quinta-feira, 5 de julho de 2012

Sou mãe e trabalho



Eu ando sumida daqui, sem tempo pra escrever. Aliás, sem tempo pra muita coisa. Essa época do ano é muito corrida, muito trabalho, muita coisa pra organizar e, além do que habitualmente tenho que fazer em julho, agora ainda tenho que adiantar o que normalmente faço no decorrer de todo o mês pra fazer em 15 dias, já que viajo trabalhando também nesse mês.

No meio disso tudo, ainda tem o Miguel que estará de férias pela primeira vez. Ano passado ele estava na creche e, abençoadas sejam as creches, não há férias por lá. Falei outro dia pro Miguel que iria viajar de novo, dessa vez trabalhando, e ele fez um beicinho de charme e perguntou com uma cara de anjinho: "E eu vou ficar sozinho?" Putz, quase morri. Expliquei que ele ficaria com o papai e com as avós e que eu precisava trabalhar. E aí, quase sem pensar, quis falar pra ele que traria um monte de presentes e tudo o que a gente costuma falar pra tentar compensar nossa ausência, mas acabei falando a verdade: "Filho, a mamãe precisa trabalhar porque todo mundo precisa de dinheiro, mas a mamãe trabalha porque gosta. Eu gosto de trabalhar, meu amor. Eu amo ficar com você, mas também gosto de ir pro trabalho. Eu sou feliz quando estou em casa, com você, e sou feliz quando estou no trabalho."

Miguel ficou me olhando e perguntou: "Você gosta de ir pro trabalho?" Respondi que sim e que sou feliz quando estou trabalhando. Miguel mudou de assunto e não falou mais nisso. Talvez, por hora, minha explicação tenha sido suficiente pra ele.

E é a mais pura verdade. Não posso me enganar ou enganar meu filho dizendo a ele que só trabalho porque preciso pagar contas, porque preciso de dinheiro pra comprar brinquedos pra ele, pra gente passear e comer. Tenho que falar pra ele que trabalho porque preciso trabalhar pra ser feliz. Eu gosto de trabalhar. E da mesma forma que não consigo imaginar minha vida sem que Miguel esteja nela, não consigo me imaginar em casa, sem fazer algo produtivo, sem estar em contato com outras pessoas, aprendendo coisas novas. Não estou desmerecendo de modo algum as mulheres que optaram por ser mães em tempo integral, que optaram por cuidar da casa e dos filhos. Ao contrário, acho até que, no final das contas, elas trabalham tanto quanto eu. Ou mais... Sei lá. Mas não é pra mim essa vida de mãe que está com os filhos o tempo todo.

Muitas vezes, foi difícil admitir que sou muito feliz fora de casa também. Difícil admitir que gosto de trabalhar e que preciso ter esse tempo pra fazer coisas minhas. Difícil admitir pros outros e até pra mim mesma. Como admitir que estava doida pra acabar a minha licença maternidade? Como falar pras pessoas que não via a hora de me arrumar, passar um batom e ter outras tarefas além de fraldas e mamadas? É claro que senti um aperto na hora de deixar meu filho sob os cuidados de outras pessoas, mas eu não estava aguentando mais. Eu queria ir pro mundo, eu queria ter um pouquinho da minha vida "de antes do Miguel" de volta. E hoje não quero nem vou jogar no meu filho o peso de ele achar que eu trabalho apenas para proporcionar a ele uma vida melhor e que ir pro trabalho é um sacrifício pra mim. Miguel precisa saber que o trabalho é parte da minha vida e é uma parte da qual gosto muito e da qual não pretendo abrir mão.
















10 comentários:

  1. Nossa...me vi no seu post.....
    Ótimo texto....
    Bjão

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    1. Tati, que bom que veio!! Bom também é saber que existem outras mães como eu. Assim, não me sinto tão ET... rs... Beijos!!

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  2. Lindo! Comigo acontece o mesmo. Quando meu filho nasceu, me senti muito sufocada, presa em casa, vivendo só pra ele, mas uma querida amiga me disse que quando voltasse a trabalhar, meu mundo voltaria a girar...Dito e feito! Amo meu filho, mas não abro mão do meu trabalho!

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    1. Pois é, e é tão bom sentir que nossa mundo gira, né? Um beijo e obrigada por comentar!

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  3. Eu também me identifiquei no ato. Num dos meus trabalhos, quando voltei, as pessoas ficavam me olhando com cara de pena e dizendo"sabemos que é difícil". E eu lá, com o sorriso de orelha a orelha, me sentindo ótima! E que exemplo maravilhoso estás dando para o Miguel, de que trabalhar nos faz feliz! Parabéns e uma ótima viagem, aproveita, deve ser muito bom viajar a trabalho também!!

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    1. kkkkkkkkkkkk As pessoas olham mesmo pra gente como se fôssemos menos mães por gostarmos de trabalhar. É como se tivéssemos que fazer uma opção: se trabalha, é sinal que gosta de estar longe do filho. Só que uma coisa não tem nada a ver com a outra, né? Um beijo, Ana!

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  4. Nossa! Como me fez bem ler seu texto! Me ví em você; Tenho 2 filhos, estou desempregada há 2 meses, recebendo auxílio, porém, não se trata de dinheiro, estou beirando a depressão por não estar trabalhando fora AINDA, não me sinto a mesma, é como se eu só significasse algo, até para mim mesma, trabalhando fora...rs

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    1. Entendo você perfeitamente!!! E torço pra que você volte logo ao mercado de trabalho porque imagino que se fosse eu, também estaria nas raias da loucura... Boa sorte!!

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  5. Nossa....nossa!!! Graças a Deus li o post...mto obrigada Paula por escrever....estava me sentindo mto culpada e tentando achar um texto, algum depoimento, enfim qualquer coisa que pudesse me fazer sentir melhor ou igual. Voltarei em fevereiro a trabalhar...meu bb estará com 5 meses e eu não vejo a hora de poder realizar outras tarefas..exatamente como vc disse, viver, encontrar outras pessoas..enfim...obrigada de coração pelo texto. bjo grande.

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    1. Feliz fico eu por poder ter ajudado de alguma forma... Talvez mães como nós ainda sejam incompreendidas pela maioria, mas não estamos sozinhas. Existem muitas outras que precisam de outras atividades além das que envolvem a maternidade. Eu é que agradeço você ter visitado o blog! Um beijo e ótimo retorno ao seu trabalho!!

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