segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Irmãos

Ontem minha sogra se ofereceu para ficar com o Miguelito durante a tarde para que a gente fosse ao cinema. Aceitei, é claro. Sempre aceito porque ajuda é bem vinda e uma saidinha à dois faz uma falta danada.

Sempre saimos de casa após o almoço e o soninho do Miguel e vamos pra Barra levá-lo até a casa da Berê. De lá, seguimos pra um dos shoppings de lá e não tem muita escolha, a gente chega em frente ao guiché para comprar os ingressos e assiste o filme que está em melhor horário. Nem sempre é o filme que a gente está super a fim de ver, mas não tem importância, nos divertimos assim mesmo de mãozinha dada, bem juntinho. Ontem, assistimos o filme "A Morte e Vida de Charlie", em inglês "Charlie St. Cloud" e eu não fazia a menor idéia a respeito do que se tratava o filme. Sabia apenas que era com o bonitinho do High School Musical.

Bem, nem me passou pela cabeça que o filme era sobre dois irmãos e que um deles morre logo no início, desencadeando, assim, toda a estória. Pro Hugo foi muito difícil. Cada um tem seu calo, cada um sabe onde ele aperta e pro namorado esse filme foi lá na ferida...

Em 31 de dezembro de 2004, o irmão mais novo do namorado desencarnou em um acidente de moto. Lembro, como se fosse hoje, do nosso telefone tocando na madrugada do dia 30 para o dia 31. Acordamos assustados e veio a notícia do acidente. Ainda é muito vivo na minha memória a cara do Hugo pegando seus sapatos, calçando-os enquanto eu dizia que ficaria tudo bem, que logo o Mauro se recuperaria e ele me olhou e disse: "Não, eu sinto que meu irmão não vai ficar mais aqui." Assim, direto, triste, duro. O desencarne do Mauro foi uma das coisas mais difíceis que vivenciei. Deve ser muito difícil perder um irmão. Não consigo imaginar minha vida sem a presença da minha irmã, da minha amiga. E o Hugo e o Mauro, além de irmãos, amigos, trabalhavam juntos todos os dias.

Lembro da cena do Hugo fazendo a barba do irmão já morto, acarinhando seu rosto, sem dizer uma palavra, a dor saltando aos olhos, mas que não derramava uma lágrima. Lembro do rosto da esposa do Mauro, recém casada, oito meses apenas... Lembro da dor que também vi ali, dilacerante, dor que não entende o que está acontecendo, dor que pensa que só pode ser um pesadelo. Muitas vezes imagino quantos planos, quantos sonhos foram sonhados juntos, quanta coisa ainda por viver. E meu coração aperta diante dessa dor: a dor da esposa que perde o marido tão jovem, tão cheio de vida, tão carismático, alegre. Lembro da dor da minha sogra e do meu sogro... Pra perder um filho não existe preparação, não existe explicação, não existe nem nome pra mãe que perde um filho.

Sei que ontem o Hugo reviveu muito da dor que sentiu naqueles dias e, pela primeira vez, admitiu o quanto é difícil pra ele viver sem ter o irmão por perto. Confessou que se controlou muito pra não chorar, até porque sabia que demoraria a parar se começasse.

Eu continuo pedindo a Deus que o Mauro esteja bem e que ele saiba que o tempo que esteve aqui com a gente foi muito intenso e que temos saudade. Muita.

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