quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O Fantasma da Ópera



A primeira vez que fui a Nova Iorque eu tinha 22 anos e fui com minha mãe. Era a primeira vez que minha mãe viajava para os EUA e minha segunda já que eu tinha ido a Orlando quando fiz 15 anos. 

Naquela época as coisas eram mais complicadas, antes do mundo globalizado, da internet. As meninas com uma condição melhor podiam escolher uma festa ou uma viagem a Disney e eu, lógico, nunca tive a menor dúvida e escolhi viajar. Minha mãe sempre trabalhou muito mesmo, sempre pensando em nos proporcionar o melhor que podia. O preço de uma festa de 4, 5 horas de duração, assim como hoje, é muito maior que 15 dias de viagem. Só que a experiência de uma viagem, a bagagem cultural que a ida a outro país lhe proporciona, não tem como comparar com a realização de uma festa. E eu adoro uma festa! Só que pensando racionalmente, se não se pode ter tudo, em minha opinião, a viagem é sempre a mais acertada escolha. 

Naquele ano em que viajamos juntas, não tínhamos dinheiro pra gastar à vontade. Eu sabia disso, que não daria pra gente comprar e fazer tudo o que quisesse. Só que eu queria MUITO assistir ao Fantasma da Ópera na Broadway. Muito, muito mesmo. Pra piorar a situação, dentro do avião, indo pra NY em um dos canais de música disponíveis estava tocando toda a trilha sonora do espetáculo e eu ouvi a viagem inteira. 

Em um dos dias em que lá estivemos, como minha mãe sabia que eu queria muito, passamos pelo teatro para ver o custo dos ingressos pra nós. Havia vários preços e um que parecia razoável perto do preço dos outros lugares melhores, mas que também achamos caro, custava 60 dólares. Portanto, teríamos que gastar 120 dólares para nós duas. Seria puxado. Se hoje não seria mole, imagina naquela época! Só que minha mãe na mesma hora falou pra mim:

- Filha, essa é uma oportunidade maravilhosa pra você assistir ao espetáculo que tanto deseja. Quando você estará aqui novamente? Existem coisas que não se pode deixar pra depois. Você fala inglês, eu não. Você vai aproveitar muito mais que eu... Vá você. Eu venho, trago você, dou uma volta e depois, no horário de saída do show, estarei aqui na porta lhe esperando. Já dizia sua avó: "Mais vale um gosto que três vinténs!"

Minha mãe não sabe o quanto foi especial eu ter ido a esse show. E, principalmente, minha mãe não sabe como foi lindo o gesto de abrir mão para que eu pudesse ir. O Fantasma da Ópera é inacreditável e independente de falar inglês ou não, ela teria amado. Qualquer um amaria! Arte encanta além de idiomas porque é uma linguagem universal. Alí naquele teatro lindo e enorme, vendo os artistas representando e cantando as músicas que eu conhecia de cor, eu me senti amada demais. Aquele ingresso de 60 dólares estava tão cheio de carinho, tão cheio de amor... Um amor de mãe que eu nem sonhava em entender ou alcançar a magnitude naquela época. 

Hoje eu sei o que é esse amor, eu sei do que uma mãe é capaz pra não ver um filho sofrer ou pra satisfazê-lo de alguma forma. Uma mãe abre mão de tudo por um filho, felicidade de mãe é ver filho feliz. Por isso, todas as vezes que escuto qualquer música da trilha sonora do Fantasma da Ópera, sinto-me invadida de um amor absurdo, e todas as sensações que tive sentada naquele teatro naquela noite de tantos anos atrás voltam. E a melhor de todas essas sensações que me invadem é o de ser plenamente amada por minha mãe. Eu tive e tenho uma mãe maravilhosa. E tudo o que peço é que eu seja assim pro Miguel. Eu tenho um exemplo de mãe, espero ter aprendido com a melhor. 

Obrigada, mãe, pelo ingresso de 60 dólares. E por esse amor sem medida e sem preço que recebo desde o dia em que nasci. Te amo. 

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