terça-feira, 27 de novembro de 2012

Antes de dizer, pense.

Sou uma pessoa de fé. Fui criada na igreja católica e gosto, por mais que muitos achem estranho, de missa. Gosto de cantar, gosto de rezar, gosto de ouvir o padre. Entretanto, como acredito em vida após a morte, reencarnação, sou espírita. Não gosto de nenhuma crença ou religião que deixe as pessoas burras, que tirem o poder de reflexão. Sigo o que disse Allan Kardec: "Não aceite nada que sua razão não aceitar." E, como diria minha querida Katia Barbosa, "acho muito digno" que alguém considerado o fundador da doutrina espírita tenha divulgado esse pensamento, o pensamento de que devemos sempre questionar e não apenas aceitar o que é dito por seja lá quem for, padre, pastor, ancião, medium ou pai de santo. 

Por isso, é que, muitas vezes, quando estou em uma missa e vejo que o discurso do padre segue uma linha tacanha, de pensamento estreito que não acompanha todas as muitas modificações desse nosso mundo, me dá vontade de começar a falar ou de, simplesmente, ir embora. Tem gente que poderia ficar calado ou pensar vinte mil vezes antes de falar tanta besteira. Já fui à missas com padres inteligentes que envolvem a comunidade em uma discussão ampla sobre todo o tipo de assunto, sem medo. E já estive em missas e até em casamentos em que o padre falou tanta besteira que tive pena de quem estava alí, junto comigo, ouvindo aquelas atrocidades. Exemplo: já fui à um casamento em que o padre falou de traição o tempo todo. Já fui à missa em que o padre falou que ter cachorro em casa é como ter o demônio em sua residência. Já ouvi padre condenar fervorosamente o uso de preservativos na relação sexual já que sexo seria só e tão somente para procriação. Enfim, existem padres da idade das cavernas e pessoas para acreditarem que o que falam é o certo. 

Domingo passado, durante a missa das crianças (a Rafa, minha afilhada, está fazendo catequese) a catequista, na hora de organizar as crianças dentro da igreja, disse que as meninas que estivessem usando vestido, por estarem, segundo ela, "mais bonitas", ficariam sentadas na frente e as que estivessem de calças ou bermudas, ficariam na parte de trás. Achei isso de péssimo tom, algo muito fora de propósito. Tudo bem, eu sei que ela precisava adotar um critério na hora de arrumar as crianças, mas não poderia ser ordem alfabética ou tamanho? Tinha mesmo que adotar um critério baseado no tipo de roupa usado por cada criança? Não poderia ser algum critério menos segregador?

Não é o caso da Rafa que, graças a Deus, tem muitos vestidos, mas todo mundo sabe que em uma catequese as turmas são muito heterogêneas - e que bom que seja assim - e existem crianças com realidades diferentes das da Rafa, crianças que, simplesmente, não estavam usando vestido porque não têm nenhum. E aí? Essas nunca poderão ficar na frente? Nunca terão a oportunidade de ocupar a primeira fileira? Terão sempre que amargar os últimos assentos por causa de um critério de ordem infeliz estabelecido pela catequista? 

Só sei que a Rafa saiu da igreja falando que não irá mais à missa usando bermuda, disse que vai querer usar apenas vestido todo domingo. Ok. Ela tem vestidos pra isso, vestidos que garantem seu passe para ocupar a primeira fileira. De forma simples, sem pensar em igualdade social ou problemas mais complexos, ela resolveu seu problema imediato. E as outras? O que pensaram? Será que saíram conformadas com o que a vida lhes reservou até agora? Será que saíram da missa acreditando que o mundo pode ser mesmo um lugar onde todos são iguais? Será que acham que foi esse o legado deixado por Jesus? 

Enfim, gente idiota existe em todo lugar, mas existem coisas que precisam ser mais pensadas antes de ser ditas. Ou, talvez, tenha sido apenas um critério escolhido e que só eu esteja vendo complicação nele. Talvez essa minha mente que pensa demais e questiona demais e com tendência pra desenrolar consequências futuras em tudo o que se faz agora só complique minha vida e o modo como enxergo as coisas. Talvez esse meu jeito só complique as coisas pra mim. A catequista pode não ter tido maldade nenhuma, mas não poderia ter pensado um pouquinho mais antes de divulgar esse seu critério entre as crianças? 

Sei não... Só sei que não consigo evitar pensar no desdobramento de atitudes e palavras e isso é meio enlouquecedor. Agora responde aí: a vida é louca assim mesmo ou será que tudo está, a cada dia, mais louco? Sei não... Não sei mesmo.

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