quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Felicidade



Nessas últimas férias tive um dia só pra mim. Desses que a gente não tem que sair pra resolver nada, e decidiu que não vai arrumar nada em casa, nem pôr nada em ordem. Namorado tirou o domingo pra ir pescar com os amigos e o Miguel tinha ido pra casa da avó. Resultado, fui pra piscina do clube pegar um solzinho "me sentindo". Pela primeira vez em 4 anos e 8 meses, carregava apenas a mim mesma, um dinheirinho, meu óculos escuros, um livro e protetor solar. Nada de carteira do Namorado na minha bolsa. Nada de boia, brinquedinhos, roupa extra, toalha e biscoito. Cheguei ao clube pensando que se aquele momento não era felicidade, eu não saberia dizer o que seria. 

Arrumei um bom lugar e me esparramei sem pressa nem medo de ser feliz. Sozinha com meus pensamentos, pensamentos que não seriam interrompidos por um "manhêêê, quero biscoito!" ou "Manhê, você só trouxe a bóia do toy story? Cadê a do homem-aranha?" Enfim, vidão total. Paz pra ler meu livro, quantos capítulos eu quisesse. Paz pra ficar deitada ao sol por quanto tempo eu desejasse. 

Só que aí aconteceu uma coisa muito estranha. Depois de 20 minutos em tranquilidade, por mais que tentasse me concentrar no livro, a cada final de capítulo meus pensamentos viajavam pra casa da Berê e me perguntava o que será que meu gostosinho estaria fazendo. Ou, então, pensava que seria melhor se o Namorado tivesse ficado comigo, porque poderíamos aproveitar o dia lindo juntos. E, então, distante dos meus amores, comecei a sentir uma saudade imensa da loucura que nossa vida se transforma depois que temos filhos e me senti sozinha. Até meio fora de esquadro, fora de lugar. 

Não sou do tipo que só está feliz na presença do filho. Consigo me divertir sem o Miguel, consigo viajar sem o Miguel. Mas sem Namorado e sem Miguel, as coisas ficam muito sem sal. É inevitável pensar que quando o Miguel nasceu vivi um certo luto pela morte da minha vida de antes. E acho que vivi esse luto em todo o seu tamanho e fiz muito bem em vivê-lo intensamente, em chorar por minha vida antiga, em sofrer por olhar pra vida de antes do Miguel sabendo que ela nunca mais seria a minha vida. Aquela vida morreu. Mas não necessariamente a vida que tomou o lugar da antiga é ruim. Também não é melhor. A vida que nasceu junto com o Miguel só é diferente. Muito. 

Hoje eu não sinto mais saudade da vida de antes. Meu luto passou. Eu gosto dessa minha vida insana que a maternidade me ensinou, entre trancos e barrancos, a viver. E meu referencial de felicidade mudou. Eu era feliz antes e sou feliz hoje. Só que as coisas que me faziam feliz antes, não me bastam mais. E, por mais incrível que pareça, encontro felicidade levando meu filho pra escola, dando banho, cuidando dele. Por mais que ele exija de mim, por mais que ele demande tanto, a ponto de me fazer pensar que não vou aguentar tamanha demanda. Mesmo que pra conseguir dar conta de tudo tenha que me desdobrar, já que não sou mãe em dedicação exclusiva. Mesmo correndo de um lado pro outro, vivendo a contar os minutos, sinto-me feliz. Sim, porque foi a minha escolha. Uma das mais acertadas escolhas que fiz. E concluo que se essa correria que é a minha vida não for felicidade, então eu não sei mais o que é. 


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