sexta-feira, 22 de maio de 2015

Por um triz

"... Que a vida é mesmo coisa muito frágil, uma bobagem, uma irrelevância, diante da eternidade do amor de quem se ama..."

Ontem fui com o Namorado e o Miguel a uma festinha de um de seus amigos da escola. Miguel brincava com as outras crianças e já tinha se divertido em um brinquedo estilo "Kabum", desses que sobem e despencam lá do alto. Enfim, tudo corria muito bem. Eu estava sentada em uma das mesas logo da entrada da casa de festas, conversando com os amigos junto com o Namorado enquanto Miguel se divertia. 

De repente, pouco antes da hora de cantar parabéns, olho pro outro lado da casa de festas. Sem saber porquê, meus olhos vão na direção do Kabum. E, então, vejo, quase em câmera lenta, o brinquedo entrar em ação, subindo mais ou menos uns 4 metros antes de despencar. Só que meus olhos vão direto ao assento onde está meu filho. E a trava de segurança que desce sobre o peito das crianças estava levantada. Resumindo: Miguel subia, subia e subia só que sem cinto de segurança ou trava. Sem conseguir me mexer, sem conseguir tirar os olhos do meu filho enquanto ele subia antes de cair junto com o brinquedo, gritava pro Hugo correr, gritava pro Hugo ir até lá, gritava pro Hugo parar o brinquedo. Hugo não estava entendendo o que eu queria dizer. Eu não estava me fazendo entender, gritando frases sem sentido pra quem não estava vendo o que eu via. Minhas pernas pesavam 2 toneladas cada uma e pareciam pedras cravadas no chão. Eu estava estérica mas não explicava o que estava acontecendo. Graças a Deus, a Luciana - mãe de uma amiguinha da escola - falou:

- Miguel está no Kabum sem trava, Hugo!!!

Hugo, Luciana e Beto (marido da Lu) sairam correndo feito loucos. 

O brinquedo despencou a primeira vez. Minha boca gritava pro Hugo correr e meus olhos não descolavam do meu menino. A sensação que eu tinha era a de que não podia desviar meu olhar, não podia perdê-lo de vista. Miguel estava com cara de quem sabia que faltava alguma coisa. Cara de quem corria perigo. Diferentemente das outras vezes em que andou no brinquedo naquela mesma noite, não sorria, não brincava, não falava, não se mexia.  Meu filho pressionava as costas para trás de forma que ficasse grudado no encosto e segurava as laterais da cadeira com suas mãozinhas pequenas. O brinquedo começou a subir de novo. Estava a caminho de despencar a segunda vez. E despencou. Miguel continuava lá, se segurando. E nesses segundos que pareceram uma eternidade, Hugo chegou e conseguiu fazer a monitora parar o brinquedo antes que ele voltasse a subir mais uma vez.

Um vacilo da monitora do brinquedo. Uma falta de atenção. Um minuto. Miguel poderia ter se desesperado, poderia ter enlouquecido de medo e tentado pular. Poderia ter escorregado. Poderia ter caído da cadeira. Poderia se machucar, se quebrar, ferir. Poderia... Enfim, Miguel poderia ter caído de uma altura de 4 metros. E meu coração parou de bater por um momento. 

Disso tudo, tiro a lição de que não dá pra relaxar nunca, sabe? A menina que tomava conta do brinquedo não estava prestando a devida atenção que esse tipo de brinquedo merece. Ela que é paga apenas pra fazer isso, certificar-se de que todas as crianças estão com a barra de segurança abaixada e travada, errou. E ao mesmo tempo que minha cabeça aceita que todos erram, meu coração diz que a atenção dela tem que ser total, que a responsabilidade é enorme desse tipo de trabalho. A vida é muito preciosa pra se perder assim. 

Abracei meu filho são e salvo com meu coração aos pulos. E me deu uma vontade louca de chorar. 

Já dentro do carro, indo de volta pra casa, perguntei ao Miguel se ele teve medo e ele respondeu:

- Sim, mãe. Mas pedi a papai do céu pra me proteger. E pedi também que se eu "morrisse"  pra você e o papai ficarem bem. 

Ah, filho... Que bom que você conversou com Deus nessa hora. Que bom que estou lhe ensinando a ter fé. Mas, filho, deixa eu te contar uma coisa... Seria muito difícil mamãe e papai "ficarem bem" sem você. Muito difícil mesmo. 


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