segunda-feira, 26 de maio de 2014

Meu amigo




Ontem eu e Miguel estávamos na cozinha comendo. Estávamos sozinhos porque o Namorado tinha ido tomar um chopp com os amigos. A televisão estava ligada e começou a passar a matéria semanal do Fantástico a respeito de câncer de mama. É um assunto que me toca muito porque o câncer é uma doença muito covarde e quem já teve ou tem alguém na família ou amigos que viveram isso, acaba sentindo um pouco mais.

A matéria de ontem me emocionou em especial porque mostrava uma mulher grávida que descobre uma recidiva. Os médicos pensam em um aborto, mas decidem adiar o início da quimioterapia quando constatam que ela está com 8 semanas. Arriscando um pouco mais a saúde da mãe, começam o tratamento somente depois dos 3 primeiros meses, quando o risco para o bebê cai muito. Então, aquela luta pra levar a gestação até o final, a vontade de ser mãe daquela mulher, tudo isso me comoveu muito. Depois que decidi que queria ser mãe, mesmo que essa decisão tenha demorado a chegar, eu quis com todas as minhas forças e lutaria até o fim para ter o Miguel em meus braços, exatamente como ela fez.

Eu comia e chorava. Assistia a matéria e chorava. Bebia coca-cola e chorava. Miguel ali, ao meu lado, olhando pra mim. E isso me fazia chorar um pouco mais porque eu tenho meu filho comigo, sem precisar lutar o tanto que aquela mulher estava lutando. 

Miguel perguntou:

- Mãe, você está triste, né? É porque a moça está doente?

E respondi:

- Sim, filho. Estou triste porque ela está doente e também o tratamento pode fazer mal ao bebê que está na barriga dela. Estou chorando porque tudo o que ela mais quer é ter um filho, é ver o bebezinho dela nascer. Tudo que ela quer é ter uma criança na vida dela, uma criança linda e especial como você é pra mim. Eu tenho você, filho. E eu queria muito que ela conseguisse também. 

Miguel sorriu pra mim e não falou mais. Largou o pão no prato e, sem dizer nada, apenas olhando nos meus olhos, estendeu sua mão com a palma aberta virada pra cima sobre a mesa em minha direção. Com a mão aberta, olhando pra mim, ficou esperando. E eu estendi meu braço e agarrei sua mãozinha chorando ainda mais. Chorando pela benção, não só de ter esse filho, mas por ter um filho tão especial, tão sensível, tão carinhoso. Um filho que sabe me consolar sem precisar dizer uma só palavra. Uma criança que entende o quanto é importante pra mim e o quanto sou feliz por tê-lo em minha vida.

Ele continuou comendo, segurando o pão com a outra mão. Eu continuei olhando pra TV. E nós continuamos de mãos dadas, até que eu parasse de chorar.


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