segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A Chata




Devo confessar que, sim, sou a gostosinha do meu filho. Também sou sua lindinha. A mãe mais fofa do mundo pra ele, segundo suas próprias palavras. Entretanto, ultimamente, a palavra que mais escuto é "chata". 

Se ele pede biscoito perto da hora do almoço e digo que não darei porque ele perderá a fome, logo escuto: "Você é uma chata!".

Se estamos em uma festa e digo a ele que já é hora de irmos, coisa mais certa é ouvir: "Chata!"

Se estamos em um shopping e ele pede pra ir até a loja de presentinhos (entenda: RiHappy) e eu digo que ele já tem brinquedos demais, sem demora lá vem: "Chata!"

Se peço para ele catar a cueca que largou no chão do banheiro antes de tomar banho e colocar no lugar das roupas sujas, em segundos, mais um elogio: "Chata!"

E quando já passou da hora de ele dormir e falo que deve desligar o ipad e apagar a luz pra descansar, em seguida escuto Miguel falar pro Namorado: "Ai, pai... Minha mãe é muito chata!"

Enfim... Se minha vida fosse um filme policial, Namorado seria o policial bonzinho e eu, sem dúvida, seria o malvado. No fundo, no fundo, não me incomodo com isso. As coisas se repetem e me vejo com a idade dele ou adolescente e, mais além, me vejo adulta já, ainda chamando minha mãe de chata. Algumas vezes bem alto, outras vezes só pra mim. Muitas em pensamento. 

Todas as mães são chatas. É nosso esse papel de exercer a chatice pra que nossos filhos não sejam chatos. Mães chatas, normalmente, têm filhos legais. Por isso, a cada "chata" que Miguel dirige a mim, fico com uma certeza gostosa de que estou fazendo algo que só eu poderia fazer por ele. Só uma mãe pode ousar ser louca, dizer o que deve ser dito pra um filho mesmo que ele se revolte, não entenda, fique triste. Só as mães podem dizer que seus filhos estão fedidos. Que estão passando do limite. Que estão agindo de forma sem sentido. Que o cabelo está horrível. Que a roupa está péssima. Porque filho sabe que mãe só quer o bem. Mesmo que não diga, quando o amor é construído dia-a-dia, o filho sente esse sentimento. E sabe, mesmo não racionalizando, que é amado pela "mãe chata" incondicionalmente.

Só uma mãe vai saber esperar anos pra ouvir o filho dizer que ela tinha razão e que todas as vezes em que foi chata, foi por uma boa causa. Só uma mãe vai esperar uma eternidade sabendo que pode acontecer de nunca ouvir isso e não se entristecer. Só uma mãe vai entender o olhar de seu filho, aquele olhar no qual o filho pede desculpas por ter sido injusto em seu julgamento imediatista por tanto tempo, um olhar de desculpas sem necessidade de nenhuma palavra. Mães sabem que é apenas uma questão de tempo pro filho entender que todas as vezes que chamou a mãe de chata, ele estava somente escolhendo a palavra errada. Na verdade, tudo o que o filho queria dizer era "obrigado".

E, assim, ainda que eu seja chata mil vezes entre a manhã e a noite, ao acordar recebo aquele abraço do meu filho dizendo que sou sua gostosinha. Sou a gostosinha do Miguel antes mesmo de ele se dar conta que vou iniciar mais um dia de chatices e me dar bom dia. No instante em que ele me abraça e me aperta, no meu coração sou apenas sua gostosinha. E isso faz tudo ficar bem.






Nenhum comentário:

Postar um comentário