terça-feira, 27 de março de 2018

Sobre proteção



Miguel está há 2 dias com a boquinha avermelhada, ressecada, do jeito que fica quando pegamos muito frio ou, no caso dele, irritada pelo cloro da piscina onde tem seus treinos de natação todos os dias. Antes de ir pra escola ontem ele me falou que achava que os colegas iriam "zoar" porque parecia que ele estava usando batom. Com meu jeito direto, disse a ele que isso era uma besteira e que se zoassem, era pra ele não ligar. 

Só que quando cheguei pra buscá-lo no treino, a primeira coisa que Miguel me disse foi:

- Mãe, eu não disse pra você que iriam debochar de mim? Quase todo mundo ficou falando que eu estava usando batom, que eu devia ter pego o seu batom escondido e uns até disseram que eu não precisava mentir, que eu assumisse que gostava de usar batom. Fiquei muito triste, muito mesmo. Senti vontade de chorar porque eu falava que não era batom, que minha boca estava machucada... Mas ninguém  queria acreditar. Quer dizer, menos a Ana, a Maria Antonia, o Guilherme, Leo e o Matheus. Esses não me zoaram e me ajudaram, mãe... 

É muito ruim saber que o filho passou algum tipo de chateação ou tristeza. Dá vontade de gritar, dá vontade de falar um monte, dá vontade de chorar porque nenhuma mãe suporta ver filho triste. Tentei me recompor e falei:

- Poxa, filho, mas que legal que disso tudo você conseguiu ver que tem amigos de verdade! 

Miguel respondeu que isso foi legal da parte dos que ficaram "do seu lado" e que acreditaram que ele não estava usando batom ( como se isso fosse um problema!). Disse até que um dos amigos, o Leo, sabendo que hoje não estaria na escola ao seu lado porque iria viajar, lhe disse:

- Miguel, amanhã eu não vou estar aqui pra te ajudar... Mas boa sorte, cara!

Expliquei pra Miguel que crianças são assim mesmo, que ele não deveria levar a sério e, simplesmente, ignorar. E que deveria valorizar o fato de ter visto que tem amigos bacanas perto dele. Aí Miguel me disse:

- Se minha boca não melhorar pra amanhã,  eu não vou pra escola. Porque é muito chato assistir aula querendo esconder a boca ou vendo os outros se cutucarem e ficarem apontando pra você e cochichando um do ouvido do outro como se eu estivesse com alguma coisa muito feia ou esquisita. 

É óbvio que não vou deixar Miguel se ausentar da escola se ainda estiver com a boquinha machucada. Ele vai e vai enfrentar. Mas o fato é que eu adoraria proteger meu filho do mundo, de tudo e de todos, de qualquer coisa. Queria poder envolvê-lo em meus braços e consolar quando tivesse vontade de chorar, quando caísse ou sentisse alguma dor e estivesse longe de mim, queria que ninguém o magoasse, que ele não se ferisse. Sim, eu queria proteger. Mas a vida não é assim. Ela não permite isso. À noite, antes de dormir falei tudo isso pra ele, que se eu pudesse o protegeria de tudo e faria de tudo pra ele não chorar, não sofrer. Nessa hora, Miguel me abraçou forte e me disse:

- Ah, mãe linda, obrigada... Mas não se sinta triste porque não pode estar comigo o tempo todo. Eu entendo que você quer me proteger porque você me ama muito né? Mas não é culpa sua se não dá pra ser assim, está bem?

Sim, filho... Não é culpa minha... Mas dói tanto... E só quem é mãe é quem sabe dessa maldita dor. 

Obrigada por ser meu filho. Obrigada mesmo. 

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