sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Carrots, tomatoes, potatoes ...




Minha visita à sala de aula do Miguel foi muito legal! Dizer que fiquei nervosa parece lugar comum pra uma pessoa que, mesmo sendo professora desde os 20 anos de idade, sempre fica nervosa antes do primeiro dia de aula. Sempre tive um frio na barriga antes de entrar na sala pra conhecer uma turma nova e acho que isso não mudará com o tempo. Então, imagina que eu estava naquela responsabilidade de fazer uma coisa que agradesse a todos e, ao meu maior crítico, meu filho. 

Escolhi uma histórinha bem simples de um avô que vai com o neto ao mercado pra comprar cenouras, tomates e batatas. Aproveitei pra falar que eles moravam em um país diferente do nosso e que falavam outra lingua. Estevão teve logo uma história pra contar de alguém que ele conhece que não fala inglês e que não entende nada que os outros dizem. Aninha disse que sabia cantar uma  música em inglês. O Enzo me mostrou logo que sabia também algumas cores em inglês, assim como a Ana Elíria e o Leo. Cada um com seu jeitinho, tornaram a aulinha muito especial. As duas Sofias, assim que eu cheguei e estava arrumando as coisas pra começar, se jogaram no chão pertinho de mim e levantaram minha calça comprida pra olhar a tatuagem que tenho no pé e que estava escondida pela sandália que eu estava usando. Depois, todos se sentaram em roda junto comigo e ninguém quis sair antes de ter participado e respondido uma perguntinha pelo menos. A Pietra estava mais quietinha, mas respondeu tudo certinho. A Bruna olhava pra mim sempre sorridente.  

Ensinei, também, durante a historinha, a contarem de 1 a 3. Antes de ensinar a musiquinha que era bem simples e que tinha apenas as 6 palavrinhas que aprenderam, fiz algumas atividades pra fixar melhor as palavras e pra descontrair. Quando chamei o Renan pra participar, lá veio ele com aquela carinha gostosa ... Ai, que vontade de apertar! Respondeu baixinho mas tudo certo! Henrique esperou calmamente a vez dele e respondeu sem pensar muito quando perguntei quantos tomates apareciam no meu cartaz: "Three tomatoes!" Felipe e Eduardo não se aguentavam de vontade de que chegasse a vez deles logo, levantaram o braço várias vezes pra serem escolhidos a participar. Ryan repetia, insistentemente: "Eu ainda não fui! Eu ainda não fui!". Só sossegou quando o chamei. Nicole e Gabriela são uma graça, esperaram quietinhas a vez chegar. O Victor falou "carrot" tão bonitinho que deu vontade de colocá-lo no colo! E o Guilherme? Gente, que garoto todo fofo e responsável. Parece até mais velho que os outros porque parece mais maduro, sabe? Se comporta como um homenzinho. Uma pena o Pedro e a Laura não estarem presentes. 

Nossa, como essa turma do Miguel é cheia de crianças lindas e inteligentes. É, realmente, um presente pra qualquer professor! Como a Grazieli diz, são meninos e meninas cheios de vida, muitos perspicazes, carinhosos e espertos. E são muito participativos e receptivos a tudo o que é proposto. Ninguém se nega a participar, ao contrário, todos querem responder, mostrar que estão ali, observando tudo. Sempre com carinhas muito felizes e sorridentes. Uma coisa posso afirmar: a pronúncia deles foi muito fofa!! Repetiram tudo muito certinho! Prova de que aprender cedo é muito bom e fácil!

Na hora da música, todos cantaram direitinho e o Estêvão foi logo levantando pra começar a dançar. Miguel estava muito feliz. Com cara de orgulho e um pouco metidinho por ter chegado, finalmente, a vez de ele ter a mãe perto dele na escola. Quando acabamos de cantar bem alto a música depois de várias vezes, Miguel pegou os cartazes que levei e ficou me imitando, fazendo com os amigos o que eu havia feito antes. 

Pra terminar, levei um bolo de cenoura porque tinha tudo a ver com a história que contei do menino que não gostava de comer cenoura. A vovó dele, então, pedia sempre pro vovô comprar as cenouras no mercado pra que fizesse o bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Contei pra eles que o bolo era o bolo da vovó do Bill (menino da história) e todo mundo comeu e repetiu! Além de lindos, eles são gulosos também! Manuela ficou passando a mão nos meus cabelos enquanto Grazieli organizava a saída. E ainda disse que meus cabelos são lindos!  

Saí de lá com uma sensação gostosa de dever cumprido e ainda ganhei desenhos de todos da turminha. Miguel ficou muito feliz e eu mais ainda. Meu filho tem muita sorte de estar em uma turma com tantas crianças gostosas e educadas. Eu espero que a amizade deles dure uma vida porque todos são muito especiais. Só posso agradecer a chance que tive, dizer que foi muito divertido e deixar claro que eu ensinei muito pouco perto do carinho que recebi! 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Pais na escola

A escola do Miguel tem uma filosofia muito legal de integrar sempre os pais e alunos dentro da escola. Por isso, eles sempre convidam os pais das crianças para marcarem um dia e desempenharem uma atividade dentro de seu ramo de atuação profissional ou não (pode ser algo que saibam fazer) para desenvolver junto com as crianças da turma. Minha irmã é nutricionista e já foi várias vezes pra falar de alimentação saudável, meu cunhado já fez experimentos químicos. Na turminha do Miguel já teve pai indo tocar violão pras crianças, pais dentistas falando sobre a importância da higiene bucal, pais que foram contar histórias e, é claro, muitos pais fazendo bolo, pão, sanduíche natural.

Há muito tempo Miguel me pede pra ir na sala dele pra fazer alguma coisa. Ele vê tantos pais indo e gostaria que eu fosse também. Só que eu imagino que as professoras devem me ver sempre na correria e evitam ficar me pedindo pra marcar um dia pra ir, afinal, elas não devem querer complicar ainda mais minha corrida rotina. Só que eu sempre quis ir e já tinha me voluntariado no ano passado (sem ser convocada) e continuei me voluntariando esse ano. Acho que, no fundo, tenho uma necessidade de mostrar que sou capaz de dar conta de tudo, sabe? De trabalhar, de ir na escola, de ser tão participativa na vida do meu filho como qualquer outra mãe que não trabalhe fora de casa. Mas minha culpa de mãe que trabalha fora é assunto pra minha terapia. Voltando ao foco do post, finalmente, chegou a minha vez: essa semana, na quinta-feira, é o dia da minha visita à turminha do Miguel. 

Acontece que algo está me preocupando. Como sou professora de inglês, nada mais coerente que procurar ensinar alguma coisa nesse idioma. Vou contar uma história, ensinar, dentro do contexto da história, algumas palavrinhas em inglês e vou ensinar uma musiquinha também. Só que Miguel quando soube que eu ia, perguntou se eu iria fazer pão de queijo na sala de aula. Oi? Como assim, pão de queijo? Respondi a ele que não e expliquei o que faria. Ele não gostou muito. Disse que queria mesmo que eu fizesse pão de queijo pra ele e pros amigos. Deixei pra lá.

Na semana passada, quando ficou acertado o dia e horário pra eu ir até a escola estar com as crianças, Miguel veio com o papo, novamente, de qual a comida que eu vou fazer na sala de aula. E me pediu pra fazer um bolo de chocolate. Ai, meu Deus... Expliquei tudo de novo e ele ficou calado. Resolvi falar com a professora pra conversar com ele, porque do jeito que a coisa está indo, muito provavelmente vou chegar na escola toda feliz pra ensinar uma musiquinha em inglês e ele vai ficar frustradíssimo porque, na verdade, o que ele quer é que a mãe faça alguma comida assim como todas as outras mães. 

Quando Miguel chegou da escola na sexta-feira passada, perguntei se a Grazieli tinha conversado com ele a respeito do tema do meu encontro na escola. Ele disse que sim e que ele ficará muito orgulhoso de mim e que vai me cobrir de beijos. Achei fofo, fiquei até mais tranquila. Até que... No final da conversa, depois de ficar caladinho por uns 2 minutos, Miguel virou-se pra mim e disse:

- Mas, mamãããããaee...... Você não poderia fazer, TAMBÉM, um bolo de laranja?????

Quem aguenta uma coisa dessas? Eu sou uma das únicas mães que não fará algo de comer pras crianças, serei diferente e tudo o que meu filho quer é que eu seja igual a todas as outras. E agora, José? Bom, decidi que vou fazer a atividade que sei fazer e que, no final, vou servir um bolo de laranja. Acho que, assim, conseguirei agradar a todos. Depois eu conto como foi. Que Deus me ajude!!

sábado, 23 de novembro de 2013

Presente pra mim



Nenhum pai ou mãe gosta de escutar queixa dos filhos. Embora a gente saiba que é inevitável, nossos filhos fazem ou farão besteira em algum momento da vida - ou em vários -, mas ouvir de terceiros que o filho fez uma coisa errada é sempre algo constrangedor ou frustrante. Eu tento pegar essas oportunidades e transformá-las em caminhos para mostrar o certo e o errado, para entender o que passa pela cabeça do meu filho. 

