está dizendo, ao que ela está explicando. Além disso, não é educado ficar conversando enquanto a professora explica as coisas. Você deve conversar na hora do recreio ou antes de entrar na sala de aula, enquanto está esperando sua professora para levar você e seus amigos pra aula. No CCAA, a mesma coisa! É preciso ficar calado na hora que seu professor Edmar for contar a historinha da lição, tem que ficar de boquinha fechada, com atenção para falar na hora em que o professor pedir, bom?

Fiquei falando esse tempo todo, explicando tudo pra ele e ele olhou pra mim e respondeu com um simples e breve:

- Tá bom. 

Na hora do menino falar, dialogar comigo, não quer. Mas quer falar durante as aulas. Ok. Entendi perfeitamente que Miguel não estava a fim de ficar rendendo a questão. Ele sabe a mãe que tem... Assunto encerrado, fomos dormir. 

Hoje cedo, quando acordei pra ir pra academia, Miguel me viu acordando e levantou atrás de mim. Perguntou onde eu estava indo e respondi. Disse que queria ir comigo pra aula de ginástica, "pra ficar mais um tempinho juntinho". Me arrumei, arrumei meu filho e lá fomos nós. Ele ficou quietinho sentado em um colchonete a aula toda, não atrapalhou nada. (Mãe orgulhosa!)

Quando estávamos já no carro, voltando pra casa, Miguel puxou conversa:

- Mãe, ontem você me falou que não posso conversar na aula da escola e do CCAA. Mas eu já sei porque eu sou assim, porque eu falo muito... 

- É , filho? Por quê? 

Miguel se aproximou do banco do motorista do carro e com seu dedinho indicador me deu 3 cutucadas e falou:

- Puxei a você, mãe! Você fala pra caramba também! Falou muito na sua aula de ginástica! 

Ainda pensei em mandar o famoso e antigo "faça o que eu digo e não faça o que eu faço" que escutei tantas vezes, mas achei que não tinha nada a ver com o tipo de educação que venho dando ao meu filho. Acredito que o exemplo seja sempre o melhor modo de educar. Por fim, meio desbundada, falei só que uma aula de ginástica é muito diferente das outras aulas e deixei morrer o assunto. Mas na verdade, na verdade mesmo, Miguel tem toda a razão. Eu falo muito e ele é igual a mim. 

Durma com um barulho desses, Senhora Paula!








quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O Fantasma da Ópera



A primeira vez que fui a Nova Iorque eu tinha 22 anos e fui com minha mãe. Era a primeira vez que minha mãe viajava para os EUA e minha segunda já que eu tinha ido a Orlando quando fiz 15 anos. 

Naquela época as coisas eram mais complicadas, antes do mundo globalizado, da internet. As meninas com uma condição melhor podiam escolher uma festa ou uma viagem a Disney e eu, lógico, nunca tive a menor dúvida e escolhi viajar. Minha mãe sempre trabalhou muito mesmo, sempre pensando em nos proporcionar o melhor que podia. O preço de uma festa de 4, 5 horas de duração, assim como hoje, é muito maior que 15 dias de viagem. Só que a experiência de uma viagem, a bagagem cultural que a ida a outro país lhe proporciona, não tem como comparar com a realização de uma festa. E eu adoro uma festa! Só que pensando racionalmente, se não se pode ter tudo, em minha opinião, a viagem é sempre a mais acertada escolha. 

Naquele ano em que viajamos juntas, não tínhamos dinheiro pra gastar à vontade. Eu sabia disso, que não daria pra gente comprar e fazer tudo o que quisesse. Só que eu queria MUITO assistir ao Fantasma da Ópera na Broadway. Muito, muito mesmo. Pra piorar a situação, dentro do avião, indo pra NY em um dos canais de música disponíveis estava tocando toda a trilha sonora do espetáculo e eu ouvi a viagem inteira. 

