quinta-feira, 22 de maio de 2014

Prada ou Chanel?

Conversando com uma pessoa muito próxima outro dia, escutava o caso que estava sendo contado pra mim e refletia a respeito de como nossa sociedade nos ensina, desde cedo, a dar valor a pessoas pelo que têm e não pelo que são. E fiquei me sentindo meio idiota, diante de tanta babaquice. 

Era a história de um almoço. Essa pessoa contava que foi almoçar no Gero - um restaurante caro aqui no Rio de Janeiro, na Barra - com uma amiga. Ao chegarem lá, notaram que devia estar acontecendo algum tipo de evento no local pela quantidade de caros estacionados, a maioria deles Range Rovers. Lá dentro, de fato, havia um evento. Dentro do restaurante, estavam mais de 40 mulheres comemorando o aniversário de uma delas. Todas estavam na faixa dos 30 anos. Todas muito bem vestidas, maquiadas, penteadas e muito magras. Segundo minha amiga, pouco comiam, apenas beliscavam e bebiam seus proseccos, sem falar que o bolo da aniversariante ficou praticamente intocado (açúcar?? Nem pensar!). Mas não é exatamente aí que quero chegar.

O que me chamou a atenção, assim como a dessa minha amiga que contava a história, é que sua companheira de almoço, uma mulher moradora da Barra também, não parava de olhar para as mulheres reunidas alí e dizer:

- "Nossa, aquela bolsa vermelha que ela está usando é uma Chanel! Custa 20 mil reais!" 
- "Olha lá! Aquela alí está usando um Louboutin lançamento!!"
- "Meu Deus, a outra está com uma bolsa Prada! Ela custa 18 mil!"
- "Aquela outra está com uma pulseira Cartier no pulso!"

E por aí seguiu em seus comentários a respeito das marcas das bolsas, vestidos, sapatos e seus respectivos preços. Seus comentários vinham carregados de uma certa admiração por aquelas mulheres, pessoas que tinham o que ela não tinha. As colocações a respeito do preço vinham com um quê de: pra frequentar esse mundo é preciso ser como elas. Só que aí é que o SER e o TER se confundem. Quem são aquelas mulheres? Quais seriam seus valores? Por quais causas lutam? Que virtudes as distinguem dos demais, as tornam únicas? Ou será que são únicas e diferentes dos demais apenas porque podem ter objetos que custam muito e, assim sendo, poucos podem tê-los e isso as torna especiais? Não estou aqui querendo julgar as mulheres até porque não as conheço. Elas podem comprar um "Manolo Blahnik" da mesma forma que eu compro um Schutz, fulaninha compra um "Andarella" e ciclaninha compra um "Di Santinni". O que me incomoda é como essas coisas, aos olhos da amiga da minha amiga, fazem com que aquelas mulheres sejam quase deusas. E, como ela, existem muitas outras pessoas assim. Pessoas que julgam pelas aparências, pro melhor e pro pior. 

Entendam, não me choca que aquelas mulheres estejam usando todos esses itens caríssimos (pra mim). Eram mulheres novas e todas devem ser extremamente bem sucedidas, ou ter maridos ricos ou serem oriundas de famílias ricas. Enfim, isso nem vem ao caso. Uma bolsa Victor Hugo é cara pra muita gente, assim como uma Arezzo ou Renner. Tudo depende de quanto você está disposta a gastar e de quanto você trabalha pra ganhar seu suado dinheirinho. Tudo depende de quanto você ganha. Há público para todo tipo de produto e de preço. Quem ganha mais, gasta mais, se quiser ou tiver vontade. O que me choca mesmo nessa história toda é a admiração da amiga da minha amiga pelas marcas e produtos utilizados. O que me espanta é que minha amiga disse que o almoço delas acabou ali, não havia mais assunto que fizesse sua companhia de almoço parar de olhar para os adereços que as mulheres do tal aniversário ostentavam. Nenhuma conversa fazia sentido ou prendia sua atenção, a não ser os vestidos, brincos e saltos. Era como se tudo aquilo fosse mais importante que o almoço em si. Era como se aqueles objetos imprimissem um valor maior àquelas pessoas que as usavam. E isso é muito esquisito.

Eu sei que todos julgam pelas aparências. Tento não fazer isso e venho melhorando muito, principalmente quando você lida com o público. Os ensinamentos chegam todos os dias, a todo instante. Não dá pra julgar. Quantas vezes vi mulheres cheirosas e bem vestidas ficarem devendo à escola. Quantas vezes me deparei com pessoas nas quais não coloquei a menor fé, mas que pagaram o semestre à vista. Quantas pessoas mal vestidas nunca atrasaram uma mensalidade de seus filhos. Por tudo isso é que sei que ninguém pode viver de aparência. Isso é só uma forma de enganar ou mascarar o que está atrás de tudo o que usamos. Muitas vezes somos o que mostramos ser. Mas nem sempre é assim. 

Eu sou uma pessoa que gosto muito de me vestir bem, usar bons sapatos, maquiagem de qualidade. Mas não acho que eu tenho mais valor que alguém que não usa as mesmas marcas com as quais me identifico e que meu bolso pode pagar. Se você tiver um bom olhar pra escolher, poderá vestir-se muito bem usando coisas baratas. Custar pouco não é sinal de coisa vagabunda. E tudo depende muito de como você se porta, de ter a cabeça erguida, da sua linguagem corporal perante o mundo. Não raro alguém elogia uma camisa minha e é tomada de surpresa quando digo que comprei na Renner. Mas temos a mania de achar que o belo custa muito. Que o de boa qualidade custa muito. Já vi coisas em lojas caras terem péssimo caimento e durabilidade. E o que eu coloco no meu corpo passa uma mensagem pro mundo, eu sei disso. Mas não me define. Eu não sou minha bolsa Chanel ou Prada (se eu as tivesse...kkkkkk). Eu sou muito mais. E não vou entender nunca se eu, pra ser aceita em determinado grupo social, tiver que comprar as "marcas" consideradas bacanas. Eu uso o que gosto, o que cai bem em mim e o que posso pagar. Permito-me comprar marcas caras de vez em quando - principalmente quando viajo pra poder pagar menos - mas isso não me faz mais ou menos feliz. E não quero que as pessoas achem que sou mais legal porque estou usando uma Cartier no pulso. Enfim, eu não sou o que eu uso. Isso mostra apenas uma pequena parte de mim.

Eu sou Paula, muito mais que Chanel ou Prada. Muito prazer. 

2 comentários:

  1. Então tô liberada para usar minhas Crocs??? rsss...

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    1. kkkkkkkkkkkkkkkkkk Porra, Cacau... Aí pegou pesado demais!! NÃO pode, não!!!!

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