terça-feira, 22 de junho de 2010

Quando o básico vira plus

Vira e mexe acabo me deparando com situações em que pessoas são elogiadas por fazerem o básico. Fazerem o que seria essencial, normal. Vou me explicar. Há alguns anos, ainda era solteira, estava conversando com minha madrinha a respeito do cara que achava que seria bacana pra mim. Disse a ela que queria um homem que me escutasse, que gostasse de mim, que fosse meu companheiro, meu amigo. Aí, minha madrinha virou-se e disse: "Minha filha, tudo isso que você está pedindo é o mínimo. Isso é o básico. Se a pessoa não tiver essas características, não dá nem para o começo. Não é melhor você começar a pensar em outras qualidades?" E não é que ela tinha razão?

Pra estar comigo tem que ser meu amigo, tem que gostar de mim, caramba, tem que ser companheiro, gostar de me ouvir. Isso é apenas o ponto de partida e não o final. Não pode nem haver relacionamento sem isso, pra início de conversa. Percebi que no mundo de hoje, as pessoas estão tão loucas, que a gente começa a valorizar o que seria básico. Começamos a ressaltar qualidades que seriam o ponto de partida, sem elas não poderíamos nem pensar em começar nada com alguém.

Queria viver em um mundo em que eu não precisasse escutar: "Ah, essa pessoa, pelo menos, é honesta." Gente, que isso? Honestidade não deveria ser básico? Agora virou característica plus.

Essa semana, ouvi uma tia minha elogiando o novo namorado da sobrinha porque ele, que tem uma filhinha pequena, fica com ela de 15 em 15 dias, a visita com frequência e cuida da menina ele mesmo quando ela está com ele. Gente, será que estou louca ou o quê? Se ele é pai, isso é o que se espera que ele faça. Entretanto, como a maior parte dos homens não está nem aí pros filhos depois que se separa, virou qualidade do cara cuidar da própria filha! Resultado: o básico, o certo, o mínimo, virou algo merecedor de aplausos.

Isso acontece em sala de aula também quando a gente elogia uma resposta mais ou menos. Sai logo um "very good" pra uma resposta que poderia ser muito melhor. E, com isso, nosso nível de exigência vai baixando. E nosso elogio vai se desvalorizando.

Já me peguei várias vezes pensando que fulano ou beltrano é bom profissional porque não chega atrasado, não falta e cumpre seus horários. Mas quando caio em mim, vejo que isso é o certo a ser feito. Não podemos esperar outra coisa. Mas como hoje em dia um monte de gente falta ao trabalho por qualquer motivo, chega atrasado e nem está aí, quando encontramos alguém que faça o mínimo, já nos damos por satisfeitos. Eu, graças a Deus, tenho muita sorte com relação a galera com quem trabalho. Todo mundo é muito responsável e procura fazer mais que esse B+A=Bá que todo mundo anda supervalorizando.

Será que dá pra gente voltar a elogiar o que realmente merece elogio? Ou será que as coisas estão tão brabas que o nível de consideração de coisas bacanas vai ficar cada vez mais baixo?

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