quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Amizade de uma vida

Eu tenho amigos de infância. Amigos que conheci novinha, a vida afastou e trouxe de volta. Hoje, adultos, continuamos amigos e nos encontramos nas festinhas de nossos filhos e nos falamos de vez em quando. Mas quantas amizades começam quando somos crianças e atravessam todas as nossas fases, resistem às mudanças de caminhos, de escola, são à prova das nossas diversas escolhas? Eu só tenho uma. 

Conheci o Marcelo quando estava na terceira série do ensino fundamental. Tinha 8 anos e, como todos sabem, era aquela menina quietinha, que se sentava na parte da frente da sala de aula e que gostava de prestar atenção. Não sei por qual obra do destino, quis a vida que o Marcelo tivesse seu lugar cativo em uma carteira atrás de mim e, totalmente o meu oposto, Marcelo sempre foi engraçado, implicante e deliciosamente fofo com todo mundo. Sabe aqueles caras de quem os meninos gostam e que as meninas não odeiam? Marcelo era o próprio. Outra característica marcante é que ele me fazia rir muito! Sei que não é difícil me fazer rir porque sou muito risonha mesmo, mas o problema é que ele, sentado atrás de mim, falava as maiores besteiras e eu é que me virasse pra me controlar porque ele continuava muito sério, como se nada tivesse acontecido. Eu ia ficando roxa de tanta vontade de gargalhar. Marcelo sempre foi muito cínico e me deixava louca com sua cara-de-pau.

Fomos juntos até a oitava série quando, então, mudamos de escola. Inacreditavelmente, sempre mantivemos contato. Nunca nos interessamos um pelo outro sem ser como amigos, embora ele me achasse bonitinha - devia ser cego porque eu não era nada bonita - e eu também achasse ele legal. Éramos amigos e pronto. Nos falávamos ao telefone e fomos partilhando nossas modificações, nossos tropeços, frustrações e nossas vitórias. Acho até que ele teve que se adaptar às minhas mudanças muito mais que eu às dele, afinal ele continuou quase o mesmo Marcelo de sempre, gaiato, divertido, inteligente, apenas mais maduro. Eu? Eu fui uma lagarta que virou borboleta e, de repente, ele teve que conviver com uma pessoa saidinha, falante, risonha, que desabrochou. Não deve ter sido fácil, mas continuamos ali, juntos. Separados muitas vezes pela distância geográfica, mas unidos por um bem querer enorme. 

Muitos dizem não acreditar em amizade entre homem e mulher. Eu acredito porque vivi e vivo essa amizade. Já namoramos muitas pessoas e já estivemos solteiros na mesma época também. Já fomos pra night juntos e já dormimos na mesma cama. Sempre tivemos um respeito enorme por nossa amizade, pelo sentimento bonito que temos um pelo outro. Na época em que estávamos solteiros e querendo muito namorar, encontrar alguém legal, perguntávamos um pro outro: "a gente bem que poderia se apaixonar um pelo outro, né?" E depois a gente ria do inusitado que seria essa situação. Quantos dias dos namorados em que um consolou o outro? Quantos choros meus no ombro dele? E dele no meu? Quantos conselhos, quantos puxões de orelha? No fundo a gente sabia muito um do outro pra pensar em qualquer outro relacionamento que não fosse o de uma amizade verdadeira, totalmente desinteressada. Estarmos juntos sempre foi muito gostoso, o carinho que temos é enorme, mal cabe no nosso abraço apertado que acontece em cada reencontro.

Marcelo foi meu padrinho de casamento. Não poderia ser diferente. Ele sempre torceu muito por minha felicidade. Na época, entrou com a mais fofa e linda das amigas: a Cacau. E foi muito importante ter o Marcelo ali, pertinho de mim, durante a cerimônia. Uma amizade que atravessou tantos períodos complicados, outros inconsequentes, alguns períodos de total liberdade e descompromisso com nada e com coisa alguma, e outros de tanto comprometimento e responsabilidade. 

Por isso tudo, meu querido amigo, você deve saber, sim, o quanto me fez feliz me convidando pra ser sua madrinha de casamento. Saiba que eu estarei ao seu lado pra você poder olhar pra mim, como eu olhei pra você na noite do meu casamento, e lhe lembrar que sempre há um final feliz pra gente bacana como nós. Em segundos, quando a gente olhar um pro outro, vamos voltar a ser crianças, sentados em uma sala de aula, cheios de esperança e vontade de fazer tudo certo. Como em um filme, vamos nos enxergar vivendo de novo tudo o que vivemos. Você vai olhar pra mim e vai sentir que tudo pelo que passamos nos trouxe até aqui e que vê-lo feliz é um presente enorme que a vida está me dando. 

4 comentários:

  1. Que lindo isso, amiga vaca!!! A amizade de vcs sempre foi linda mesmo! Fico feliz por saber que ela atravessa décadas e fases, sempre forte. E me senti honrada de estar ao lado de uma pessoa tão importante para você em uma das datas mais importantes de sua vida. Amizade é isso: algo que não sabemos porque vem, mas que acolhemos e cuidamos. Com sempre muito amor. Porque o amor vence tudo!!! Love sempre.

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  2. É muito bom ter você na minha vida, Cacau galinha!!!!! Eu também acredito no amor... "Love never fails"

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  3. Oi,adoro seu Blog. Cheguei até ele digitando "viajar sem o bebê no Google, pq é o que estou pretendendo fazer quando meu filhote completar 6 meses, por uma semana,mas estou com o coração na mão. Que idade o Miguel tinha qdo vc viajou pela primeira vez? Te admiro muito por ser tão sincera em relação às sensações sobre a maternidade. Compartilho quase todos os teus sentimentos,mas poucas pessoas falam sobre o lado não tão bom...sou completamente apaixonada pelo meu Heitor de 3 meses, mas no começo foi assustador, achei que não ia conseguir...parabéns e obrigada por escrever, beijo

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  4. Oi, Ana!!! Fico muito feliz que você me visite e que minhas emoções e impressões da maternidade sirvam pra abrandar tantas dúvidas e inseguranças que temos quando somos mães...
    Bom, quando viajei pela primeira vez, Miguel tinha 1 ano e 5 meses e ele ficou muito bem sem mim! Acho que no seu caso será ainda mais fácil, seu Heitor só terá 6 meses e os bebês não tem noção de tempo nessa idade. Só procure respeitar a rotina que ele tem com você, pra não mudar muito a vida dele. Vá sem culpa porque você vai perceber que quando voltar será como se nunca tivesse saído do lado dele!!! Boa viagem, Ana!! Um beijo pra você!

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