sábado, 10 de maio de 2014

Carta para meu filho







Filho, 

há cinco anos vi seu rosto pela primeira vez. Muito antes da hora, tão de surpresa, exatamente no dia das mães de 2009. Um presente. O presente. E meu mundo virou de cabeça pra baixo. Pra depois se endireitar. E endireitou de um jeito que não posso mais imaginar essa minha vida sem que você esteja nela. Não dá mais pra voltar a ter aquela vida leve e descompromissada de antes. Tudo o que faço hoje tem mais peso. Paradoxalmente, sinto-me leve. E estou escrevendo isso, não para que você se sinta responsável por essas tantas mudanças que ocorreram ao meu redor e em mim mesma desde que você chegou. Escrevo pra você para que saiba o quanto sua mãe lhe ama e o quanto eu gostaria de ser perfeita e não ter os milhões de medos que tenho agora. Você está crescendo e isso me traz muitas preocupações porque o mundo está se abrindo pra você. Sua vida está se ampliando. E o mundo anda muito louco. As pessoas estão muito estranhas.

Pra começar, tenho medo de que algo ruim aconteça com você. Tenho medo de lhe perder. Nunca tive tanto medo de perder alguém. Nem mãe, nem pai, irmão ou marido. E por ter tanto medo de que algo lhe aconteça é que sei que tenho que me policiar porque não estarei com você o tempo todo e que a cada ano que passa você estará mais tempo sem mim, porque vai viver a sua vida e não a vida que eu quero que você viva. Por isso, quero que saiba que lhe entrego a Nossa Senhora todos os dias quando saímos de casa. Peço a Maria que lhe cubra com seu manto e que lhe proteja. Só Maria, mãe de Jesus, que sofreu mais que qualquer mãe no mundo, pode entender as angústias de outra mãe. 

Miguel, eu tenho medo de querer que você seja alguém que não é. Tenho medo das minhas expectativas e luto comigo mesma o tempo todo para não passar pra você tudo aquilo que eu, na minha ideia do que seria uma vida boa, desejo pra você. Tenho medo de não aceitar suas faltas, suas falhas. E tenho medo disso, porque não quero ser uma mãe que pressiona, que impõe sua vontade. Não quero ser uma mãe que não aceita o que o filho quer ser, o que o filho é, do que ele gosta e não gosta ou os seus desejos. Quero que você seja livre pra fazer suas escolhas e que não tenha receio de me decepcionar. Eu lhe prometo que vou tentar com todas as minhas forças e, desde já, lhe peço perdão porque, por ser humana, sei que vou falhar em algum momento.

Tenho muito medo do mundo lhe maltratar. Mas tenho muito mais medo de você não saber lidar com as lambadas do mundo. Acho que toda mãe, se pudesse, teria os filhos sempre em seu campo de visão, nem tão perto a ponto de influenciar suas decisões, mas nem tão longe a ponto de  perder o filho de vista. Assim, a mãe poderia assistir, de longe, o filho trilhando seu próprio caminho com a garantia de que a primeira mão a estender quando tropeçasse fosse a dela. Tenho medo de que esse mundo, que anda tão insano e com pessoas tão insensíveis, lhe roubem do amor. Tenho medo que essa loucura que nos cerca lhe tire a vontade de acreditar no amor. 

Eu sei, eu sei. Pareço fora do normal escrevendo pra você, falando dessas coisas quando você está completando apenas 5 anos hoje. Mas é que já vejo você tão mais solto, tão mais seu, sabe? E não posso evitar a dor de saber que, sim, você vai sofrer. É da vida. E o sofrimento faz crescer, amadurece. Foi assim que minha mãe me ensinou que seria. E foi. E hoje imagino com que dor sua avó me viu sofrer algumas vezes. Passei por várias situações de sofrimento durante a minha vida e acontece ainda, é claro. Do mesmo modo, será com você. É desse jeito com todo mundo. Mas meu coração de mãe não quer saber. Loucamente, desejaria poder evitar todo o seu sofrimento. Evitar todas as escolhas erradas que você fará. Todos os seus erros. Mas sei que não dá pra fazer isso, Miguel. Você vai errar, vai ter dificuldades, vai tropeçar e, muitas vezes, eu não estarei ao seu lado pra ser a primeira a lhe estender a mão. Sim, você vai sofrer. Minha cabeça entende e meu coração dói. 

Então, meu menino lindo, quero muito que você saiba que, de alguma maneira, em qualquer situação, eu estarei sempre com você. Eu serei a pessoa que nunca sairá do seu lado. Eu sempre estarei lá pra segurar a sua mão. Eu sempre estarei lá pra bancar a chata ou pra lhe aplaudir. Sempre. Quero que você tenha fé nisso, filho. Preciso continuar ensinando você a ter fé. Pra você entender que de toda situação complicada tira-se uma lição. E, aprendendo a ter fé, quero que tenha fé em mim. Fé que eu nunca vou lhe faltar enquanto viver. E eu, que acredito em outras vidas, quero lhe dizer que eu sempre estarei com você, mesmo depois que meu corpo se for. E viverei em você, viverei na sua fé em mim, no meu amor e em Deus.  

Hoje é seu aniversário e eu desejo que você seja você. Que o mundo permita que você se expresse. Que a vida permita que você sorria sem medo, que você se mostre, que você apareça. Desejo que, mesmo nas situações mais adversas, você tenha pernas pra seguir. E braços fortes pra lutar. Desejo que a vida que você começa a construir agora, permita que você mostre suas cores, todos os seus tons. E que seus olhos tenham o brilho das emoções verdadeiras. Desejo que você possa se posicionar perante as desilusões, que se permita chorar até não ter mais lágrimas e que ria até a barriga doer. Desejo que você saiba voltar atrás, que saiba perdoar e que encontre perdão. Desejo que você acredite no amor. Que se permita amar. Desejo que você acredite com todo o coração que o amor é a saída para todos os males do universo. Que o amor resume tudo, filho. É o início, o meio e o fim. 

E eu te amo. 

Sua mãe.




2 comentários:

  1. Emocionante. Sugiro que escreva essa carta em papel e guarde, para entrega-la apenas na maturidade dele... Adoro seus textos. Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada!!! Fico muito feliz por você gostar do que escrevo... Beijos!!

      Excluir