segunda-feira, 12 de março de 2012

Amamentação

Antes que me apedrejem, quero deixar claro que sou super a favor da amamentação. Qual a mãe que em seu estado normal não deseja amamentar seu filho? Qual a mãe que não quer proteger sua cria através de seus anticorpos? Só que muitas vezes a coisa não acontece como nas novelas e quer saber? Não vejo nenhum problema nisso. 

Quando escrevi o post a respeito do meu sentimento com relação a ter feito cesariana e não parto normal, algumas mães comentaram que pior mesmo é quando a gente não consegue amamentar. Aí, sim, o julgamento é muito pior! E elas têm toda a razão. 

A gente traz o bebezinho pra casa e pensa que vai ser fácil e simples: ele vai colocar aquele biquinho lindo no seu seio e muito leite vai jorrar pra dentro dele e ele vai dormir satisfeito da vida com sua barriguinha cheia... Ha-ha-ha. Comigo não foi assim. Desde o período da UTI, percebi que não tinha a mesma quantidade de leite das outras mães, minhas companheiras do lactário onde eu passava um bom tempo do meu dia enquanto o Miguel estava no hospital, tentando tirar leite pra cobrir o horário de suas mamadas. Enquanto eu ficava 15 minutos  pendurada na bomba elétrica e conseguia tirar 20ml de leite, a mãe ao lado enchia duas mamadeiras de 200ml!!!! Meu Deus... Desde daquele momento já saquei que a coisa não seria fácil pra mim.

Diziam que o leite viria, que eu deveria insistir, que quanto mais leite eu tirasse mais o corpo produziria e até que aconteceu isso mesmo. Depois de uns dias eu passei a tirar, com os mesmos 15 minutos, 25ml, depois 30ml e cheguei ao máximo de 40ml. Uau. Só que aí o Miguel teve alta e em casa ele já não precisava mais somente de 40ml. O menino ficava pendurado no meu peito 30 minutos de cada lado e depois de 15 minutos ele já estava chorando de fome de novo. 

Fui nessa neurose do "insiste que você consegue" por 1 mês e 15 dias até eu mesma me dar minha carta de alforria antes de enlouquecer. Chega. Decidi que não dava mais pra viver essa tortura. E entrei com o santo leite Nan e o resto foi aguentar o povo falando no meu ouvido. Aí você escuta de tudo: "comeu canjica? Bebeu cerveja preta? Fez massagem no peito? Colocou compressa de água quente antes do horário de amamentar?" A verdade é que eu tinha tão pouco leite que uma semana depois da minha decisão de parar de amamentar o Miguel, eu não tinha mais uma gota se quer nos peitos. Nem uma gotinha, nem se apertasse muito! 

A pobre mãe já está fragilizada, cansada, sem dormir direito e ainda tem que carregar mais essa culpa: a de não ter amamentado seu filho. Juro, é demais. O pior de tudo é aguentar o povo falando que criança amamentada fica menos doente que as outras. Parece até piada. Detesto essa coisa absoluta porque acho que tudo é muito relativo e depende de vários fatores. Miguel, por exemplo, como relatei acima, mamou meu leite muito pouco, hoje está com 2 anos e 10 meses e sabe quantas vezes teve que tomar antibiótico? NENHUMA. Fora gripe, nesse tempo, sabe quais foram as doenças mais graves do meu filho? Uma faringite viral que durou 10 dias e uma estomatite que me deixou quase louca durante 3 dias. Conheço crianças que foram amamentadas até os 3 anos de idade e tiveram não sei quantas pneumonias, várias internações, entram no antibiótico pelo menos 3 vezes no ano e por aí vai. Então, essa estória de que só o leite materno é responsável pela saúde de nossos filhos é um pouco de exagero, sim. Entendam bem, é óbvio que o leite materno é maravilhoso, mas não posso acreditar que ele é fator decisivo entre saúde e doença, criança que fica muito doente e criança que quase não adoece. 

Meu filho sempre foi muito bem alimentado, com os melhores leites artificiais que meu dinheiro pode comprar, come frutas, legumes e verduras, feijão com caroço desde pequeno, é bom de boca pra caramba e é muito saudável. É claro que o contato mãe-e-filho que ocorre durante a amamentação é mágico e único, mas não se cria intimidade apenas com a amamentação. Intimidade é conquista, dia-a-dia, aos poucos e em tudo que se vive juntos. 

Eu já virei essa página da amamentação há algum tempo, mas sei que não é fácil responder a fatal pergunta: "Por quanto tempo você amamentou?" Nossa tendência é responder e já começar a dar justificativas. Ainda mais quando existe mãe que acha que amamentar o filho até ele desistir de pedir seu peito é normal, mesmo que a criança já esteja andando e cheia de dentes na boca. No fundo, cada um sabe ou, pelo menos, deveria saber de si e cuidar de si. Seria tão melhor se cada um de nós entendesse que não há receita de bolo e que se uma mãe quer amamentar o filho pra sempre, ok, que seja, porque ela é quem vai arcar com as consequências futuras disso. Assim como eu vou arcar com as consequências de ter amamentado meu filho por 45 dias. Apenas 45 dias? É, 45 dias. Foi isso o que eu consegui. 

4 comentários:

  1. Querida...estou até chorando...sou mãe de um bebê de quase 4 meses, já escrevi aqui antes. Também sou médica, e digo isso para explicar que, durante toda a faculdade, todos os estudos para concursos, sofri a "lavagem cerebral do aleitamento materno exclusivo". Digo lavagem pq é isso que acontece mesmo, no meio acadêmico há uma campanha muito, muito forte em prol dele. E veja bem, não é em prol do aleitamento materno,mas sim do aleitamento materno EXCLUSIVO. Pois bem, isso era tão automático p mim que mesmo antes de engravidar eu JAMAIS tive qquer dúvida de que eu conseguiria. "Ah, que fracas essas mães que não conseguem amamentar, não existe leite fraco, não existe pouco leite", eu pensava. Pobre de mim, tão inocente...primeiro que tive erosões nos mamilos. Amamentava com uma toalha na boca, mordendo. Pode uma coisa dessas? E, como vc falou, enquanto amigas relatavam que "vazava leite, tinha que tirar um pouco, etc", eu cuidava no banho para não apertar e não desperdiçar!! Fiquei 1 semana torturando meu bebê que chegou a desidratar...até entrar c NAN. E se algue´m disser que faltou estímulo (qto mais o bebê mama mais leite vem), eu digo que nessa pirmeira semana meu filho mamava de 40 em 40 minutos, inclusive à noite!! E mais: como eu ainda queria muito voltar p o tal EXCLUSIVO, fiquei 20 dias alimentando meu filho com seringa e dedo enluvado, em vez de mamadeira, c medo que ele desmamasse! Precisava de 3 pessoas para alimentá-lo, minha mãe respeitou minha decisão mas tava quase pedindo demissão do cargo de avó-ajudante. Como sou muito teimosa ainda estou amamentando, mas é mais em nome do vínculo, e do que eu investi. Hoje pela manhã ainda pensei:quando fechar 4 meses acho que vou desisitir, pq o Heitor está cada vez mais querendo mamadeira e brigando para pegar o peito. Só pega qdo está sonolento, à noite...mas estou aqui firme e forte com minhas conchas pq não tenho bico, não tenho quase mamilo, e as conchas ajudam, mas tenho que usá-las 24h. As orientações dos médicos são, na verdade, para uma maioria. Não quer dizer que isso causa isso,aquilo causa aquilo, como vc falou. Essa foi minha maior lição aprendida com a maternidade..aliás, meu filho nasceu me ensinando muitas coisas...Também queria parto normal e não consegui, esperei até 41 semanas, (pode rir). Como disse uma amiga : "só falta tu querer usar fralda de pano". Adorei o post, abraços!!E parabéns e obrigada mais uma vez!!

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    1. Ana, imagino o seu sofrimento. Por ser médica, a pressão deve ser ainda maior, tem que dar o exemplo, tem que fazer dar certo. E não é só a gente que sofre em nome do que nos ensinaram a acreditar, sofrem as pessoas que estão ao nosso lado, que nos amam e respeitam nossas decisões, mesmo achando que seria melhor fazer de outro jeito. Já vi que você é das minhas: se programa pra sair tudo dentro do script e quando a coisa não sai bem como planejado, vira uma loucura. Filho nos ensina muito, né? Principalmente a não ter tantos planos... rs... Um beijo pra você e pro Heitor!

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  2. Paula, que post perfeito! Como sempre! Parabéns... vc sabe escolher as palavras muito bem e expressar o pensamento de muitas de nós! É por isso que estou sempre por aqui... é muito bom ler reflexões inteligentes! Faz um bem danado!!!!
    Uma linda semana pra vc!
    Beijos...

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    1. Dani, obrigada! Uma semana maravilhosa pra vc e seu bebê lindo!!!! É incrível como muitas mães passam pelas mesmas coisas e a maioria nem tem coragem de dizer o que sofre... Beijos!

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