segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Gordinha



Nunca fui gordona mas também nunca fui magrela. Sempre gostei de comer e amo doces, mas, por ter tendência pra engordar, tenho que tomar cuidado. Quando criança eu era muito desligada dessas coisas de tipo físico considerado ideal, peso, dieta. Só que convivia com minha irmã que SEMPRE foi ligadérrima nessas coisas e eu não conheço ninguém com cuidado maior com o peso que ela. Por isso, acabei vendo que tinha que tomar cuidado pra não engordar.

Sempre fiz atividade física e isso devo também à minha irmã. Foi dela a ideia de entrarmos no ballet e desde os 6 anos nunca mais deixei de ter uma atividade física, graças a Deus. O ballet também é uma coisa muito louca porque a criança é meio que adestrada, logo que começa a ter entendimento de seu tipo físico, que nem sempre querer é poder. Quero dizer que embora eu amasse dançar, nunca tive o tipo físico de bailarina e vivia em briga com a balança não pra ser magra, mas pra ser muito magra e me enquadrar no padrão exigido no meio. Era chato. Imagine que hoje tenho 57 quilos e quando fazia ballet pesava 52 quilos e ainda era considerada gorda. É muito ruim. Só pararam de encher o meu saco quando eu pesei 49 quilos e, vou lhe dizer, eu estava um horror. Não gosto nem de pegar fotos dessa época porque eu parecia um pirulito. Minha cabeça ficou gigantesca porque era a única coisa que eu tinha. Além disso, pra piorar, uma cabeça gigantesca com dentes gigantescos. Enfim, a visão do inferno.

Desde então, tomo cuidado com o que como. Não sou de grandes quantidades e com uma irmã nutricionista fica mais fácil tirar as dúvidas e se aconselhar. Aprendi que comer várias vezes ao dia e em pequenas quantidades é melhor que ficar horas sem comer nada e bater aquele pratão de estivador. Como toda hora, é verdade. Sinto fome toda hora. Mas como pouco. Não abro mão do meu chocolate todos os dias, eu amo. Acho que se desistisse desse prazer seria mais magra, mas existem coisas na vida das quais não estou disposta a abrir mão e meu sagrado chocolate é uma delas. Hoje mantenho meu peso sem muito esforço e acredito que a ginástica de todos os dias, bem cedo, é a minha fórmula. 

Detesto quando engordo, não me sinto bem, as roupas não ficam bem, enfim, não me gosto mais gordinha. Achei a paz com 57, 58 quilos e não quero pesar mais. Se eu gostaria de pesar menos? SIM!!!! Gostaria de pesar os 53 quilos da época do ballet, mas às custas de tanto sacrifício que me dá muita preguiça e me contento com esse peso mesmo. Malhar, pra mim, já é uma questão de saúde, nem passa pela minha cabeça ficar gostosona porque não tenho mais idade pra pensar nisso, né? Se o corpinho se mantiver como está e eu puder atrasar a ação da gravidade, já me dou por satisfeita. 

Fazendo todas essas colocações, deve-se imaginar que ser chamada de "gordinha" é péssimo pra mim. Está aí um adjetivo com o qual não simpatizo. Seja de que jeito for, né? Sim, porque as pessoas tem o dom de inventar modos alternativos de lhe chamar de gorda sem usar a palavra em si. Dizem que você está "mais fortinha", "mais cheinha", "fofinha", "mais bochechuda" e até, em último caso, dizem que você está "diferente". Mas como a vida tem suas surpresas e como diria Lulu Santos "tudo muda o tempo todo no mundo", ontem eu estava deitada na minha cama e lá vem meu filho delicadinho que só:

- Mamãe!! Quero ficar grudadinho com você!! Vamos ficar abraçadinhos? 

Ai, que amor... Mãe devidamente derretida e achando o filho a coisa mais gostosa desse mundo, abri o maior sorriso e disse ao Miguel que isso certamente é a melhor coisa da vida. Aí, Miguel veio e praticamente se derrubou em cima de mim e me apertou até tirar meu ar. Abriu aquela boquinha delícia da minha vida e falou:

- Deixa eu te abraçar, gostosinha! Vou te encher de beijos, minha gordinha lindaaaaaaa!!!!! 

G O R D I N H A. Sim, foi exatamente essa a palavra que meu filho amado usou. Em meio a tantos beijos, ele diz que sou sua gordinha linda. E quer saber? Eu nem liguei! Foi um "gordinha" tão gostoso, tão feliz, que não me importei. Pra ele, posso ser gordinha. Serei sempre a "gordinha do Miguel". E posso afirmar que estou gostando. De ninguém eu gostaria de ouvir esse adjetivo, mas ele... Ah... "Gordinha" tem sabor de "magrinha". Na boca do meu filho, "gordinha" tem sabor de "bonitinha". E se o "gordinha" continuar vindo acompanhado de tantos beijos e de tanto amor, eu estou querendo é mais!!! E viva as gordinhas bem amadas e doces como chocolate!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário