terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Descontrole de mãe

Sempre me achei tranquila pra lidar com situações de stress. Normalmente, minha reação é ficar muito mais quieta e calada, sem vontade de falar. Às vezes, fico até sem ação. Então, gritar e me descabelar são coisas que não me acontecem com frequência.

Depois que a gente tem filho, a gente começa a se lembrar de muitas situações vividas quando éramos crianças e o foco quando lembro das cenas da infância muda. Quando as memórias vêm à tona, minha observação maior deixa de ser nas minhas atitudes e passo a focar nas atitudes da minha mãe. E aí, fica muito mais fácil entender e admirar certas coisas. Lembro muito da minha mãe - que sempre foi a estouradinha mor - brigando com a gente e dizendo uma série de impropérios e, depois de algum tempo, quando o sangue esfriava, lembro dela vindo pedir desculpas e dizendo que estava nervosa. Nossa, como eu a entendo agora...

Minha mãe era quase uma `mulher maravilha` pra mim. Ela trabalhava fora, durante 4 anos ainda fazia faculdade à noite, cuidava da casa, nunca faltava um bolinho fresco feito por ela no final de semana, a geladeira sempre tinha comidinhas gostosas feitas por ela durante toda a manhã de domingo, tinha que lidar com as ausências de empregadas que, de vez em quando, davam o cano e nunca se ausentou de reuniões escolares, apresentações de ballet ou festinhas. Como ela dava conta de tudo? Não sei mesmo! Mas o fato é que muitas vezes a mulher estava mais nervosa do que já era. Quantas vezes, quando víamos minha mãe chegando em casa, vinda de ônibus do trabalho, eu e minha irmã nos escondíamos e resolvíamos dar "um susto" nela no meio das escadas do prédio. É, a pobre ainda tinha que subir três andares de escada e se deparar com duas filhas loucas de saudade querendo fazer uma surpresinha pra mãe!! Ah... A gente pulava em cima dela e ela já começava: "Pelo amor de Deus, crianças, deixa eu chegar em casa, deixa eu tirar a roupa, tomar um banho. Será que eu não mereço nem um minutinho de paz?" Depois ela vinha e, normalmente, saía com a máxima: "Dói mais em mim que em vocês" - quem nunca ouviu isso de mãe? E pedia desculpas pelo stress. A gente ficava triste porque nossa intenção era a melhor!! Estávamos morrendo de saudade dela!

Como eu a compreendo agora... Hoje eu quase cheguei aos pés dela na tentativa de ser a mulher maravilha e o meu dia rendeu muito, de tanta coisa que eu fiz, mas às 20h, hora que o Miguel começa a ficar insuportável com sono, a mulher maravilha aqui já estava mais pra mãe desgrenhada, sem lembrar, nem de longe, qualquer heroína. Enfim, preparei a mamadeira, apaguei a luz do quarto, liguei a musiquinha de dormir e o doidinho do meu filho queria ficar no meu colo, mas não queria ficar no quarto dele. Queria socializar pela casa. 'Ok', falei pra ele, ainda com paciência, 'mas vai socializar sozinho porque eu não vou ficar andando com você no meu colo'. Aí o menino começou a chorar. Eu pegava ele no colo e ficava no quarto e ele apontava pra porta, eu o colocava no chão e abria a porta pra ele ir onde queria e ele berrava mais ainda. Durante 5 minutos tentando ser uma mãe centrada, aguentei calada, depois, dei uma de Dona Iris, agarrei o Miguel pelos braços, coloquei no chão e falei, confesso, gritando, totalmente descontrolada: "Miguel não enche o meu saco, eu estou cansada. Quer dormir dorme, não quer dormir, não durma, mas não me perturbe!" Ai... Quanto tempo durou minha raiva? Menos que 10 segundos após ter feito a mãe descompensada. E sabe o que eu fiz? Banquei a Dona Iris de novo e respirei fundo, me enchendo com a paciência que só o remorso trás, voltei, o peguei no colo e conversei com ele com a voz mais calma do planeta, explicando o quanto estava cansada e lhe pedindo desculpas... Ele ficou no meu colinho uns dez minutos me ouvindo... "Mamãe te ama, é que estou cansada, nervosa... e blá, blá, blá."Acho que o meu bebezão ficou cansado do meu sentimento de culpa e... dormiu.

Será que mãe é tudo igual mesmo?

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