terça-feira, 17 de setembro de 2013

Medo da Adolescência

Minha irmã acaba de me telefonar com seu nível de estresse elevado ao máximo. Máximo não. Acho que já tinha estourado todo o limite possível. A coitadinha pergunta se eu posso falar com ela porque precisa desabafar. É lógico que posso. Como não dar um ouvido pra minha irmã? Justo eu que escuto tanta coisa de tanta gente, como não escutar o desabafo dela? Vamos lá, irmãzinha, manda ver! Conta aí o que está lhe esquentando a cabeça...

Hoje é o dia de minha irmã buscar as crianças na escola. A filha dela mais nova e o Miguel. Pra começar bem, Miguel entra no carro e revira sua bolsa e pega o lanche que a pobrezinha separou pra comer mais tarde no trabalho: um mísero biscoito Club Social. Miguel abre seu biscoito e come. Instala-se uma briga no carro porque a Rafaela (filha da minha irmã) começa a brigar com o Miguel porque ele não deveria ter comido o lanche da mãe e por aí vai. Felizmente, minha irmã "desova" as duas criaturas em casa e parte para seu trabalho pensando que terá alguns momentos de paz. Se é que se pode ter paz em um engarrafamento.

O telefone dela vibra porque acaba de receber um WhatsApp em meio ao trânsito insuportável. Ela verifica sua mensagem recebida e constata que é de sua filha mais velha. Em tom de fim de mundo, Duda diz pra mãe que está com uma espinha gigantesca no nariz e não contente em relatar, lhe envia a foto do nariz com sua espinha em forma de vulcão pelo celular (tecnologia é mesmo uma beleza!). Eduarda pergunta se a tal da espinha está muito grande. Minha irmã manda pra ela uma daquelas carinhas fofinhas pra ela se consolar. Aí, segue uma sequência de perguntas no melhor estilo dramático que só os adolescentes, em especial do sexo feminino, conseguem:

"Posso fazer segunda chamada da prova de amanhã? Como vou aparecer assim? Como vou na festa?"
"SÉRIO"

Minha irmã, tentando acalmá-la, tentando ser uma mãe blasé, diz que ela é quem sabe. Se ela achar que deve faltar a prova, ok, faltará e fará segunda chamada. Sem querer colocar lenha na fogueira, diz pra Duda que ela pode decidir o que achar melhor pra ela. 

Aí podemos concluir que se o mal que aflige a menina-moça é aparecer em público com a espinha no nariz, estaria resolvida a pendenga. Mas não... A saga segue... Eduarda continua:

"Isso quer dizer que a espinha está enorme, né? Socorro, cara, vou me matar! Olha isso..."

Minha irmã tentando manter a calma que já é tão rara em sua personalidade, diz que não foi isso o que quis dizer, e diz que ela faz drama demais...Minha irmã aproveita pra dizer também que não é pra Duda mexer na dita cuja e que a espinha desaparecerá. Mais perguntas seguem:

"Até quando? 1 mês?"

Já sem paciência e querendo sumir deste mundo, minha irmã volta a ser a mesma de sempre e diz que se tivesse bola de cristal, acertaria na loto e ficaria rica, tentando encerrar uma conversa que parece não ter fim. 

Entre as coisas mais loucas que ouço minha irmã falar ao telefone durante seu desabafo, está a frase-pérola que filhos não são de Deus! Que não é possível que seja verdade tanta carga em suas costas e que todas as pessoas do mundo são mentirosas quando dizem que maternidade é uma maravilha!!!  Minha irmã repete em alto e bom tom (acho até que o motorista do carro ao lado deve ter escutado): "PESSOAS MENTIROSAS!!! Todo mundo mente!!"

HAHAHA Tenho ataques de riso porque pimenta nos olhos dos outros é refresco. Não disse que o estresse  dela havia atingido seu nível máximo?

Se a gente conseguir se lembrar de como éramos quando adolescentes, vamos nos lembrar de várias histórias ridículas, de ocasiões em que fizemos tempestade em copo d´água. Adolescente adora drama. Tudo é tão intenso. Tudo é muito. Atualmente, quando querem dizer que algo é demais, muito lindo ou muito legal, usam a palavra "perfeito". O vestido é bonito? Então ele é perfeito. O filme é maravilhoso, então ele é perfeito. Como se perfeição existisse. Na adolescência é tudo ou nada. Matar ou morrer. Lindo ou horroroso. Não existe entre o branco e o preto, milhões de tons de cinza. É 8 ou 80. 

É preciso muita estrutura pra passar por essa fase. Nem sempre estamos com a calma necessária, com a vida ganha, com os pensamentos em ordem, e, de repente, ainda nos vemos tendo que resolver coisas que são irrelevantes na vida adulta e o fim do mundo na vida de um adolescente. Coitada da minha irmã... Uma filha adolescente e outra pré-adolescente... É muito barra pesada mesmo. E olhando e escutando tudo isso, começo a tremer por dentro de medo, porque meu filho está crescendo e num piscar de olhos também vai achar que uma espinha é, na verdade, um vulcão. Salve-se quem puder. Que Nossa Senhora das mães de adolescentes interceda por nós, pobres mães, junto a Jesus!!!

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