quarta-feira, 27 de março de 2013

Sem saco pra blá blá blá

Eu acho tanta graça de gente que adora dar palpite em assuntos sobre os quais não têm a menor vivência. E um dos assuntos que todo mundo acha que entende é crianças, filhos. Eu mesma já fui assim: cheia de idéias pra colocar em prática. Eu achava que educaria maravilhosamente bem o filho dos outros. Por isso, hoje rio de mim mesma quando lembro daquela Paula cheia de teorias bonitinhas sobre educação. E, atualmente,  deixo minhas amigas e irmã que já eram mães e tinham paciência pra ficar escutando minhas "abobrinhas educacionais" rirem da minha cara. Com toda a humildade, admito que eu era muito tolinha. 

As pessoas têm sempre uma solução pra tudo, uma dica, uma receita milagrosa. Sempre acham que suas teorias fariam a diferença na vida de qualquer criança. Ainda acham que tudo de errado que acontece é culpa dos pais. Pombas, pode ser, sim, culpa dos pais, algumas vezes. Mas pode não ser. Criança nasce e vem com seu código a ser decifrado, apresenta ao longo da infância gostos e preferências que algumas vezes conseguimos identificar de onde vieram e outras vezes nos perguntamos como é que pode... De onde veio esse gosto? De onde veio esse comportamento? Por exemplo, nunca bati no meu filho. Ele não vê isso em casa. Hugo também não bate. Mas Miguel bate nos amigos de vez em quando. E aí? 

Aí tenho que escutar fulaninho falando de alimentação infantil quando fulaninho não tem filhos. Tenho que escutar ciclaninha falando de estabelecer horários dentro da rotina familiar quando a ciclaninha também não tem filhos. E por aí vai. Desculpe, mas vai ter filho primeiro pra gente poder falar a mesma lingua. Porque a teoria é linda e eu mesma tinha MUITAS delas e na hora da prática entram as tais das variáveis que deixam qualquer mãe louca. 

Falam horrores de refrigerante. Aí levam a coisa pra um extremo totalmente radical. Vejo pais surtando porque os filhos tomaram refrigerante. Miguel toma refrigerante. É liberado lá em casa. Sabe o que acontece? Coloco meio copo pra ele, nas raras vezes em que ele pede, e ele não bebe nem esse meio copo.  O máximo de refrigerante que ele bebe é quando vai ao cinema e, como está comendo pipoca, acaba tendo a necessidade de ingerir mais líquido e como é o refrigerante que tem pra beber, é isso mesmo que ele bebe.  Duda, minha afilhada, sempre gostou de levar frutas como merenda pra escola. Levava frutas mas não gostava de suco. Levava frutas e coca. E aí? Minha irmã merece condenação por causa disso? 

Vejo mães andando atrás de seus filhos em festinhas infantis pra que não comam salgadinhos ou se entupam de brigadeiros. Na boa, meu filho mal come nas festinhas porque só pensa em brincar. Mas quando está comigo à mesa e quer pegar um salgado, deixo sim. Quando me pede pra comer bolo ou brigadeiro, também deixo. Acho que a proibição por certos alimentos gera uma compulsão por eles. E apresento de tudo pro meu filho e não o obrigo a nada e não proibo as balas. Apenas dou um corte quando já comeu umas 4 ou 5 balas. 

A única pessoa que comia muitas frutas lá em casa era meu falecido pai. Eu não tenho o costume de comer frutas, embora goste delas. O Hugo nem gostar, gosta. Quer dizer, não faço o que deveria fazer: dar o exemplo pro Miguel. Mas compro frutas porque meu filho as adora. A creche teve papel fundamental na alimentação do meu filho. Miguel come de tudo. E meu papel é apenas garantir que minha geladeira tenha frutas pra ele. Ontem eu estava na cozinha comendo biscoito recheado com o Hugo quando o Miguel apareceu. Olhou o biscoito e eu pensei que ele fosse pedir um. Nada. Abriu a geladeira e pegou a gelatina e perguntou se tinha "uma maçãzinha". Respondi: "Claro, filhote!". Peguei a maçã e lhe entreguei. Ele comeu a gelatina e depois a maçã enquanto os pais comiam biscoito. Tem dias em que ele tem vontade de comer biscoito recheado. E daí? É algum crime? Coloco em um pratinho uns 3 ou 4 e, em todas as vezes, ele me devolve o prato ainda com biscoito. Come 1 ou 2, no máximo. 

E ainda tem a pobre condenada salsicha. Cara, Miguel ama cachorro quente e come salsicha. Aliás, se tiver macarrão com salsicha ou feijão, arroz e salsicha o garoto desce o garfo mesmo. Nem esquento minha cabeça. Conheço mãe que coloca brócolis na merendeira da filha. Palmas pra ela. Acho bacana mesmo que ela esteja conseguindo essa proeza, mas não vai me dizer que a filha dela é mais saudável que meu filho SÓ por causa disso. Respeito o fato de a menina comer brócolis ao invés de biscoito, mas espero, sinceramente, que a menina goste de levar esses brócolis. Que ela leve esse verdinho pra escola com a mesma alegria que meu filho leva melancia. E acho totalmente possível que a menina curta mesmo comer suas arvorezinhas verdes no lanche. 

Quero deixar claro que não deixo meu filho se empanturrar de balas, doces, refrigerantes ou biscoitos amarelos. Essa não é a alimentação rotineira dele. Mas quando me pede, dou. Outro dia ele pediu Fandangos. Segundo minha irmã nutricionista, biscoitos amarelos são o terror das mães. Enfim, Miguel comeu muito Fandangos mesmo. Comeu bem meio saco ou até um pouco mais. Aí, em outro dia ele estava olhando o armário pra escolher o que iria comer e ele olhou pro saco de Fandangos. Perguntei se ele queria. E ele me respondeu que não. "Esse biscoito é muito salgado, mamãe, machuca a boca", me disse ele. Quer dizer, ele mesmo tirou suas conclusões e não vai mais comer tanto Fandangos. Por isso é que deixo que experimente. Miguel não come nem três quadradinhos de chocolate quando dou aquela tirinha da barra de chocolate pra ele. Acho que, como lá em casa rola essa liberdade pra ele comer o que tiver vontade, ele come com parcimônia. Ele sabe que vai poder comer depois se quiser. Se um dia ou outro Miguel estiver se excedendo, cabe a mim chamá-lo pra realidade. Sempre repito o preceito budista de que "a virtude está no meio". E busco isso pro meu filho, sem proibições. 

Eu dei sorte. Miguel ama frutas e come legumes. Mas poderia não comer. E seria culpa minha? Eu é que não estaria sabendo educar? Não. Concordo que não posso oferecer apenas alimentos vazios e engordurados pro meu filho. Mas se minha alimentação é saudável, se eu não sou compulsiva por alimentos cheios de açúcar, metade do caminho está trilhado. Mas a outra metade é com ele. O papel dos pais é orientar, sem proibir, sem ser xiita. O que acontece é que as pessoas não respeitam a opção alheia. Se acreditam que não comer carne é a melhor coisa do mundo, querem vender isso pra todos. Quem come carne, vira idiota. Se acreditam que o açúcar é o mal do século, pronto: resolvem banir os brigadeiros da vida dos filhos e os pobrezinhos viram reféns da decisão dos pais. 

Sempre acreditei no exemplo que damos aos filhos. Ainda acredito. É lógico que se eu como fast food somente 1 vez ao mês, meu filho não tem o costume de comer hamburger porque também só os come 1 vez ao mês. Mas não me considero péssima mãe se me delicio com um bom hamburger enquanto meu filho faz o mesmo porque isso não é uma constante na minha vida e nem na dele. De toda essa discussão sobre como educar, acho que fica a oportunidade pra refletir, nos perguntando se estamos fazendo o melhor que podemos sem tirar os pés do chão. Por isso é que hoje não acho mais que seja apenas uma questão de exemplos. Existem muitas outras coisas envolvidas nesse processo. Como criar um filho sem ver televisão - como já ouvi vários pais falando isso - se o que acontece na TV também está inserido no mundo? Quero é criar meu filho com capacidade de assistir um programa e escolher o que gosta e o que não gosta pra decidir que não irá mais perder tempo com o que considera inútil. Como criar um filho sem permitir que experimente biscoito recheado se seus amiguinhos vão levar biscoito pra escola? Vou fazer o quê? Proibir os amigos de darem biscoito ao meu filho? Não. Prefiro que meu filho saiba o gosto de um biscoito recheado e se ele não quiser levar biscoito porque prefere frutas, ótimo! Serei a primeira a encher a casa de frutas. Tenho que orientar, mostrar o que é certo e o que é errado mas preciso deixar meu filho exercitar seu poder de tomar decisões. Pequenas decisões a princípio, obviamente, maiores no futuro. 

Educar dá trabalho pra caramba. Em tudo. Nas mínimas coisas. Então, já tenho dor de cabeça suficiente queimando meus neurônios pra fazer do Miguel um cara legal e com saúde pra ainda ter que ficar escutando blá blá blá de quem não tem conhecimento de causa. Quero ver criar filho segurando o manual de instruções contendo todas as teorias mais furadas sobre educação debaixo do braço. Taí uma coisa que eu adoraria ver. 


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