Não posso me queixar do Miguel: sei que é levado, não é santo, mas é um garoto que já mostra saber o que é respeito. Ano passado, a professora do Jardim I - a querida Chris - falou comigo e com o Hugo umas 3 vezes por conta do uso de palavrões em sala de aula. Morri de vergonha, o Namorado ficou com cara de pastel murcho,  mas com a ajuda dela e a gente mais em cima com relação a isso, esse problema não acontece mais. Pelo menos, não esse ano. Miguel ainda fala palavrão e acho que não vai parar de falar tão cedo uma vez que escuta muito em casa. Eu sei, eu sei... Isso não é um bom exemplo. Mas o que tento passar pra ele é que até pra falar palavrão precisamos ter inteligência. Precisamos saber onde e quando empregar um palavrão. Como escuto Miguel falar palavrão de vez em quando, acredito que ele tenha aprendido que escola, definitivamente, não é lugar para soltar seu vasto repertório de palavras feias. 

Há alguns dias, conversando com uma grávida muito querida, recebi um dos maiores presentes que uma mãe pode receber. Não sei se essa pessoa tem noção do bem que me fez e do quão emocionada eu saí daquele encontro com ela... E estou aqui pra deixar claro isso, pra agradecer por suas palavras. 

Essa minha amiga está grávida de um menino, está com um barrigão enorme, lindo. E, conversando com ela a respeito disso, sobre as expectativas que as mães têm antes do nascimento de um bebê, eu recebi um presente sem tamanho quando ela disse pra mim que gostaria que o bebê dela fosse como o Miguel. Fiquei surpresa e resolvi perguntar porquê. E ela respondeu:

- Paula, eu gostaria que meu menino fosse como o Miguel porque seu filho é um garoto levado, sim, mas é extremamente educado, respeitador, pede desculpas quando erra (mesmo que faça de novo a besteira depois...). É um menino muito carinhoso e, principalmente, é um garoto que resolve suas coisas sozinho, não solicita ajuda o tempo todo, é muito "safo" e não chora por tudo, nem quando brigo sério com ele! Ele aguenta firme e procura resolver suas questões sem fazer queixa dos outros a todo instante. Por isso tudo é que eu gostaria que meu filho fosse como o Miguel.

Não chorei na frente dela, me segurei. Mas meus olhos ficaram marejados e saí dali pisando em nuvens de tanta felicidade e cheia como um balão de gás de tanto orgulho. Mãe, definitivamente, é o ser mais bobo que existe no planeta. E também o mais especial.

Sei que ainda vou ouvir a respeito de muitas vitórias do meu filho, assim como estou me preparando para ouvir muitas derrotas e tropeços. Estarei ao lado dele para ajudar, apoiar, tentar mostrar o caminho. Mas, por hora, só quero agradecer a essa futura mamãe pelo momento feliz que proporcionou-me dizendo isso. Ela poderia ter guardado pra ela... Talvez ela não saiba o quanto me fez feliz. Quero agradecer muito aos céus pelo presente que veio do meu encontro com o Namorado: esse menino levado e fofo. E, sem falsa modéstia, quero dizer pra minha amiga que eu acho que ela tem toda razão de querer ter um filho como o meu Miguel!!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Amor incondicional

Eu não conhecia esse tal de "amor incondicional" até ser mãe. Sempre acreditei que pra todo sentimento deve existir uma via de mão dupla. Mas com filhos a coisa é diferente mesmo. Esse amor que dá, dá e dá de novo, sem esperar nada. É claro que a gente fica feliz quando ganha uma retribuição... Que pode ser um sorriso. Feliz quando ganha um beijinho. Feliz quando ganha um abraço apertado. E, assim, descobrimos que a felicidade mora em coisas tão pequenas. E descobrimos que essas coisas simples são as que mais valem. E nos descobrimos melhores e mais fortes, lutando pra sermos especiais.

