quinta-feira, 16 de junho de 2011

Língua Portuguesa

Antes de eu entrar de férias havia uma discussão a respeito da aceitação de erros de português em livros didáticos utilizados por várias escolas.  A Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e o Ministério da Educação (MEC) estavam em guerra. O MEC defende que devemos aceitar a "linguagem coloquial"  e os regionalismos e eu, assim como tantos outros professores, acho absurdo que encontremos nos livros que deveriam servir para ensinar nossos alunos a falar e escrever corretamente, erros escondidos atrás do discurso intelectual de que estamos sendo preconceituosos e que devemos, em um mundo globalizado, aceitar as "diferenças".

Bem, como diria minha amiga Cacau, faremos como Jack, vamos por partes. Convivo com adolescentes o tempo todo e vejo como escrevem na internet, abreviam, trocam letras e, confesso, não gosto muito disso mas é assim que a banda está tocando e vejo também muita gente da minha geração que já embarcou nessa de escrever "naum" ao invés de "não" e "eh" ao invés de "é". Isso é muito forte pra mim... E continuo escrevendo tudo bonitinho simplesmente porque não consigo me adaptar ou porque não consigo achar sadio escrever errado. E aí reside outro problema: eu acho errado e várias pessoas acham que isso é preconceito contra o coloquial.

Ainda que eu viva mil anos, não conseguirei achar normal falar errado. "Pra mim fazer" será errado e ponto final. Por mais que eu escute várias pessoas a minha volta falando dessa forma, ainda não me acostumei e não me acostumarei nunca. Outro dia, ia contratar os serviços de um profissional e durante a conversa a pessoa manda um "pra mim ir". Na hora pensei se poderia confiar mesmo no trabalho dessa pessoa. Depõe contra. Assim como uma boa apresentação pessoal, o uso correto do português faz diferença pra mim. Entre dois profissionais excelentes, um falando certo e outro errado, qual você escolheria? Eu não tenho a menor dúvida. Mas pode ser que eu seja considerada preconceituosa por isso. Não aceitar a falta de S do caso do plural, está sendo considerado preconceito linguístico.

Pra mim é o fim da picada que nossos livros didáticos aceitem os erros. Mais que isso, se os livros são utilizados para ensinar a Língua Portuguesa, como aceitar isso? Vamos passar a ensinar errado, além de aceitar os erros em nosso dia-a-dia? Será que a coisa está tão difícil que não temos mais professores capacitados para ensinar o certo? Não acredito nisso. Como olhar um livro que vem como a frase "Vamos pegar os livro" e dizer que está ok pro aluno? Será que estamos subestimando esse aluno achando que porque ele fala assim, sem plural, porque sua família fala assim também, ele não poderá aprender o correto?

Eu acredito na capacidade do ser humano de se reinventar, de aprender, de melhorar e acho que a aceitação pelo MEC desses erros grosseiros é a mesma coisa que subestimar a capacidade de aprendizado de nossos alunos. "Nós pega o peixe" é intolerável. Não podemos tentar ensinar a conjugação verbal correta?

Sei que em muitas regiões do país a falta do plural é normal, todos falam dessa forma. "Nós vai" também é comum. Agora mesmo nessa viagem, enquanto estávamos em Santiago, conhecemos um casal do Mato Grosso, tinham dinheiro, família estruturada, viajavam constantemente, mas o português foi assassinado naquela família. "Nós vai", "nós fomo", "nossos menino", "pra mim comprar umas vaquinha", feriam meus ouvidos a todo instante. Será que o casal, como pais, gostariam, se tivessem consciência dos vastos erros de português que cometem toda hora, que seus filhos errassem da mesma forma ou gostariam que aprendessem a falar corretamente? Não estou falando de sotaque ou regionalismos. Estou falando do bom e velho português. Não posso crer que um pai deseje que seu filho cometa os mesmos erros que ele.

Precisamos entender que comunicar-se não é a mesma coisa que falar corretamente. Comunicação pode se dar até com um simples olhar, um gesto. Comunicação, de qualquer espécie, atinge o objetivo da interação entre as pessoas? Sim. Mesmo que se fale errado, conseguimos nos comunicar. Mas não quero isso pra mim, nem pro meu filho. Gostaria que ele falasse corretamente. E não gostaria que o Ministério da Educação do meu país aprovasse material didático vindo com erro de fábrica. Sinceramente, pra mim já é demais.

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