quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Quem meu filho beija, minha boca adoça



A vida está corrida e o trabalho não dá trégua nessa época, mas não posso deixar de registrar algo de muito bom que aconteceu esse ano.

Quando Miguel começou seu Jardim III confesso que fiquei apreensiva ao saber que a professora que iniciaria o trabalho com a turma seria substituída em junho pela professora que voltaria de licença maternidade. Achei que meu filho já estaria acostumado com uma e que teria que se adaptar novamente ao jeito da professora que retornava. Enfim, preocupações bobas de mãe porque a gente sabe que os filhos se adaptam rapidamente às mudanças da vida e isso não seria um problema. Na verdade, o que eu achei que seria algo "chato" tornou-se um presente de Deus. 

Todos sabemos que existem afinidades entre as pessoas e que, muitas vezes sem sabermos explicar, nos identificamos ou não imediatamente com alguém. E acredito que isso tenha acontecido com meu filho. Ele não se conectou com a professora que ficou com a turma até junho, não criou vínculos, simplesmente não aconteceu. E isso, é claro, refletiu em sua vontade de estar na escola. Eu, como professora, sei o quanto é importante buscarmos caminhos para chegar em cada aluno, para conseguirmos uma ligação qualquer, um atalho que seja, pra alcançarmos um modo de ensinar. Com 20 alunos em uma sala, a única coisa que é certa e que todo professor deveria saber, é que serão 20 alunos totalmente diferentes um do outro e que o modo de aproximação usado com um, não necessariamente, dará certo com outro. É preciso, por mais experiência que se tenha e por mais anos dentro de sala de aula que se carregue no currículo, saber se reinventar e acompanhar mudanças. Enfim, algo não estava dando certo com o Miguel no primeiro semestre do ano.

Enfim, junho chegou e com ele chegou a Carla. Até acredito que meu filho tenha gostado dela de cara, mas acredito mais firmemente que a Carla soube construir um relacionamento de confiança total com ele. Pouco a pouco, Miguel aceitou a mão que ela vinha estendendo a ele. E não soltou mais. Carla soube ler meu filho, soube entendê-lo e, portanto, soube tirar do Miguel o melhor. Miguel parou de reclamar que tinha que ir pra escola - coisa que nunca tinha acontecido nos 2 anos anteriores e que vinha acontecendo com frequência nesse ano, e seu desempenho deu um salto. Os desenhos, antes mal feitos e rabiscados, viraram formas facilmente identificáveis, cheias de cor e capricho. Miguel retomou a confiança que estava abalada. E, apesar de se cobrar muito e de não querer errar, respondeu aos estímulos com fé em si mesmo. Carla foi a responsável direta pela recuperação da auto-estima do meu filho, justo ele que sempre foi um menino tão seguro e firme, precisou de um resgate. E, graças a Deus, o resgate foi feito por esse anjo em forma de professora doce e carinhosa. O resgate veio através da Carla. 

Hoje, fim do ano letivo, só posso e devo agradecer. Primeiro à Deus por sempre me mostrar que por mais que as coisas pareçam esquisitas a princípio, tudo acontece por uma razão e, nesse caso, Deus sabia que a troca de professor seria uma benção pra mim e pro meu filho. Segundo, devo agradecer à Carla, por ter exercido sua função tão lindamente, tão cheia de entrega. Por não ter tido preguiça de tentar um caminho novo com o Miguel, por não ter achado, simplesmente, que meu filho não se interessava e ponto. Quando seria mais fácil achar que ele não "estava nem aí pra escola", ela resolveu percorrer uma estrada nova de mãos dadas com o Miguel. Quando seria mais simples assumir que meu filho não era caprichoso, ela optou por tentar conhecê-lo e buscar alternativas. Quando seria mais fácil dizer que ele não estava se desenvolvendo como os demais alunos, ela arregaçou as mangas e trabalhou. 

Por tudo isso é que posso afirmar que essa professora, talvez não tão experiente nessa longa estrada do magistério, terá um futuro brilhante. Ela sabe que cada aluno é um aluno. E porque ela é incansável na tarefa de ajudar a cada um deles, com todas as suas nuances e diferenças, em todas as suas sutilezas e esquisitices. Posso dizer que a Carla enxergou o meu filho. E, a partir de então, fez com que ele a olhasse nos olhos e confiasse nela. Benção pura. Que maravilha saber que existem muitas professoras como você! Faz muito bem ao coração saber que existem muitas "Carlas" espalhadas por aí. 

À você Carla, meu mais sincero agradecimento. Saiba que estará pra sempre no meu coração. 



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