Ter decidido ser mãe foi uma das melhores coisas que fiz em minha vida. Quanto aprendizado, quanta batalha, quanta descoberta. Vivo uma luta diária pra deixar aqui um homem lindo, do bem, com uma energia gostosa de sentir. Eu e o Namorado lutamos muito contra nossa condição humana e, é claro, contra nossos muitos defeitos, para sermos bons exemplos pra nosso filho. Lutamos para que, um dia tendo asas, Miguel voe livre, mas que saiba que terá em nós seu porto seguro. Minhas orações são para que mesmo adulto ele saiba que em meus braços ele sempre encontrará conforto. Que em meus beijos ele tenha sempre um gosto doce quando a vida ficar azeda. Que em meu colo ele se sinta aquecido quando lá fora estiver frio. E que, ao meu lado, ele tenha a certeza de que o amor é o melhor caminho pra essa vida louca. 

Assim, nesse sentimento constante de conseguir criar meu filho pro mundo, mas mentalizando e desejando muito que nossos corações se mantenham sempre coladinhos, é um alento e uma inundação de esperança para mim saber o que aconteceu ontem com minha amiga Leticia e sua Isabella. Isabella é a filha da Lê, mulher feita, linda por dentro e por fora, criada nos moldes que aplico ou que tento aplicar em casa. É maravilhoso saber que o amor dá certo. E vou dividir com vocês, mães que têm as mesmas preocupações que eu, a mesma vontade de ampliar os horizontes de nossos filhos rezando para que eles nunca deixem de ser nossos. Sim, pra sempre nossos bebês. Deixo com vocês as palavras da Letícia...

A bebê da Letícia



"Eu acompanho a luta, o prazer e a dedicacao das minhas amigas que tem filhos pequenos atraves do facebook. E tambem acompanho a preocupacao delas em como cria-los para serem bons seres humanos, independentes, dignos, mas que mesmo tendo crescido nao percam a essencia de serem sempre os seus bebes.
Bebes com asas, porque uma hora terao alcado voos, mas bebes!! E hoje aconteceu uma coisa que me levou a esse momento!!!
Minha filha estava agoniada e nao conseguia dormir. Ai, me pediu pra deitar do lado dela na cama so para ela ter a paz necessaria para pegar no sono...Sem nenhum tipo de vergonha ou qualquer outro sentimento...So queria a mae, a confianca, o amor e o carinho!!!
Como cantar boi da cara preta seria assim...sei la...,kkkkk cantei baixinho "como nossos pais" e ela foi pegando no sono ate que dormiu nos meus bracos.
E eu? Ah, eu? ....Eu agradeci a Deus por te me dado esse momento lindo e vim aqui com os olhos cheios d'agua dizer a voces que continuem se preocupando com isso sim, porque eh possivel."








quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Miguel e o Papai Noel






Com toda a minha chateação e correria por causa do furto do meu celular, até esqueci de comemorar o fato de que meu filho, finalmente, tem foto com o papai Noel!! 

Pois é, depois de tentantiva após tentativa em todos os Natais de sua existência, conseguimos que Miguel se aproximasse do bom velhinho. E isso aconteceu no fatídico dia do furto do celular. Aliás, fui ao Rio Design Barra especificamente com essa intenção: a de tentar tirar a tão esperada foto. Por sorte, tiramos com o celular do Hugo porque se tivesse sido com o meu, além de perder o aparelho teria perdido as tão esperadas fotos. 

Realmente, toda criança tem seu tempo e precisamos esperar esse tempo. Miguel nunca quis se aproximar do Noel e sempre respeitei, mesmo querendo tanto ter a foto do meu bebezão com o gordinho barbudo. O que mais vi, enquanto estava na fila, foi criança berrando por não querer tirar a foto e pais insistindo e, pior, colocando as crianças a todo custo no colo do velho. Aí pergunto eu: a foto fica uma beleza, né? A criança com aquele bocão aberto, olhos fechados chorando estericamente, morrendo de medo e desconforto por estar com quem não quer, onde não deseja. Foi muito bom eu ter passado os outros quatro Natais sem foto do Miguel com o papai Noel, foi bom eu ter dado tempo a ele. Dessa vez foi bem simples. Miguel ficou na fila sem medo e não só tirou a foto como conversou com o papai Noel pra fazer suas muitas recomendações a respeito dos presentes de Natal. 

Eu fiquei bem orgulhosa do meu homenzinho. Esse Natal não vai ser igual àqueles outros quatro que passaram... Que delícia!! Feliz Natal!

domingo, 17 de novembro de 2013

Tchau, celular.

Miguel tinha 6 meses a última vez que havia sido assaltada. Com ele em meus braços e o ladrão arrancando minhas pulseiras de ouro, não me senti perdendo nada porque meu filho continuou no meu colo e ele é o que há de maior valor na minha vida. Vi o perigo, olhei nos olhos dele, vi sua cor, seu tamanho, e o vi também se afastar de mim. O consolo foi imediato.

Dessa vez, me senti muito estranha, triste até. É difícil digerir alguém tirar algo de dentro da sua bolsa enquanto você está distraída pegando seu filho no parquinho pra levar ao banheiro. Assim, sem você ver nada, sem saber como foi que a pessoa conseguiu enfiar a mão na sua bolsa sem você notar, fazendo você se sentir uma idiota estúpida. Mais difícil ainda é você saber que seu celular furtado está no mesmo local que você, que o satélite mostra que vocês continuam no mesmo endereço, e não conseguir recuperá-lo porque ninguém tem boa vontade pra isso. Ficar mais de uma hora mostrando pra segurança do shopping as imagens do rastreamento dos celulares, meu e do Namorado, uma imagem atualizada a cada 30 segundos, prova de que o objeto do furto continuava alí, pertíssimo de nós e não ter ajuda de fato, é desgastante. 

Ficamos 1 hora e 30 minutos tentando, sem sucesso, que o gerente da loja, pelo menos, investigasse. Nada. Até me coloco no lugar dele, enxergo sua posição difícil quando todos os funcionários diziam que não tinham visto nada, mas meu celular estava ali. Ainda pedimos pra que observassem as câmeras do shopping - havia uma exatamente no local onde tudo aconteceu - e a pessoa responsável apenas nos disse que nas imagens não viu nada demais. Como haveria de ver algo demais se em nenhum momento perguntou pra confirmar se a vítima em questão era essa loira aqui, vestida com camisa e calça brancos? Quando perguntamos se nós poderíamos ver as imagens, disseram que apenas com ordem judicial. 

Enfim, depois de 1 hora e 30 minutos, indo de um lado pro outro feito barata tonta, falando com Deus e o mundo pra tentar que alguém nos ajudasse, desistimos. Miguel já estava cansado e com fome, sorte a nossa minha sogra ter nos acompanhado nesse "passeio". Miguel, definitivamente, é uma criança muito boa. Aguentou firme o tempo todo, andando com minha sogra pra lá e pra cá, esperando que aquela novela tivesse um final feliz. Saí do Rio Design Barra deixando meus dados no concierge para que me devolvessem o aparelho se alguém o encontrasse. Queriam que eu realmente acreditasse que eu estava vendo imagens de satélite de outro mundo e que meu celular não estava dentro do shopping.

No dia seguinte, fui tentar comprar outro celular, afinal como ficar sem comunicação quando se tem tanto pra fazer todos os dias? Mas acabei optando por comprar o aparelho pela internet porque o preço estava melhor. Ficar sem celular por 1 semana não será o fim do mundo. Fim do mundo é você se sentir culpada por não ter prestado atenção a tudo. Fim do mundo é você repassar a cena milhões de vezes na sua cabeça tentando entender onde poderia ter feito diferente. Fim do mundo é me sentir impotente diante de tanta gente ruim que existe na Terra e, pior, tanta gente sem disposição pra lhe ajudar, de verdade. 

Quando entrei em casa vinda da rua sem o celular novo nas mãos, a primeira coisa que o Miguel perguntou é se eu já estava com um telefone novo. Falei pra ele que não, que não tinha encontrado pelo preço que queria pagar. Na mesma hora, Miguel me disse: 

- Mamãe, não fica triste, não. Hoje eu vou pro shopping e vou comprar um celular bem legal pra você, muito lindo e cheio de brilhos, do jeito que as meninas gostam, tá?

Agarrei meu filho na hora. Cobri essa criança fofa e linda que Deus me deu com muitos beijos e apertos. E, ao mesmo tempo em que agradeci a Ele por ter comigo o que realmente vale ouro pra mim, a única coisa que não poderia comprar em uma loja por dinheiro nenhum do mundo, sinto-me melancólica por ter posto no mundo um serzinho tão especial e que terá que aprender que essa vida terrena não é pra quem fica de bobeira, não. Viver aqui é muito sinistro. O buraco, como diz minha mãe, é muito mais embaixo. E isso preocupa o coração de qualquer mãe. 

