terça-feira, 7 de agosto de 2012

De volta





Sempre que viajo fico preocupada com o que o Miguel está sentindo, se sente minha falta, se está com saudades. Além de lidar com o aperto no meu peito, uma saudade imensa do meu bebezão, ainda tenho que lidar com meus pensamentos que chegam até o meu filho e que não me deixam esquecer de que ele está longe de mim. Fico me perguntando se está comendo direito, se está dormindo bem, se está feliz, se está triste com minha ausência. Nossa, que saudade a minha... Que falta que o Hugo faz, que o Miguel faz. Sinto falta da minha mãe também quando estou longe e das mil vezes por dia em que falo ao telefone com minha irmã. 

Normalmente, quando volto de viagem chego cheia de carinho, louca pra agarrar meu filho e cobri-lo de beijos e ele sempre reage com certa indiferença até. Fica me olhando, enquanto eu faço escândalo. Com um olhar desses enviesados, olhando de rabo de olho pra mim, olhando fingindo não querer olhar e com um meio sorriso nos lábios, me faz entender que sou meio esquisita quando falo sem parar que estava morrendo de saudades e o aperto contra meu peito. Sempre demora um pouco pra que ele se entregue ao meu abraço, pra que ele se entregue aos meus carinhos. Nunca sei se esse é o modo do Miguel de mostrar que sentiu minha falta ou se ele fica com vergonha da cena que faço quando encontro com ele depois de ter ficado longe e então fica com aquele ar de "quem é essa maluca me agarrando e chorando?". 

Bem, dessa vez em todas as ocasiões em que falei com Miguel ao telefone ele se mostrou muito falante. Cheguei a comentar com o Hugo a respeito de como ele estava se expressando melhor. Contava onde foi, qual o filme que viu no cinema e o que estava fazendo com a madrinha, com a avó ou com o pai. Pegava o telefone e falava logo: "Oi, Mamãe!" Aí eu me desmanchava, falava que estava morrendo de saudades, que estava louca pra abraçá-lo e dar muitos beijinhos. E ele falou muitas vezes: "Também tô com sodade, volta logo." No penúltimo dia de viagem, quando telefonei, ele chegou a me dizer: "Mamãe, quero você." Gente, que mãe aguenta isso? Eu sozinha, no orelhão em Epcot Center, chorando que nem idiota naquele calor de inferno. 

O Namorado disse que Miguel continuou se alimentando bem, dormiu bem, brincou como sempre, mas perguntava quando eu ia voltar e pelos brinquedos que prometi trazer. Não pedia minha presença à noite, ou chamava por mim. Meu filho tem uma inteligência emocional que me assusta, às vezes. Ele sabe com quem contar e que não adianta ficar chamando por quem não está presente. A novidade é que, dessa vez, já maior, mostrou claramente que sentiu a minha falta. E ao contrário do que muitas pessoas possam pensar, isso não me conforta em nada. Meu coração vaidoso de mãe que sabe que é amada por seu filho não ficou feliz. Sei que saudade é natural, que faz parte da vida, principalmente porque essa é a minha vida, mas antes,  quando Miguel reagia com indiferença, eu tinha ainda uma esperança de que ele não sentisse tanto a minha ausência. Era como se ele estivesse me dando passe livre, sabe? Só que agora eu tenho que aprender a lidar com o fato do meu filho mostrar claramente que sente minha falta e que, se pudesse escolher, não gostaria que eu viajasse. 

Dessa vez, quando Hugo foi me buscar no aeroporto Miguel não veio junto. Mas foi estacionarmos o carro em frente de casa, para que minha mãe abrisse a porta e o Miguel saísse correndo ao meu encontro, sem vergonha de nada, sem olhar de banda. Miguel me olhou de frente, olho no olho, e pulou no meu colo e me abraçou tão forte que eu pensei que o mundo poderia acabar naquele abraço. Aquelas mãozinhas dentro dos meus cabelos, os bracinhos enlaçando meu pescoço, suas pernas enrolando minha cintura, pendurado em mim feito um macaquinho alegre e risonho... Que delícia de retorno! E eu ouvi, muitas e muitas vezes, Miguel dizer, pertinho do meu ouvido: "Que sodade!! Mamãe, eu gosto muito de você. Te amo". E Miguel me apertou, como nunca havia feito antes. E eu pensei que toda a minha vida estava alí, bem pertinho de mim, com sua bochecha colada à minha. E nada mais importava: eu estava de volta à minha casa,  com meu namorado e com o que há de mais importante nessa minha existência louca: meu filho. 


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