terça-feira, 7 de junho de 2011

Sãos e salvos

Nunca quis tanto voltar pra casa após férias. Nunca quis tanto estar com a minha família, com meu filho. A viagem de férias foi maravilhosa, conheci lugares lindos, paisagens espetaculares e, depois de estar perto de tantos vulcões durantes esses dias, não pensava que um deles entraria em erupção e causaria tanto transtorno e preocupação.

Era nosso último dia em Bariloche. No dia seguinte já iríamos pegar o voo pra Buenos Aires, dormir uma noite lá para, no dia seguinte, voltar pra casa. Estávamos visitando o cerro Tronador, distante 100km de Bariloche pro lado do Chile. Às 15:30 ouvimos um barulho e presenciamos uma pequena avalanche de neve. Como essa montanha tem esse nome justamente por causa do barulho que faz quando a neve despenca, não achamos nada de mais.  Acontece que justamente nessa hora o outro vulcão estava entrando em erupção e sentimos isso do lugar onde estávamos sem saber.




Lá pelas 5 horas da tarde iniciamos a volta e depois de uns 40 minutos pela estrada começamos a estranhar o escurecimento rápido do dia, mais do que normal nessa época. Hugo observou que todas as plantas estavam cobertas de branco, mas achou estranho porque não era uma geada e muito menos neve.  A visibilidade foi ficando péssica, a estrada estava, quanto mais próximos ficávamos de Bariloche, coberta de areia, pó mesmo.



Sem saber o que estava acontecendo exatamente, prosseguíamos a viagem de volta quando, de repente, uma das meninas que estava conosco recebeu um telefonema da família de Buenos Aires perguntando se estava tudo bem uma vez que havia recebido a notícia de que um vulcão no Chile havia entrado em erupção e estava cobrindo Bariloche de cinzas. A partir daí, a situação que já era tensa ficou tenebrosa. O motorista náo conseguia enxergar um palmo a frente do nariz e seguia dirigindo com base no conhecimento que tinha da estrada, piloto automático total. Eu não conseguia nem respirar e olha que não sabia que isso pararia os aeroportos e me deixaria presa na cidade onde eu não tinha a menor intenção de ficar além do planejado.

Quando chegamos em Bariloche, apenas no instante em que saltei do carro pra entrar no hotel, meu couro cabeludo ficou cheio de pedrinhas que caiam da nuvem com material vulcânico que cobriu Bariloche. Meu cabelo ficou duro na mesma hora e tinha farelo de vulcão até dentro da orelha do Hugo! A cidade inteira parecia um deserto: todas as lojas e restaurantes fechados, ruas com montanhas de pó de 20cm, carros cobertos de poeira e precisámos ter cuidado com as vias respiratorias e com os olhos porque ainda estava ventando. A água que antes era vendida por 3 pesos, passou pra 20!!!




Louca, eu ainda tinha esperança de que no dia seguinte conseguiria pegar meu voo pra Buenos Aires que estava marcado para as 11 da manhã. Hugo, que já foi piloto, me tirou da ignorância e disse que eu perdesse minhas esperanças porque o espaço aéreo estaria totalmente tomado por essas partículas que em contato com a temperatura baixa, viram vidro e fazem, simplesmente, o motor do avião parar. Mal consegui dormir e, no dia seguinte, dito e feito: voos cancelados, aeroporto fechado indeterminadamente. Fiquei desesperada. Hugo queria esperar no hotel mais alguns dias e eu queria ir pra rodoviária e encarar as 24 horas de estrada dentro de um ônibus e sair de lá o mais rápido possível pra não correr o risco de perder meu voo de Buenos Aires pro Rio.

Como nessas horas o Hugo deixa que eu tome a frente e decida, mesmo ele deixando claro que preferia não encarar a viagem de ônibus, fiz o que minha intuição pedia e liguei pro transfer pedindo que me levasse até a rodoviária naquele instante. Chegamos lá às 9:45 e saimos no ônibus das 10h. A estrada estava péssima. Às 11 e meia da manhã parecia que era meia-noite de tão escuro que estava. O namorado, nesse momento, disse que achava que a estrada seria fechada também porque as condições para dirigir estavam terríveis. De tão nervosa, estou com a cara cheia de espinhas. Isso acontece todas as vezes em que estou muito estressada. Como se não bastasse o nervoso da situação, ainda tenho que aguentar uma cara espinhenta.

Quanto mais nos afastávamos de Bariloche, melhor a estrada ficava e mais certeza eu tinha de que fiz a coisa certa insistindo nesse programa de índio que é ficar 24 horas dentro de um ônibus. Chegamos em Buenos Aires e tivemos a notícia de que a estrada está, de fato, fechada por falta de condições de circulação e, consequentemente, de segurança. O vulcão continua lá, mandando poeira e detritos pro ar. Alcançou 10 km de altura a fumaça da erupção e com o vento o estrago está sendo grande. Soubemos que o aeroporto de Bariloche e também o que fica a 5 horas de lá estarão fechados, pelo menos, até domingo. E eu só dou graças a Deus de ter pensado rápido e ter saído de lá. Conseguimos pegar nosso voo pro Rio e aqui estamos em casa, com nosso filho feliz da vida por nos ter de volta!!! Graças a Deus. Férias por lugares lindos e com um final cheio de emoção. Na verdade, eu nem gosto muito de tanta emoção assim. Sou daquelas que prefere a calmaria... Adoro o previsível, a rotina, o que posso controlar. Mas a vida não é assim e a força da natureza é algo indescritível. Eu só sei que eu quero é passar longe de vulcões daqui por diante!!!

Um comentário:

  1. Paula,
    Que perrengue! Você acabou virando correspondente internacional por acaso! Bom saber que deu tudo certo e que você já está em casa.
    Beijos

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