Só posso pedir a Deus que proteja meu filho e que me dê forças para fazer dele um homem correto, mesmo cercado de tanta porcaria que existe no mundo. E que Deus me dê forças pra mostrar que vale a pena ser justo, ajudar ao próximo, fazer a nossa parte independente de não receber nunca nada, nem ao menos um "obrigado". Que Deus me abençoe e me faça forte para ensinar a meu filho que não devemos mudar nossas atitudes retas porque o mundo está torto. E rezar, rezar muito, para que isso seja suficiente.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Minha amizade cor de rosa

Rafaella - Deo com Miguel no colo - João


Se tem uma coisa na qual acredito nessa vida é na amizade, no amor. Até porque amizade é amar, né? Não adianta as pessoas falarem pra mim que amizade acaba com a distância, com brigas, com desavenças porque eu acredito mesmo que quando duas pessoas se gostam e estão dispostas a aprender uma com a outra, a amizade resiste, sim, a muitos acontecimentos da vida da gente. 

Eu tenho algumas amizades especiais. Amigos que fiz quando era menina ainda e que estão no meu coração até hoje. A gente pode não se ver sempre, mas quando se encontra é como se a distância não tivesse existido. Amigos de faculdade. Amigos queridos que fiz trabalhando junto. Tenho amigos que já conhecia na vida real e que vim a conhecer melhor pela internet. Amigos que fiz em viagem. 

E aí as pessoas podem pensar que isso não é amigo, que amigo é aquele que está junto todo dia e tal. E eu discordo disso veementemente porque eu estou junto todo dia de várias pessoas por quem não tenho um sentimento tão bacana e gostoso quanto o que tenho por 2 amigos que fiz em minha viagem pro Chile com o Namorado. Sabe quando a gente bate o olho e se identifica? E um minuto depois está dando gargalhadas das mesmas situações sem que ninguém precise abrir a boca? Dessa empatia inicial pra conversas mais sérias a respeito da vida em geral e das nossas vidas, foi um pulo. Não foi Vinicius de Moraes que disse que "a gente não faz amigos, reconhece-os"? Taí uma coisa que bate muito certo pro meu coração.

Uma das grandes amigas que tenho é a Deo. Ela é minha amiga cor de rosa. Sempre será. Isso porque a conheci  no primeiro dia de faculdade, em uma sala de aula da Universidade Gama Filho, em 1989. Novinhas, cheias de inseguranças e sonhos, com um mundo se abrindo na nossa frente, nos encontramos. Melhor, a Deo me encontrou. 

Entrei na sala de aula atrasada e a turma já estava acomodada. Havia uma carteira vazia na parte de trás da sala e outra ocupada pela Deo. Estávamos na última fileira, separadas por uma distância considerável. Sentei e fiquei quieta. Quem chega atrasada não pode fazer muito estardalhaço, né? Mas não tinha como não notar a presença daquela garota enorme de 1,82 de altura, magra com pernas sem fim, toda vestida de cor de rosa. Dos pés à cabeça. Enfeite de cabelo rosa. Tenis rosa. Meias também. Bermuda rosa e blusa rosa. Meu Deus! Quanto mais eu observava com o canto do olho, mais eu me espantava. Pensava que ela devia ser louca pra ter coragem de vir pra universidade assim, como quem vai pro jardim de infância. Estojo, caderno e canetas cor de rosa também. Mochila rosa!! E não era rosa pink, não. Era rosa bebê. Um mulherão que brincava de se vestir de boneca. Só que a Deo sempre soube muito bem o que queria e o que fazer pra conseguir alcançar seus objetivos. Dane-se se a indumentária era de uma frágil mocinha. E, do seu jeito decidido, a Deo puxou a carteira pra perto da minha e, sem mais nem menos, aquela criatura loura, branquinha e cor de rosa, se apresentou: 

- "Oi! Eu sou a Andrea! Qual o seu nome? É seu primeiro dia de aula, né?"

Pronto. Não nos largamos mais. Lá se vão quase 25 anos e separadas pelos endereços - Deo mora em Sampa já há alguns anos - seguimos unidas por uma vontade imensa de ver a outra feliz. Hoje, quando olho para aqueles dias de tantas aulas, tantos trabalhos em grupo, o que fica são nossas caminhadas pelos corredores da Gama, sempre juntas, nossas gargalhadas sem fim, nossos ataques de idiotice, os muitos bilhetes trocados em aula, o nervoso pra provas, o deboche sutil que só a gente sabia fazer.  