Em um dos dias em que lá estivemos, como minha mãe sabia que eu queria muito, passamos pelo teatro para ver o custo dos ingressos pra nós. Havia vários preços e um que parecia razoável perto do preço dos outros lugares melhores, mas que também achamos caro, custava 60 dólares. Portanto, teríamos que gastar 120 dólares para nós duas. Seria puxado. Se hoje não seria mole, imagina naquela época! Só que minha mãe na mesma hora falou pra mim:

- Filha, essa é uma oportunidade maravilhosa pra você assistir ao espetáculo que tanto deseja. Quando você estará aqui novamente? Existem coisas que não se pode deixar pra depois. Você fala inglês, eu não. Você vai aproveitar muito mais que eu... Vá você. Eu venho, trago você, dou uma volta e depois, no horário de saída do show, estarei aqui na porta lhe esperando. Já dizia sua avó: "Mais vale um gosto que três vinténs!"

Minha mãe não sabe o quanto foi especial eu ter ido a esse show. E, principalmente, minha mãe não sabe como foi lindo o gesto de abrir mão para que eu pudesse ir. O Fantasma da Ópera é inacreditável e independente de falar inglês ou não, ela teria amado. Qualquer um amaria! Arte encanta além de idiomas porque é uma linguagem universal. Alí naquele teatro lindo e enorme, vendo os artistas representando e cantando as músicas que eu conhecia de cor, eu me senti amada demais. Aquele ingresso de 60 dólares estava tão cheio de carinho, tão cheio de amor... Um amor de mãe que eu nem sonhava em entender ou alcançar a magnitude naquela época. 

Hoje eu sei o que é esse amor, eu sei do que uma mãe é capaz pra não ver um filho sofrer ou pra satisfazê-lo de alguma forma. Uma mãe abre mão de tudo por um filho, felicidade de mãe é ver filho feliz. Por isso, todas as vezes que escuto qualquer música da trilha sonora do Fantasma da Ópera, sinto-me invadida de um amor absurdo, e todas as sensações que tive sentada naquele teatro naquela noite de tantos anos atrás voltam. E a melhor de todas essas sensações que me invadem é o de ser plenamente amada por minha mãe. Eu tive e tenho uma mãe maravilhosa. E tudo o que peço é que eu seja assim pro Miguel. Eu tenho um exemplo de mãe, espero ter aprendido com a melhor. 

Obrigada, mãe, pelo ingresso de 60 dólares. E por esse amor sem medida e sem preço que recebo desde o dia em que nasci. Te amo. 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Carta para Taninha







Eu estava esperando meu luto passar pra conseguir escrever pra você. Eu não conseguiria escrever antes de hoje, porque ainda é muito dolorido lembrar que você foi embora. Sexta e sábado eu parecia um bicho estranho com olhos inchados de tanto chorar. Domingo comecei a me recompor, porque a vida segue adiante e eu não posso ficar dando lugar pra tristeza que sua falta faz tomar conta de mim. 

Na sexta-feira, seu último dia de trabalho lá em casa, eu não consegui chegar a tempo de te abraçar bem forte e me despedir. Sei que nos falamos ao telefone depois, no sábado também. Mas não parece o suficiente. Quem olha de fora pode até pensar que sou doida. Deixa pra lá. Não ligo já que muitos pensam isso mesmo. Não raro quando conto o motivo de tantas lágrimas ou da minha cara inchada dizendo que você foi embora depois de 12 anos, as pessoas falam: "Você vai arranjar outra pessoa bacana pra trabalhar na sua casa. Calma. Não se preocupe." Só que "arranjar outra pessoa pra trabalhar na minha casa" não significa nada. Achar que se trata só disso a minha tristeza, seria resumir muito equivocadamente tudo o que vivemos ao longo desses 12 deliciosos anos. 

Taninha, eu queria dizer pras pessoas que tenho certeza de que vou achar outra pessoa pra trabalhar lá em casa. Aliás, como você sabe - porque até nos ajudou com isso - a Katia já está lá e, se Deus quiser, dará tudo certo. Eu queria dizer pras pessoas que as lágrimas que insistem em pular dos meus olhos não tem nada a ver com quem trabalha ou deixa de trabalhar lá em casa. Minhas lágrimas tem a ver com amor, respeito, tem a ver com gratidão, alegria por ter tido você em nossas vidas. Minhas lágrimas tem a ver com saudade. 

