sexta-feira, 4 de abril de 2014

Na Fila da Pipoca




Muitas vezes fico desconcertada com o jeito do Namorado. Ele é o cara mais carinhoso e cuidadoso comigo, mas também é um sujeito sem meias palavras. E é assim com todo mundo. Ele não deixa ninguém se "fazer de engraçadinho" e tentar tirar vantagem em cima dele. Ao longo desses 11 anos de convivência, já vivemos várias situações de gente querendo bancar o esperto, gente que pára em vaga de idoso, gente que quer furar fila, gente que se aproveita dos outros. E o Namorado sempre é muito curto e grosso com pessoas assim. E ele é tão natural ao fazer isso que muitas vezes acho até engraçado essa naturalidade para dizer "NÃO" pra espertinhos de plantão. 

Ontem era dia dele buscar o Miguel na escola. E na porta da escola tem um pipoqueiro. Céus, por quê? Por que tem sempre que ter um pipoqueiro com filas enormes? Por que as mães, sempre na maior correria, têm que ficar ouvindo seus filhos dizerem que querem pipoca quando tudo o que elas querem é ir pra casa? Enfim, ontem não foi diferente e lá estava o pipoqueiro e lá estava meu filho dizendo pro pai que queria pipoca. A fila estava gigante, devia ter umas 10 pessoas na frente do Hugo. Mas pai é pai e lá foi o Namorado enfrentar a filinha pra satisfazer o desejo do Miguel. 

O pipoqueiro já estava atendendo uma pessoa e o próximo a ser atendido seria o Hugo. Atrás do Namorado já havia mais umas 7 pessoas - o pipoqueiro estava, definitivamente, em um dia de lucratividade. Então, eis que surge uma senhora de mãos dadas com sua netinha e, para surpresa do Namorado, não foi para o final da fila. A senhora postou-se ao lado do Hugo como quem seria a próxima. Hugo lhe lançou aquele olhar que quem convive com ele, sabe bem qual é: um olhar de poucos amigos, um olhar que diz "que porra é essa que você está pretendendo fazer??" Posso afirmar que esse olhar dá um certo medo em quem o recebe pela primeira vez.

Não satisfeita, quando o pipoqueiro entregava a pipoca à pessoa na frente do Hugo e, finalmente, seria chegada a vez do meu filho ter a pipoca pela qual esperou, pacientemente, pelos últimos 15 minutos, a senhora falou:

- Ai... Da licença, dá licença... Deixa eu ser atendida na sua frente? É que essa menina não sabe esperar nada!!

Coitada, a senhora sem noção falou com a pior pessoa que poderia ter falado porque com o Hugo não tem mememê e nem muita explicação. Pra ele, o certo é o certo e ponto. Eu teria dito: "Sinto muito, mas meu filho esperou muito na fila e, além disso, outras pessoas estão atrás de mim, também esperando, e não posso deixar a senhora passar na minha frente." Namorado diz que dou muita explicação. Ele tem toda razão. Tudo meu é muito explicado. Mal de professor, acho. Ou jeito de geminiana. Fato é que o Namorado olhou pra cara dela, mostrando toda sua indignação com a cara de pau da senhora e respondeu a coisa mais certa a ser dita:

- Não! 

Depois desse bom, propício e sonoro não, dirigiu-se ao pipoqueiro pedindo o tamanho da pipoca do Miguel sem olhar mais pra cara da senhora. Ainda perguntei ao Namorado se a tal da senhora foi pro final da fila, se alguém que estava atrás dele deixou que ela furasse a fila, enfim... Detalhes que as mulheres querem saber pra ilustrar a história. Mas o Namorado me disse que o que aconteceu com a senhora e com a menininha que não sabe esperar não lhe interessava. A única coisa que ele tinha certeza é que na frente dele a senhora não entraria. Segundo ele, não quis nem saber de olhar pra cara da senhora que está ajudando a criar uma monstrenga. Onde já se viu, querer furar fila porque a menina "não sabe esperar nada"? E nem vai aprender, se depender de sua família, né? Ela deveria é dar um bom exemplo pra neta. E assim caminha a humanidade. Até quando? Garanto que se essa menina ouvisse mais vezes um "NÃO" como o que ouviu do Namorado, haveria chance pra ela. Porque quando se trata de educar, dizer "não" pode ser tão lindo quanto dizer "sim".


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