sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Mudei

Coisa boa da vida é ter amigos. E melhor ainda é ter amigos do peito, desses que são capazes de lhe falar as verdades "na lata", mesmo que doa. Detesto o que chamo de "amigo foca": aquele que só bate palma pra tudo o que você faz ou pretende fazer, sempre rindo e achando bonito, falando, na maior parte das vezes da boca pra fora, palavras de incentivo. Eu gosto de amigo que se posiciona como eu: avalia uma situação, pontua o que é positivo e levanta as questões negativas para que o amigo possa se preparar, porque já passei da fase de achar que só existem flores na caminhada e acho que amigo que é amigo mesmo gosta de chamar o outro pra realidade da vida, mesmo que não seja o que o amigo quer escutar. Quem se preocupa com o outro não fica só rindo e batendo palma pra tudo. Embora eu saiba que muitas vezes sou mal interpretada por não ser "amiga foca", gosto de me cercar de gente que se preocupa comigo e que me ajude a colocar os pés no chão quando estou louca demais. Bem... Eu tenho amigos assim e gosto que seja desse jeito. Dispenso amigo pra me dar tapinha nas costas e concordar com tudo o que faço e penso.

Essa semana, alguns desses amigos me chamaram a atenção pra uma coisa que vem acontecendo. Disseram que achavam que eu preciso fazer algo a respeito porque sou uma Paula mais mãe que mulher hoje em dia. Eu era uma Paula antes de ser mãe. Cheia de ideias de independência  e de preservação do meu relacionamento com o Namorado. Consegui colocar em prática muito do que penso ser importantíssimo para o casal durante bastante tempo: consegui viajar com o Namorado algumas vezes deixando o Miguel com minha irmã, deixava o Miguel com minha sogra pra ir ao cinema quase todo final de semana, Miguel nunca dormiu na minha cama. E tudo corria muito bem até meu bebê ter uns 4 anos, acho. Escrevo "acho" porque não sei exatamente onde as coisas começaram a mudar. Fazendo uma reflexão após a conversa com esses amigos, cheguei a conclusão que a mudança começou a acontecer depois que Miguel ficou mais antenado com o mundo ao redor, mais articulado, querendo estar com a gente, seus pais. 

Miguel é uma criança que não pensa duas vezes antes de deixar a gente pra trás se for pra sair com algum amigo ou viajar com a madrinha ou avó sem a nossa presença. É um garoto independente e acho ótimo que não dependa emocionalmente de nós, que não precise que estejamos ao seu lado para que seja feliz. O problema está em mim. Vou exemplificar. Sempre achei que viajaria sem o Miguel uma vez por ano, nem que fosse por poucos dias. Só que quando faço isso agora, sinto culpa. Porque ele não é mais um bebezinho sem noção de tempo. Ele já entende e gosta de viajar. Outro dia, conversando com ele sobre uma possível viagem, perguntei se gostaria de ficar em casa com a avó ou se preferiria ficar na casa de seu Dido e Dida enquanto nós passaríamos uns dias fora. Ele disse: prefiro viajar com vocês! Outro exemplo: sinto falta de ir ao cinema sozinha com o Namorado, mas quando vou ao cinema e ele se mostra animado pra ir, tenho dificuldade pra dizer a ele que será um momento só meu e do pai, que ele ficará com a avó. E nessa onda meu relacionamento com o Namorado vem sofrendo um pouco... E fico sem saber se adoto uma postura mais radical e morro de culpa ou se respiro fundo e vivo essa fase da vida do meu filho porque ela vai passar, e vai passar em um piscar de olhos. 

Sei que meus amigos se preocupam comigo e querem o melhor pra mim. Sei que não posso esquecer que sou mulher, a Namorada do Namorado. Não sou só mãe e sempre preguei isso, sempre defendi essa importância. Mas concordo com meus amigos de que meu discurso está distante da prática, do meu dia-a-dia. O que acontece e que talvez seja difícil de entender é que estou feliz. Sou feliz com a presença do Miguel nos meus passeios, e sou feliz quando ele não está ao meu lado porque está em outra programação por sua própria escolha. 

Não sei se estou certa ou errada, só sei que penso que logo meu filho vai preferir a companhia de seus amigos a minha. Eu vejo isso acontecendo ao redor, com os filhos mais velhos de amigos. Miguel terá seus próprios interesses, vai viajar para outros lados, terá suas festinhas, seus encontros. Sei que escolherá os filmes que vai assistir e com quem. E eu sei também que estarei sempre esperando sua volta. E eu quero viver tudo. Eu quero saborear cada momento. Não, não quero perder a Paula que namora, que ama o marido, que gosta de andar por aí de mãos dadas com o Namorado. Mas quero viver esse meu filho. Quero assistir de perto seu crescimento. E se a gente for contar, temos tão pouco tempo. Principalmente quando se é uma mãe que trabalha fora do lar. 

Quando olho pra vida da minha irmã, que sempre se doou tanto em prol das filhas, sempre trabalhou muito pra poder proporcionar o melhor pras meninas, sempre abdicou de tantas saídas a sós com o marido por elas, vejo que ela nunca cobrou das meninas nada em troca. Hoje, elas tem 12 e 16 anos, têm seus próprios interesses, suas festinhas, seus programas, vejo minha irmã voltando a namorar o marido, indo muito ao cinema, jantando juntos. As meninas estão aí, felizes. Adoram viajar em família, continuam gostando de desfrutar da presença de seus pais, mas tem sua própria agenda social o que permite que minha irmã volte a ser mais mulher. Eu fico olhando e vejo que só tenho feito o que meu coração manda. Aproveito muito os momentos em que o Miguel não está em casa, os momentos - poucos - em que estou só com o Namorado, e aproveito muito a companhia do Guel. Aproveito seu cheiro, seu abraço, sua presença. A vida é curta. E eu não quero abrir mão enquanto meu filho quiser estar comigo. 

Amigas que me amam e que se mostram preocupadas, sou eternamente grata por estarem ao meu lado. Vou procurar o equilibrio, juro. Mas, entendam: quando eu decidi ser mãe eu sabia que seria uma decisão  que mudaria toda a minha vida, que mudaria, simplesmente, tudo. Por mais que eu tivesse planos de manter várias coisas como antes, todos eles foram por água abaixo. Só que está tudo bem, eu estou feliz assim. Eu e Hugo passaremos por tudo isso juntos, tenho fé. Vamos olhar pra trás, olhando o Miguel crescido e vamos ter a certeza de termos feito um bom trabalho. Por ora, vou estar com ele enquanto ele quiser estar comigo. Sempre. Estou assumindo publicamente que mudei. Mudei, sim. Não consigo ir contra meu coração bobo. Simplesmente, não consigo agir diferente. 

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