Como resumir nossa história ao fato de ter ou não alguém trabalhando lá em casa? Eu sei. Tem gente que não se envolve, tem gente que não permite que o relacionamento empregador/empregado extrapole as barreiras que a formalidade dessa relação imprime. Muitos preferem ficar só na superfície, alguns tem medo de se envolver mesmo, outros não acham que vale a pena. Só que não é o meu caso e nem o da nossa família, não é, Taninha? A gente se envolve, a gente mergulha na vida de quem cruza nosso caminho e se apega. Como viver a vida sem se apegar? Sem amar? Como viver a vida cheia de barreiras, de muros de proteção? A gente não aprendeu a ser assim, não aprendemos a "nos resguardar", diriam alguns. A gente mergulha nas relacões e vive com a mesma intensidade a beleza de um relacionamento e o sofrimento de uma separação. Você é uma filha pra minha mãe. Você é família pra nós. Você é mãe não só do Breno e da Eduarda, como também do Miguel, Duda e Rafa. Como não chorar pela distância física que haverá, inevitavelmente, daqui por diante? 

Você é uma mulher muito lutadora, que veio da Bahia e conquistou muito aqui na cidade maravilhosa. Seu marido tinha carro, você comprou sua casa própria, tinha todo o conforto possível que eletrodomésticos e móveis podem oferecer. Se ajudamos você a conquistar tudo isso foi porque você sempre mereceu. Nós vivemos uma relação de troca por 12 anos. Era via de mão dupla, como qualquer relacionamento sadio deve ser. Você gargalhou com a gente e chorou também. Histórias suas estão impregnadas nas paredes da casa onde você ficou por 12 anos. Uma casa que você conhece tanto e tão bem que se fosse por conhecimento talvez ela fosse mais sua que nossa. Histórias nossas estão trancadas em seu coração hoje. Você leva um pouquinho da gente com você, onde quer que vá.

Seu cuidado com minha mãe - a mulher mais reclamona do mundo e também a com o coração mais gigante - não se paga. Seu carinho e paciência, primeiro com as filhas da Sis e depois com também seu bebê, Miguel, não dá pra mensurar. Muitas vezes, quando eu chegava em casa à noite era chamada de "Tania" pelo Miguel. E quer saber? Eu respondia sem corrigí-lo porque sabia que o carinho com o qual meu filho me chamava de "Tania" era o mesmo se tivesse me chamado de "mamãe". Aposto que várias vezes Miguel a chamou de "mãe". Sem nenhum ciúme, lhe falo isso. Sempre fiquei muito feliz por ter alguém em casa por quem meu filho tinha verdadeiro amor. Isso é um alento pra uma mãe que sai de casa, você sabe disso. Era como se um anjo ficasse tomando conta dele. 

Por tudo o que vivemos é que lhe digo que talvez ninguém entenda esse amor que nos une. De verdade, nem tento explicar porque certas pequenezas humanas não acrescentam nada a ninguém. Tem coisas que é melhor só sentir mesmo. Por isso é que, mesmo tendo conseguido lhe agradecer por tudo e pelo tanto que você fez por nós, eu acho que ainda falta eu dizer alguma coisa. E eu resolvi escrever pra poder lhe dizer isso. 

Sabe, Taninha, quando a gente diz pra uma pessoa que acabou de conhecer "prazer em conhecê-lo"? Pois é, pense na profundidade dessa frase que muitas vezes dizemos automaticamente, sem pensar muito nela, apenas respeitando uma convenção social. Pra quantas pessoas dizemos essa frase sem sentirmos real prazer? Agora mesmo, se você tiver que me dizer duas ou três pessoas para as quais você poderia encher o peito e falar do prazer que foi ter essas pessoas em sua vida, por tudo o que viveram juntos. Quem seriam essas pessoas? 

Acredito que poucas, se levarmos não apenas uma ou outra situação isolada em consideração. Quero que pense na beleza que é ter alguém em sua vida por anos e ver que todos esses anos de convivência foram uma dádiva, uma presente dos céus. Então, por pensar nessa nossa história de 12 anos, por pensar no momento em que a estrada por onde a vida da sua família andava cruzou com a estrada onde andava a minha família, por pensar que somos hoje uma família só, é que lhe digo com toda sinceridade que há no meu coração chorão e bobo:

- Taninha, QUE PRAZER IMENSO, ABSURDO, DESMEDIDO, FOI CONHECER VOCÊ! 

Mil vezes obrigada por tudo! Obrigada por existir! Fique com Deus. Seja feliz. E volte quando quiser. Sua família carioca estará sempre a lhe esperar.