quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Minha amizade cor de rosa

Rafaella - Deo com Miguel no colo - João


Se tem uma coisa na qual acredito nessa vida é na amizade, no amor. Até porque amizade é amar, né? Não adianta as pessoas falarem pra mim que amizade acaba com a distância, com brigas, com desavenças porque eu acredito mesmo que quando duas pessoas se gostam e estão dispostas a aprender uma com a outra, a amizade resiste, sim, a muitos acontecimentos da vida da gente. 

Eu tenho algumas amizades especiais. Amigos que fiz quando era menina ainda e que estão no meu coração até hoje. A gente pode não se ver sempre, mas quando se encontra é como se a distância não tivesse existido. Amigos de faculdade. Amigos queridos que fiz trabalhando junto. Tenho amigos que já conhecia na vida real e que vim a conhecer melhor pela internet. Amigos que fiz em viagem. 

E aí as pessoas podem pensar que isso não é amigo, que amigo é aquele que está junto todo dia e tal. E eu discordo disso veementemente porque eu estou junto todo dia de várias pessoas por quem não tenho um sentimento tão bacana e gostoso quanto o que tenho por 2 amigos que fiz em minha viagem pro Chile com o Namorado. Sabe quando a gente bate o olho e se identifica? E um minuto depois está dando gargalhadas das mesmas situações sem que ninguém precise abrir a boca? Dessa empatia inicial pra conversas mais sérias a respeito da vida em geral e das nossas vidas, foi um pulo. Não foi Vinicius de Moraes que disse que "a gente não faz amigos, reconhece-os"? Taí uma coisa que bate muito certo pro meu coração.

Uma das grandes amigas que tenho é a Deo. Ela é minha amiga cor de rosa. Sempre será. Isso porque a conheci  no primeiro dia de faculdade, em uma sala de aula da Universidade Gama Filho, em 1989. Novinhas, cheias de inseguranças e sonhos, com um mundo se abrindo na nossa frente, nos encontramos. Melhor, a Deo me encontrou. 

Entrei na sala de aula atrasada e a turma já estava acomodada. Havia uma carteira vazia na parte de trás da sala e outra ocupada pela Deo. Estávamos na última fileira, separadas por uma distância considerável. Sentei e fiquei quieta. Quem chega atrasada não pode fazer muito estardalhaço, né? Mas não tinha como não notar a presença daquela garota enorme de 1,82 de altura, magra com pernas sem fim, toda vestida de cor de rosa. Dos pés à cabeça. Enfeite de cabelo rosa. Tenis rosa. Meias também. Bermuda rosa e blusa rosa. Meu Deus! Quanto mais eu observava com o canto do olho, mais eu me espantava. Pensava que ela devia ser louca pra ter coragem de vir pra universidade assim, como quem vai pro jardim de infância. Estojo, caderno e canetas cor de rosa também. Mochila rosa!! E não era rosa pink, não. Era rosa bebê. Um mulherão que brincava de se vestir de boneca. Só que a Deo sempre soube muito bem o que queria e o que fazer pra conseguir alcançar seus objetivos. Dane-se se a indumentária era de uma frágil mocinha. E, do seu jeito decidido, a Deo puxou a carteira pra perto da minha e, sem mais nem menos, aquela criatura loura, branquinha e cor de rosa, se apresentou: 

- "Oi! Eu sou a Andrea! Qual o seu nome? É seu primeiro dia de aula, né?"

Pronto. Não nos largamos mais. Lá se vão quase 25 anos e separadas pelos endereços - Deo mora em Sampa já há alguns anos - seguimos unidas por uma vontade imensa de ver a outra feliz. Hoje, quando olho para aqueles dias de tantas aulas, tantos trabalhos em grupo, o que fica são nossas caminhadas pelos corredores da Gama, sempre juntas, nossas gargalhadas sem fim, nossos ataques de idiotice, os muitos bilhetes trocados em aula, o nervoso pra provas, o deboche sutil que só a gente sabia fazer.  

Passamos muita coisa, conhecemos maridos e ex-maridos uma da outra, passamos por perdas, comemoramos nossas vitórias. Somos mães. Quando Miguel estava na UTI e eu não aguentava mais vir pra casa sem trazer meu filho, foi pra ela que liguei chorando e, como ela não pôde atender, foi em sua caixa postal que deixei o recado mais louco que ela já recebeu, um recado que deixei chorando desvairadamente , dizendo que não suportava mais ver meu filho naquele hospital. Foi pra ela o desabafo de mãe que quer ter seu filho nos braços em sua casa. Tirando o Namorado, foi só pra ela que desmoronei. 

Somos mulheres que trabalham, que fazem acontecer. Somos donas da nossa história. Não nos falamos todos os dias e não há cobranças. Graças à Deus, a Deo entende que eu não sou de ficar falando todo dia. A gente se respeita e acho isso bonito. Fico pensando que, de repente, ela até gostaria que eu ligasse mais e tal, mas só o fato de ela não ficar reclamando disso comigo, já me mostra que respeita meu jeito. A Deo tem um coração enorme, proporcional a sua altura. Mulher grande, inteligente e com um jeito doce de falar. Mas tem gênio e é melhor não brincar muito com a paciência dela. A gente se aceita bem. Deo não fala palavrão e sempre me aturou falando um monte deles. Ela é muito família, canceriana, quer atender a todos, conciliadora. Eu sou mais pipa voada, geminiana, digo o que não quero e quero na hora, direta. Somos amigas. E, pra mim, Deo será sempre a menina de cor de rosa. Minha única amizade que tem cor. 


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