quarta-feira, 6 de março de 2013

Dia de Inferno

Tem dias que você tem vontade de riscar do calendário, fingir que não existiram. Os piores dias pra mim são aqueles que começam com você achando que tudo vai dar certo. Você acordou de bom humor, foi pra academia, voltou com mais energia ainda pra ir pro trabalho e aí... Bom, aí você chegou no trabalho e suas secretárias que não acordaram de tão bom humor assim, começam a lhe infernizar por causa de umas camisetas a serem vendidas. 

Bem, eu estava calma, tentei explicar a situação com toda paciência do mundo, disse que o que ocorreu foi um fato isolado e que elas não precisam se preocupar. Tá bom. Logo depois, por causa de outro assunto muito mais importante, comecei a ficar nervosa. Comecei a pensar que o dia não seria tão bom quanto eu havia imaginado e que a barra estava pesando. Pior, quanto mais nervosa eu ía ficando, mais nervosas elas também ficavam. Quer dizer, elas que já estavam com disposição pra briga, conseguiram o que estavam procurando: um prato cheio pra começar uma pendenga. E assim foi: pendenga total, com caras emburradas e palavras desmedidas, dessas que a gente profere na hora do nervoso máximo. Aquelas coisas que a gente fala pra atacar mesmo, ferir. 

Hora do almoço. Ótimo! Pensei que melhor coisa não poderia acontecer. Almoçar em casa com meu filho, levá-lo na escola e fugir da nuvem negra que pairava sobre o ambiente de trabalho. Só que chegando em casa, encontrei minha irmã que também não estava vivendo seus melhores dias e discutimos bobamente. Sabe dessas briguinhas idiotas que começam sem quê nem pra quê e depois você fica se perguntando: como foi que as coisas tomaram um vulto desproporcional? Pois é. Um rosnado daqui, outro de lá. Sorte que logo, logo fizemos as pazes. Ok. Menos uma coisa pra azucrinar. Então, tudo bem com a irmã,  rumei de volta ao trabalho porque a coisa por lá estava feia. 

O período da tarde conseguiu ser pior que o da manhã, isto porque os secretários da tarde já estavam envoltos na atmosfera de discórdia que iniciou mais cedo e aí a coisa ficou muito louca. Berros, discussão, acusações e choro, muito choro. Lavagem de roupa suja ao melhor estilo. No final das contas, trancados na minha sala, todos se abraçaram, nos desculpamos e acabou ficando um saldo positivo. Tem que haver algo bom depois que as nuvens malévolas passam. E ficaram as lições que só os erros deixam de herança.

Ao final do dia, cansada, com dor de cabeça, o corpo tão doído que parecia que eu tinha levado uma surra, recebo o telefonema da minha irmã falando que quando foi buscar o Miguel na escola, a professora falou que colocou meu anjinho de castigo e brigou firme com ele porque ele lanhou o rosto de um coleguinha, o Guilherme. Ai, meu Deus. Falta mais alguma coisa hoje?, indaguei. Chegando em casa, fui conversar com meu filho e perguntar o que tinha ocorrido na escola. O danadinho falou que era isso mesmo, que tinha arranhado o amigo. Ainda agradeci aos céus: pelo menos não mentiu, esse pestinha. Quis saber o motivo, e ele respondeu, sem a menor cerimônia que ficou com raiva porque o Guilherme não queria emprestar o "jogo dos peixes". Ora, ora, vejam só. Meu filho, o mais egoísta dos egoístas, ficou com raivinha porque o colega não queria emprestar o jogo!! Miguel chega ao extremo de não levar brinquedos pra escola porque sabe que na escola "tudo é de todo mundo" e todos os amigos vão querer pegar seus brinquedos. Ele prefere não levar nenhuma "novidade" a emprestar. Falei pra ele que era um absurdo ele agredir o colega e que o castigo imposto pela professora foi muito bem dado. Ele disse que já tinha pedido desculpas ao amigo e fiquei torcendo pra que o rostinho do Guilherme não tivesse ficado marcado. Com que cara eu olharia pra Mariana? 

Conversa terminada, pensei: vou jantar. Estava faminta. Se tem uma coisa que nunca perco, independente de qualquer situação, é meu apetite. Ah, que maravilha comer quando se tem fome! Que comidinha gostosa... O dia poderia ter terminado alí, comigo sentada a mesa. HA HA HA. De repente, olho pro Miguel e ele está na cozinha fazendo força pra fazer coco. Cara, diz que é mentira, pensei com vontade de gritar. Perguntei a ele: "Miguel, você está fazendo coco, filho?" E ele respondeu: "Estou sim e não me olha, tá?" Ai, como assim? Falei pra ele ir cagar em qualquer outro lugar da casa, seu quarto, sala, escritório, até o meu quarto - sim, já desisti de pedir pra ele ir pro banheiro. A última coisa que eu queria era pensar que meu filho tem 3 anos e lá vai fumaça e AINDA NÃO FAZ COCO NO VASO SANITÁRIO!!! Portanto,  naquele dia valeria qualquer lugar, exceto a cozinha pra eu poder comer sem aquele cheirinho de merda tão agradável, mas ele disse que já estava terminando. Pai celeste, tem que ter estômago pra ser mãe. E não deu outra: no meio do meu jantar ele acabou de fazer o que estava fazendo e em sua cueca encontrava-se um coco enorme esperando por mim! E lá fui eu limpar bunda cagada interrompendo meu jantar. Lavei a bunda, lavei a cueca, embora a vontade fosse de jogar a cueca no lixo. Lavei minhas mãos e voltei pro meu prato de comida. Tudo como se estivesse assistindo a um intervalo da novela. Tudo muito natural.

O apetite não perco, a comida estava lá, meio fria, meio borrachuda, e eu comendo com a mesma vontade. Mas a dignidade, meu povo, já perdi faz tempo!


2 comentários:

  1. Paula! Depois de ler esse post fiquei com vontade de voar até o Rio e te levar um troféu! Eu não me importo com problemas no trabalho, por mim trabalharia de domingo a domingo, pois por maior que seja o pepino sempre sei o que fazer. Agora, ficar à disposição de um bebê de 1 ano e 3 meses,que chora muito, sozinha, o dia todo, é para mim o maior dos desafios de toda a minha existência. (sessão desabafo). Um beijo

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    1. Concordo com você em número, gênero e grau. Eu não conseguiria ser mãe em tempo integral. Acho que mataria meu filho... Ou me mataria!! Admiro todas as mulheres que conseguem!!! De coração!!

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