terça-feira, 11 de junho de 2013

Revoltada

Por mais que eu tente, não consigo entender esse país onde vivo. Não consigo entender essa passividade do povo pra certas coisas (que eu julgo importantes) e tanta comoção pra coisas sem a menor importância (pra mim).

No curto período de 4 dias em que estive no Chile, em 2011, pude vivenciar nada menos que 3 movimentos de protesto contra a má qualidade do ensino. Os estudantes reinvidicavam maiores investimentos no nível superior e melhor qualidade do ensino público, assim como acesso mais amplo a maior parte da população a um ensino de excelência. E, mais que isso, apesar de a polícia ser rude muitas vezes, os protestos não cessavam. Os estudantes não se deixavam abater pela truculência policial e até pela morte de algum estudante durante o movimento. Mais além, o protesto era apoiado pela maioria da população. Em nenhum momento ouvi alguém nas ruas do centro, shoppings ou taxistas com quem conversava falar que os estudantes responsáveis pelo movimento eram baderneiros ou malucos. Ao contrário, vi uma cidade que se prepara para receber um protesto, fecha ruas, planeja antecipadamente para que haja o mínimo possível de violência quando os ânimos se exaltam demais. Quero deixar claro que nem todo policial é rude, assim como nem todo estudante é ponderado. Não gosto de estereotipar ninguém.

Enfim, e aqui no Brasil, ninguém quer saber de brigar por nada. E vemos nossos políticos decretarem feriado em cima de feriado, cada um mais despropositado que outro, em nome de jogos de futebol. Ao invés de darem estrutura ao trânsito, ao invés de planejarem e preparem a cidade para poder, de fato, receber um evento de porte grandioso, maquiam a cidade fazendo com que a população fique em casa liberando ruas e deixando livre acesso ao estádio para que todos se divirtam lindos e felizes em um jogo de futebol. Se as escolas não terão aula, isso não é considerado problema. Se os alunos ficarão sem o conteúdo daquele dia decretado feriado, não é problema importante. Importante é a copa das confederações. Se o professor vai ter que rebolar depois pra repor a aula perdida, isso também não é problema deles. Problema deles é fazer a população pensar que a cidade tem toda a estrutura pra receber gente de toda a parte do mundo. A educação que se ferre. De verdade, quem nesse país dá valor pra educação? Poucos. Os considerados loucos, talvez. 

Hoje li no jornal que o prefeito de Fortaleza disse que não há problema em decretar feriado nos dias de jogo do Brasil porque, "afinal, são só 2 dias" e isso facilitaria muito a locomoção pelo entorno do estádio. Será que ele sabe o impacto que dois dias de comércio fechado representa pra esse comerciante, pra esse pai de família que depende de vendas pra pagar o salário de outros tantos pais de família? O que vejo é que o povo fica bem feliz por ter mais dias de feriado, mais dias pra ficar em casa, "descansando e curtindo seu futebol". O que vejo é essa mesma galera que está cansada de trabalhar e está gostando de ter mais um dia pra ficar em casa, encarando filas gigantescas pra conseguir um ingresso pra ver o Brasil jogar. Sim, pra isso eles têm energia. Pra protestar, não. Pra jogo de futebol, sim.

Isso tudo me deixa angustiada, sem ver uma luz do fim do túnel pra esse país, nem a médio nem a longo prazo. A curto prazo, fico aqui na minha escola fazendo a linha doida e dizendo que dia 20 de junho vai ter aula, sim, senhor!! Porque não vou deixar meus alunos sem a matéria, nem sacrificar uma programação de período feita há mais de 6 meses para que tudo corresse a contento durante o semestre. Quem quiser ter aula, terá. Quem quiser ficar em casa assistindo o jogo, que fique. Na vida, tudo é uma questão de colher o que se planta. A hora agora é de plantar.

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