Passamos muita coisa, conhecemos maridos e ex-maridos uma da outra, passamos por perdas, comemoramos nossas vitórias. Somos mães. Quando Miguel estava na UTI e eu não aguentava mais vir pra casa sem trazer meu filho, foi pra ela que liguei chorando e, como ela não pôde atender, foi em sua caixa postal que deixei o recado mais louco que ela já recebeu, um recado que deixei chorando desvairadamente , dizendo que não suportava mais ver meu filho naquele hospital. Foi pra ela o desabafo de mãe que quer ter seu filho nos braços em sua casa. Tirando o Namorado, foi só pra ela que desmoronei. 

Somos mulheres que trabalham, que fazem acontecer. Somos donas da nossa história. Não nos falamos todos os dias e não há cobranças. Graças à Deus, a Deo entende que eu não sou de ficar falando todo dia. A gente se respeita e acho isso bonito. Fico pensando que, de repente, ela até gostaria que eu ligasse mais e tal, mas só o fato de ela não ficar reclamando disso comigo, já me mostra que respeita meu jeito. A Deo tem um coração enorme, proporcional a sua altura. Mulher grande, inteligente e com um jeito doce de falar. Mas tem gênio e é melhor não brincar muito com a paciência dela. A gente se aceita bem. Deo não fala palavrão e sempre me aturou falando um monte deles. Ela é muito família, canceriana, quer atender a todos, conciliadora. Eu sou mais pipa voada, geminiana, digo o que não quero e quero na hora, direta. Somos amigas. E, pra mim, Deo será sempre a menina de cor de rosa. Minha única amizade que tem cor. 


sábado, 9 de novembro de 2013

Louca, eu?



Eu não entendo como pode ser tão frequente, nos dias de hoje, o preconceito em relação à psicoterapia. Todos acham importante cuidar da saúde, mas quando tratamos de saúde mental parece que o assunto muda o rumo. É óbvio que tratando-se de qualquer doença do corpo, por ser algo concreto, é mais fácil de entender. As doenças da alma, do mental, são abstratas. Não são mostradas em radiografias ou ressonâncias. E aí é que a coisa complica. O ser humano ainda tem dificuldade em aceitar o que não pode ver. Ainda tem muito "São Tomé" por aí.

Já começa pelo próprio paciente que demora muito pra buscar ajuda porque não quer escutar o que muitos dizem: "não fique procurando problema onde não tem", "vai lavar um tanque de roupa suja que você esquece rapidinho seus problemas", "terapia é coisa de doido", "pra quê terapia? Eu tenho amigos", "se tranca no quarto e grita um pouco que passa", "só você mesmo pode se ajudar", enfim... São tantas as frases que eu ficaria aqui escrevendo interminavelmente. Só que pensar assim é desmerecer muito os profissionais de psicologia, é desmerecer anos e anos de um estudo sério. Acredito que também seja desmerecer nossa própria complexidade. É dedicar pouco tempo ou nenhum tempo a si mesmo. Muitos preferem se vitimizar, estão sempre se colocando em uma posição de "tudo acontece comigo" ou "sou sempre perseguida em todos os lugares", a agarrar as rédeas da própria existência e tomar conta do que há de mais precioso: nossa vida.

Como tudo no mundo, a terapia só vai ajudar a quem quer ser ajudado. Pra que ir ao divã se você não tem vontade de melhorar? Terapia não é igual a qualquer outra consulta médica quando vamos esperando receber um nome de doença, um diagnóstico, uma lista de remédio pra tomar e, pronto, ficarmos curados. Terapia dá medo. Porque terapia é um mergulho dentro da gente. É começar a olhar de frente pra nossos defeitos, nossas inseguranças, nossas faltas, nossas falhas, nossas angústias. E, olha, tenho que dizer que é MUITO difícil. Perdi a conta de quantas vezes saí da terapia chorando. Perdi a conta de outras tantas vezes em que saí do consultório com uma pergunta deixada no ar que me martelava a mente, por dias, até, então, surgir a resposta de dentro de mim. Perdi a conta de quantas vezes não aguentei contar uma história sem chorar, ou sem me exaltar. Terapia mexe e remexe com você,  com seus conceitos, seus preconceitos, com suas "verdades", suas crenças. E é difícil pra caramba encarar isso. É doloroso até.

Não viver iludido é complicado a príncipio. Enxergar as coisas sem o véu da ilusão é espantoso, mas é muito libertador. É uma sensação de leveza enorme, como se você não tivesse mais amarras, como se não dependesse mais de certas coisas ou de sentimentos pra ser feliz. Quando a gente se compreende melhor, passa a entender o outro também. Passa a exigir menos do próximo porque entende que essa pessoa (seja amigo, mãe, irmão, funcionário, chefe, marido, namorada) tem suas próprias questões e conflitos e que, na maioria das vezes, certas atitudes, simplesmente, não são algo pessoal. A terapia ajuda a nos encontrarmos com a gente mesmo, promove uma consciência mais ampla, nos faz entender nossas reais necessidades e motivações. E isso é maravilhoso. Acredito que muitos consigam esse desenvolvimento de outras formas ou sozinhos, mas a terapia é um caminho muito rico a ser trilhado. Pra mim, foi como acender a luz sobre mim mesma. Sabe quando a gente se olha em um espelho enorme, com aquela luz branca forte que faz a gente ver todos os buracos, estrias, celulites e marcas? Pois é. Pra mim foi mais ou menos isso que aconteceu.

Não sou psicóloga e nem estudante de psicologia. Essa é apenas a experiência de quem, há 10 anos, resolveu buscar ajuda profissional pras angústias que a afligiam. Fui buscar ajuda por estar muito perdida no meio dos meus 30 anos, sem namorado, sem nenhuma previsão de construir alguma coisa ao lado de alguém. Entrei numa dor imensa, em um processo de não valorização do que sou, me agarrando a quem não devia ter nem um pinguinho de mim. Fui pra terapia por isso e melhorei em tantos outros aspectos que não dá nem pra contar. Objetivei uma coisa e acertei em muitas outras. Se tem uma decisão acertada que tomei em minha vida foi entrar na terapia. Vivia colocando outras coisas na frente por causa do dinheiro, só que o valor que se paga é pouco perto do que se ganha. E, com certeza, posso dizer que foi uma das melhores coisas pra minha vida. 

Como achar que louco é aquele que busca saber de si mesmo, de suas potencialidades e de suas fraquezas? Como chamar de louco aquele que busca entender seus medos, busca entender o porquê de certas atitudes, as razões pra sua ansiedade? Hoje, eu olho no espelho e não tento mais me enganar. Muitas vezes ainda acho difícil lutar contra certas coisas em mim, mas já sei identificar os motivos de certos comportamentos e reações e, por isso, fica mais fácil me controlar, me entender, me posicionar. Sinto-me mais plena pra viver minha vida, pra viver essa vida com mais qualidade, sem absorver coisas desnecessárias, nem tomar pra mim culpas e problemas que não me pertencem. Com a terapia, todos a minha volta sairam ganhando, não só eu. E se eu for louca por querer viver melhor, que assim seja. Serei uma louca feliz.











quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Para o Namorado

Namorado não faz declarações de amor públicas. O amor dele só é demonstrado pra mim. Ele diz que não precisa ficar mostrando pra todo mundo que me ama e que até desconfia de quem o faz toda hora. Eu acho bonitinho quando mostramos de forma tão sem medo de sermos julgados o que a gente sente, mas também sei que não precisamos provar nada pra ninguém.

Só que me faz bem falar pro mundo o quanto o Namorado é importante pra mim. E aceito que o comportamento dele seja diferente do meu. Somos diferentes e nos aceitamos. Eu não vou mudar. Vou continuar dizendo como me sinto, algumas vezes só pra ele, outras pro mundo escutar. Ele não vai mudar. Vai continuar dizendo só pra mim que me ama. Quem se importa? Os olhos não mentem e dizem o que a boca não fala.

Ando em uma fase bem agradecida por ter alguém como ele perto de mim. Alguém que realmente me aceita como sou. E gosta do que sou. Então, Namorado, pra você...









"The Way I Am"
If you were falling, then I would catch you.
You need a light, I'd find a match.

Cause I love the way you say good morning.
And you take me the way I am.

If you are chilly, here take my sweater.
Your head is aching, I'll make it better.

Cause I love the way you call me baby.
And you take me the way I am.

I'd buy you Rogaine when you start losing all your hair.
Sew on patches to all you tear.

Cause I love you more than I could ever promise.
And you take me the way I am.
You take me the way I am.
You take me the way I am.