quarta-feira, 2 de junho de 2010

Culpa

A culpa existe e incomoda a gente quando menos esperamos. Acontece quando falamos demais, quando deveríamos ter feito algo que acabamos não fazendo, sei lá porquê, ou se comemos demais ou gastamos o dinheiro que a gente não tem ou deveria economizar. Mas acredito que o primeiro dos seres que sentiu culpa foi uma pobre mãe.

A culpa deve ter nascido no momento do parto. É, isso mesmo. Pelo menos é assim que me sinto desde que o Miguel nasceu. A verdade é que esse sentimento fica que nem tatuagem quando a gente pare. Eu era uma mulher com meu tempo só pra mim, com minha vida só pra mim e, naquele momento do nascimento da minha delícia eu me tornei mãe. Essa mãe não existia em mim até alí. Mesmo com ele na minha barriga não era assim. A mágica acontece mesmo quando aquele serzinho abre os olhos e olha pra sua cara e depende de você pra comer, pra estar limpinho, pra dormir aconchegado. É muito louco. Um sentimento enorme vai crescendo dentro de você, a cada dia cresce mais um pouco e você, que acaba de ser promovida a mãe, tem que aprender rápido a lidar com uma gama enorme e nova de emoções. Por isso que tem mãe que meio que enlouquece depois do parto e a elas vai minha solidariedade. Não é fácil.

A partir desse momento, a culpa me acompanha. Eu sei que estou fazendo o melhor que posso, me esforçando ao máximo para ser a melhor mãe do mundo, mas, ainda sim, me pergunto se é suficiente. Durante a semana é mais fácil porque tenho que trabalhar, preciso da grana e preciso me sentir útil. Definitivamente não me sentiria útil ficando em casa cuidando de criança. Respeito quem faz essa opção, mas eu não seria feliz. Então, não me sinto muito culpada porque preciso estar bem pra passar essa felicidade pro meu filho. Estou com ele durante a noite e de manhã, antes de levá-lo pra creche. Mas quando é sábado e o Hugo está trabalhando e eu fico sozinha, sem ninguém pra dividir as mil tarefas de cuidar de um bebê de 1 aninho, fico louca. Louca e culpada de estar ficando louca!!

Hugo chega do trabalho, me encontra desgrenhada, cansada e esbaforida e logo - anjo que é esse meu marido - pergunta porque eu ainda não pedi a uma das tias da creche para vir ficar em casa aos sábados em que ele está trabalhando, de 15 em 15 dias, pra eu poder ficar mais livre e poder fazer as minhas coisas, sair, ler ou, simplesmente, tomar um banho mais demorado ou assistir a qualquer programa de TV conseguindo chegar ao fim. E a resposta é que eu vou morrer de culpa!!! Pombas, já trabalho a semana inteira, aos domingos, geralmente, minha sogra se oferece pra ficar com ele pra podermos ir ao cinema e aí já acabo ficando pouco com o Miguel, então como, aos sábados vou deixar meu filho com outra pessoa e ficar bem? Ai, sei que não tem nada demais, que muitas mães têm babás e tal, mas eu não vou conseguir. E aí acabo ficando em uma rua sem saída, sem saber como me posicionar diante de mim mesma. Mulher é coisa muito louca mesmo, vai entender...

3 comentários:

  1. Paula, adorei o que voce escreveu, é extamente assim como nos sentimos, sempre!
    Eu amo trabalhar, lecionar é tudo para mim, mas jamais deixo de pensar no Gabriel, de me sentir ausente, e é claro, culpada. Tento amenizar este sentimento pensando que estou sento útil, ajudando outras pessoas, e que preciso de dinheiro também, para manter o Gabriel e para o meu ego, gosto de estar arrumada, usar um bom perfume e até mesmo investir em mim, seria hipócrita se falasse que não ligo para essas coisas.
    Paula, mães que trabalham tendem a sentir este sentimento, mas penso que não seríamos felizes e nem faríamos nossos filhos felizes se não estivéssemos nos sentindo bem.

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  2. Já te disse e repito o mais importante não é a quantidade de horas que passamos com os nossos filhos, mas sim a qualidade dessas horas. Algumas mães passam o dia inteiro com os filhos, mas que qualidade é essa?? Se elas precisam cuidar dos afazeres domésticos. Elas acabam ficando no mesmo lugar que seu filho, mas distante dos mesmos. Ás vezes também me sinto culpada. Já me peguei por diversas vezes eu no meu quarto vendo meu programa favorito a Andressa jogando no computador em seu quarto e o André jogando o futebol que ele tanto ama. Por este motivo quando tenho uma oportunidade gosto de sair com eles pra fazer algo divertido pra todos. Porque ficar em casa com eles nem sempre é estarmos realmente todos juntos.

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  3. Paula em primeiro lugar parabéns pelo blog! Vc aborda situações em que muitas de nós ou a maioria já viveu...vive ou viverá...

    Em relação a culpa não tem jeito mesmo...uma vez a Diva me disse: "Depois que somos mães a culpa sempre irá existir...ou por nos anularmos...ou por não nos anularmos..." e eu concordo com ela... mais sendo mãe há 13 anos...e olha que no começo fui eu , meu pai e minha mãe...meus dois anjos que cuidamos dela...eu trabalhava e estudava...depois dos dois aninhos dela eu só a via praticamente final de semana... e ainda assim...solteira...a noite saia...me culpo muito sabe? Mais vejo que o mais importante no meio disso tudo eu conquistei: o amor e o respeito da minha filhota, então quando eu paro pra pensar...com certeza o mais importante é não deixarmos de ser nós mesmos e passarmos muito amor pra eles...conversar...deixar nossos valores pra eles...que adianta..conheço tantas que ficam enfurnadas e esquecem da própria vida, mais ficam frustadas, tristes...e muitas vezes vão cobrar isso dos próprios filhos mais tarde. Eu acredito que pra amar, não temos que nos anular, mais estar sempre antenadas com eles, eles...

    Tenho certeza de que és uma mãe maravilhosa e que cada vez mais feliz, linda e realizada passarás mais felicidade e segurança para seu pimpolho! Beijokas mãe linda!

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