sábado, 28 de setembro de 2013

Indústria de Príncipes e Princesas




Todas as vezes que alguém chama meu filho de "príncipe", alguma coisa esquisita acontece comigo. Eu sei que a pessoa está querendo ser gentil, está querendo me agradar e tal, mas no fundo não gosto. Sei que não é porque estamos chamando um menino de príncipe que ele vai internalizar ideais de perfeição, mas não posso evitar achar que alguma mensagem começa a ser lançada desde cedo pra meninos e meninas e que alguma coisa acaba ficando. Não gosto dessa coisa de "príncipe" ou "princesa" porque as mulheres são criadas pra acreditar que esse tal de principe existe e porque, além de isso provocar uma tremenda decepção pra nós, mulheres crentes, ainda deixa uma carga muito grande em cima dos pobres coitados dos meninos. Daí uns crescem acreditando que pra serem homens bacanas precisam agir como principes (sempre buscando agradar suas "princesas" pra serem amados, sendo fortes e salvadores) e outros jogam tudo pro alto, vão pro outro extremo e viram uns idiotas completos. Poucos crescem sabendo que relacionamento é via de mão dupla e é preciso agradar e ser agradado.

Não gostaria também que as meninas crescessem acreditando que são princesas e que precisam de resgate,  precisam estar sempre lindas e com o cabelo impecável para serem dignas de que algum principe em seu cavalo branco apareça a qualquer momento pra livrá-la da bruxa má. Meninas crescem acreditando que um homem será o salvador, o provedor da felicidade suprema. Acho isso muito chato. Mesmo que a palavra "princesa" fosse apenas pra designar uma mulher linda, continuaria a me incomodar. Que chato isso de a menina ser sempre elogiada por sua aparência, pelas roupas fofas que veste. Até a Disney, quando resolveu fazer uma personagem feminina que vai a luta, que briga por suas vontades e desejos, fez a Valente, uma menina que andava pra cima e pra baixo  toda desgrenhada. Heim? Não entendi. Quer dizer que não dá pra conjugar aparência física com postura de luta? Por isso que não gosto da palavra "princesa", porque, querendo ou não, dá uma idéia de passividade que me irrita. 

Sei que não vou conseguir ganhar a briga com essa indústria de principes e princesas que existe no mundo. Mas não quero que meu filho cresça acreditando que é um príncipe. Um príncipe é um modelo de perfeição e pensar que se é um príncipe é a estrada mais curta para decepcionar-se consigo mesmo, é um fardo pesado demais. Durante sua vida, meu filho vai agir como se fosse um príncipe algumas vezes, mas vai agir como um ogro em outras tantas. Ele é humano e vai fazer besteiras. E vai reconhecê-las e se perdoar e ser perdoado. Talvez magoe algumas pessoas, talvez faça outras chorar. Vai se machucar, vai ser magoado, vai chorar. É a vida. Da mesma forma, queria que as meninas de hoje fossem criadas pra irem a luta, arregaçassem as mangas e fossem trabalhar, estudar, viver. O mundo é muito mais lindo quando não se está dentro de uma torre esperando o cara que ela acha que vai chegar em um cavalo branco. Nossas meninas podem falar alto, sim, podem gostar de usar preto e não rosa. Nossos meninos podem chorar. 

Não quero parecer xiita, muito radical, tentando encontrar pelo em ovo. Apenas acredito que certas atitudes nossas, enquanto temos filhos pequenos, são responsáveis pela formação do caráter deles, nós temos responsabilidade com relação a forma como nossos filhos vão encarar a vida, temos a faca e o queijo na mão pra desmistificarmos esses conceitos sociais. Por tudo isso é que fico mais feliz quando observo que os filmes de príncipes e princesas favoritos do meu filho são "A Bela e a Fera" e "Enrolados". Vejo que, talvez, ele esteja se identificando com modelos um pouco mais próximos da realidade. No primeiro filme, o príncipe é uma fera feia que é resgatado por uma menina simples que gosta de livros. No outro, o "príncipe" é um cara meio perdido, que age errado , mas que se revela um bom coração disposto a se modificar ao conhecer uma jovem doida pra ver o mundo e que sabe se defender tacando uma frigideira na cabeça de quem atrapalha seu caminho. Então, fica aqui o recado: meu filho não é príncipe. É um menino real: tira meleca, ri de seus peidos, gosta de luta, de música, de livros. Gosta de escolher seus brinquedos, gosta de cinema, de comer em restaurante. Gosta de bagunça e tem medo de escuro. É um menino carinhoso e que é valorizado por ser assim. Um menino que diz que sente saudade, que grita pra quem quiser ouvir, quando o deixo na escola, que me ama muito. Um menino que mente, faz mal criação, me perturba, me enche. E me cobre de beijos e me pede pra deitar com ele agarradinho... Esse é o meu menino real. O homem que vou deixar no mundo, não pra meninas que acreditam que são princesinhas, mas, sim, pra mulheres que, como ele, são reais. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário