sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Solidão




Tem dias em que me sinto sozinha.

No meu trabalho, estou sempre rodeada de muita gente, de todas as idades, pessoas alegres, divertidas, mas, em se tratando de trabalho, não é nenhuma novidade dizer que rolam uns estresses normais de qualquer lugar onde muitas pessoas trabalham juntas e desempenham diferentes funções. Nada que não possa ser resolvido com uma boa conversa, vontade de acertar e bom senso. 

Acontece que ocupo o cargo de chefe e a verdade é que ninguém, ou quase ninguém, nunca pensa no que o chefe sente, ninguém nunca tenta se colocar no lugar dele. Sendo mais específica, as pessoas de secretaria, por ocuparem a mesma função, podem se consolar, desabafar entre si, vão sempre se entender, vão compreender as dificuldades de seu dia-a-dia. Os professores também encontram-se unidos pelas mesmas tarefas, pelos mesmos problemas e, na maioria dos casos, vão procurar compreender as reclamações, críticas e conversas em geral inerentes a profissão que surgem quando estão juntos. Mas e o chefe? Com quem ele fala quando está descontente? Quando está inseguro? Com quem ele divide uma angústia relativa ao seu trabalho, um medo? Ele que é o responsável por manter o grupo unido, por apaziguar conflitos, colocar panos quentes em situações e fechar os olhos pra outras? Ele que é o responsável por estimular o time a prosseguir, a incentivá-los a ir além? Com quem ele partilha essa carga? 

Quando a Bianca Way estava comigo, quando era minha coordenadora de ensino, era mais fácil. Podíamos dividir as preocupações, pensávamos juntas na melhor solução, conversávamos sobre o trabalho e tínhamos uma visão semelhante por ocuparmos um cargo semelhante. Ela entendia minhas dores. E me ajudava a aliviá-las. Trabalhar com ela tornava um pouco mais fácil tomar grandes decisões, muitas vezes de supetão. Não é simples quando uma situação se apresenta e você mal tem tempo de refletir porque tem que decidir na hora, tomar uma atitude no momento e arcar com suas consequências sozinha. Por isso sinto tanto a falta dela... Porque além de minha amiga, ela me ajudava a não enlouquecer quando as coisas complicavam muito. Bianca, por ter uma visão mais fria de tudo, me ajudava a não sofrer com atitudes egoístas, de gente que não consegue enxergar o todo.

Apesar de a Bianca não estar comigo há bastante tempo - sei lá, 4, 5 anos? - tenho a impressão que sempre sentirei sua falta. Ainda sinto o choque que levei no dia em que ela me falou que ia para o Departamento de Ensino. Tenho consciência de que não poderia haver pessoa mais capacitada que ela para o cargo e que sua contribuição para a empresa é muito maior estando onde ela está. Sei também que, se ela alguma vez não me compreendeu, hoje, com a vivência de líder de equipe, ela compreende. 

Bianca, por ver as coisas de forma diferente de mim, contribuía muito, é uma mulher de muitas ideias criativas e eu sou uma mulher de execução, por isso era tão bom. Não concordávamos em tudo, mas nos respeitávamos demais, sabíamos que tínhamos a sorte de estarmos trabalhando juntas, crescendo, aprendendo uma com a outra. Eu não tenho a carinha doce da Bianca, a fala mansa e a voz baixinha, nem o jeito discreto dela, mas meu coração é uma manteiga. Ela sempre soube ser mais durona que eu, contrariando sua aparência e seu jeito. Enfim, por tudo isso é que em muitos momentos me sinto só. E por mais que eu saiba que a vida é assim mesmo e que estamos aí pra lutar todo dia nossas batalhas pessoais, ainda me dói, pelo amor enorme que tenho por ela, saber que a gente era muito feliz juntas e que hoje, muitas vezes, minha amiga se sente como eu: sozinha. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário