domingo, 17 de novembro de 2013

Tchau, celular.

Miguel tinha 6 meses a última vez que havia sido assaltada. Com ele em meus braços e o ladrão arrancando minhas pulseiras de ouro, não me senti perdendo nada porque meu filho continuou no meu colo e ele é o que há de maior valor na minha vida. Vi o perigo, olhei nos olhos dele, vi sua cor, seu tamanho, e o vi também se afastar de mim. O consolo foi imediato.

Dessa vez, me senti muito estranha, triste até. É difícil digerir alguém tirar algo de dentro da sua bolsa enquanto você está distraída pegando seu filho no parquinho pra levar ao banheiro. Assim, sem você ver nada, sem saber como foi que a pessoa conseguiu enfiar a mão na sua bolsa sem você notar, fazendo você se sentir uma idiota estúpida. Mais difícil ainda é você saber que seu celular furtado está no mesmo local que você, que o satélite mostra que vocês continuam no mesmo endereço, e não conseguir recuperá-lo porque ninguém tem boa vontade pra isso. Ficar mais de uma hora mostrando pra segurança do shopping as imagens do rastreamento dos celulares, meu e do Namorado, uma imagem atualizada a cada 30 segundos, prova de que o objeto do furto continuava alí, pertíssimo de nós e não ter ajuda de fato, é desgastante. 

Ficamos 1 hora e 30 minutos tentando, sem sucesso, que o gerente da loja, pelo menos, investigasse. Nada. Até me coloco no lugar dele, enxergo sua posição difícil quando todos os funcionários diziam que não tinham visto nada, mas meu celular estava ali. Ainda pedimos pra que observassem as câmeras do shopping - havia uma exatamente no local onde tudo aconteceu - e a pessoa responsável apenas nos disse que nas imagens não viu nada demais. Como haveria de ver algo demais se em nenhum momento perguntou pra confirmar se a vítima em questão era essa loira aqui, vestida com camisa e calça brancos? Quando perguntamos se nós poderíamos ver as imagens, disseram que apenas com ordem judicial. 

Enfim, depois de 1 hora e 30 minutos, indo de um lado pro outro feito barata tonta, falando com Deus e o mundo pra tentar que alguém nos ajudasse, desistimos. Miguel já estava cansado e com fome, sorte a nossa minha sogra ter nos acompanhado nesse "passeio". Miguel, definitivamente, é uma criança muito boa. Aguentou firme o tempo todo, andando com minha sogra pra lá e pra cá, esperando que aquela novela tivesse um final feliz. Saí do Rio Design Barra deixando meus dados no concierge para que me devolvessem o aparelho se alguém o encontrasse. Queriam que eu realmente acreditasse que eu estava vendo imagens de satélite de outro mundo e que meu celular não estava dentro do shopping.

No dia seguinte, fui tentar comprar outro celular, afinal como ficar sem comunicação quando se tem tanto pra fazer todos os dias? Mas acabei optando por comprar o aparelho pela internet porque o preço estava melhor. Ficar sem celular por 1 semana não será o fim do mundo. Fim do mundo é você se sentir culpada por não ter prestado atenção a tudo. Fim do mundo é você repassar a cena milhões de vezes na sua cabeça tentando entender onde poderia ter feito diferente. Fim do mundo é me sentir impotente diante de tanta gente ruim que existe na Terra e, pior, tanta gente sem disposição pra lhe ajudar, de verdade. 

Quando entrei em casa vinda da rua sem o celular novo nas mãos, a primeira coisa que o Miguel perguntou é se eu já estava com um telefone novo. Falei pra ele que não, que não tinha encontrado pelo preço que queria pagar. Na mesma hora, Miguel me disse: 

- Mamãe, não fica triste, não. Hoje eu vou pro shopping e vou comprar um celular bem legal pra você, muito lindo e cheio de brilhos, do jeito que as meninas gostam, tá?

Agarrei meu filho na hora. Cobri essa criança fofa e linda que Deus me deu com muitos beijos e apertos. E, ao mesmo tempo em que agradeci a Ele por ter comigo o que realmente vale ouro pra mim, a única coisa que não poderia comprar em uma loja por dinheiro nenhum do mundo, sinto-me melancólica por ter posto no mundo um serzinho tão especial e que terá que aprender que essa vida terrena não é pra quem fica de bobeira, não. Viver aqui é muito sinistro. O buraco, como diz minha mãe, é muito mais embaixo. E isso preocupa o coração de qualquer mãe. 

Só posso pedir a Deus que proteja meu filho e que me dê forças para fazer dele um homem correto, mesmo cercado de tanta porcaria que existe no mundo. E que Deus me dê forças pra mostrar que vale a pena ser justo, ajudar ao próximo, fazer a nossa parte independente de não receber nunca nada, nem ao menos um "obrigado". Que Deus me abençoe e me faça forte para ensinar a meu filho que não devemos mudar nossas atitudes retas porque o mundo está torto. E rezar, rezar muito, para que isso seja suficiente.


2 comentários:

  1. Verdada, Paula, o circuito interno é só para proteção deles, não a nossa, mesmo sendo uma ladra comprovada.É um absurdo eles não se interessarem pelo bem estar e segurança do cliente dentro da loja. Será que vocês não poderiam ter dado queixa na polícia alegando que forma roubados dentro da loja? e conforme comprovava o GPS do outro tel o seu tel ainda estava lá dentro? e se vc suspeitasse de um vendedor?

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    1. É por isso que estou pensando em entrar com uma ação, Soraya... Eles tinham a faca e o queijo na mão pra averiguarem na loja pois tinham a imagem do satélite, não fizeram nada porque não quiseram.

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