quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Coisas de mãe





Miguel tem o dom de me surpreender. Acho que, na verdade, os filhos tem o dom de surpreender os pais sempre. Um gesto, um olhar, uma palavra. E eu estou, simplesmente, me deliciando nessa fase na qual o Guel está agora. Pra uma mãe que achou que fosse enlouquecer, que achou que nunca mais teria vida própria ou vontade, isso é uma surpresa e tanto!

Nunca tive visão romântica da maternidade e a coisa só piorou quando fui mãe. Nada que nos dizem, nada que possam nos tentar ensinar, corresponde à realidade. No momento em que o filho nasce e a gente vem com o bebezinho pra casa é que chega a hora da verdade e não há espaço pra arrependimentos. O bebê está alí, precisa de cuidados e, na boa, a maioria das mães também está em uma fase precisando de cuidados especiais e não vai tê-los. A atenção e esforço é todo voltado pro bebê, não tem lugar pra mais nada. Por isso, passados esses dois anos cruéis, é uma alegria pra mim ver meu filho independente - cada vez mais - e interagindo muito comigo, com a família, amigos, com o mundo.

Miguel está na fase de medir força comigo. A palavra que ele mais usa é "não". Mesmo que ele queira alguma coisa, quando ofereço diz que não quer. Se está na hora de trocar a fralda, diz que não. Ele detesta ficar com a fralda depois que fez cocô, mas se digo que vamos trocar, adivinha? Diz que não! Se está na hora de comer, também diz que não. Depois come que nem esfomeado. Se digo que precisa tomar banho, diz que não... Pra depois de 5 minutos me chamar e dizer: "Qué banho, mamãe!". Enfim, ele quer ter a última palavra. A briga é boa, mas procuro contornar as coisas conversando com ele. Sei que é uma fase e prefiro essa, mil vezes, um milhão de vezes, a todas as outras pelas quais já passei.

Outro dia me dei conta de que meu filho já adormece sozinho em seu quarto. Pede seu suco, sua "peta" (chupeta), seu "mimi" (um travesseirinho pequeno que adora) e deita em sua cama normalmente assistindo "Toy Story" e dorme. Assim, sem dar o menor trabalho. E o dia em que parei pra pensar nisso, me dei conta também do quanto a vida já está melhor, do quanto tenho, pouco a pouco, mais tempo pra mim de novo. Nem que seja um pouquinho antes de dormir já é muito, perto do que vivi nesses dois anos. E melhor, Miguel começa a fazer parte da minha vida sem me podar, ele, cada vez menos, é fator impeditivo de eu fazer as coisas corriqueiras. Eu estou começando a existir ao lado dele. Não mais existo apenas para tornar a vida dele possível e confortável.

Miguel come sozinho e bem. Não suja mais a mesa toda tentando levar a comida à boca, bebe no copo normal bonitinho, sem deixar cair o líquido e eu acho isso tudo muito surpreendente. Acho que, talvez,  por ter só o Miguel e por não ter a menor intenção de ter outro filho é que presto atenção em tudo que diz respeito a ele, não quero perder nada, nem uma transformação, nenhuma fase. Quero aproveitar ao máximo essa experiência linda que é ser mãe.

Há dois dias, Hugo chamou Miguel pra ir pro quarto pra assistirem televisão e eu falei que iria com eles também. Miguel que já estava no corredor a caminho do quarto, virou-se pra mim e colocou a mãozinha aberta como quem manda eu parar e falou: "Pára aí, mamãe. Só papai." Deixou claro que estava a fim de assistir televisão com o pai e não me queria por perto naquele momento. Morri de rir. Não, eu não tenho ciúme dessa cumplicidade masculina que os dois têm. Acho bacana. Eu também tenho meus momentos a sós com meu filho. Mesmo que a chata lá de casa seja sempre eu (eu é que mando comer, tomar banho, dormir, parar a bagunça...), tem momentos em que meu bebê só quer o meu colo, o meu beijo. E, depois, segundo Freud, Miguel no fundo faz isso pra tirar o pai de perto de mim. Seria o tão famoso complexo de Édipo... Será?

Miguel é um menino extremamente atento a tudo que acontece a seu redor, mesmo quando achamos que ele não está nem aí pro que está acontecendo, ele logo mostra que sempre está prestando a maior atenção e que não há nada que passe por ele sem ser notado. Estávamos saindo da creche outro dia e uma outra mãe também saía com a coleguinha dele, a Manuela. Eu tenho que parar pra pensar e  lembrar do nome das mães dos amiguinhos dele, mas ele falou pra mãe da Manu: "Tchau, Michele!" Agora vê se pode? E quando a Michele diz que vai levá-lo pra casa dela, sabe o que ele faz? Joga os bracinhos pra que ela o pegue no colo e eu não tenho a menor dúvida de que entraria no carro e iria mesmo pra casa dela se eu deixasse. Miguel é rueiro, adora festa e faz tudo pra não ficar em casa.

Já acho muita graça também quando ele está brincando com seus bonecos. Brincadeiras de menino tem sempre som, já repararam? É um tal de "chiiiiiiiiiiiiiii" quando o boneco está voando, "vruuuummmmm" quando está brincando de carrinho, "pow" quando o carrinho bate. Ele também coloca seus bonecos de castigo e briga com eles com o dedinho indicador levantado... Do mesmo jeito que eu faço quando brigo com ele...rs... E Miguel, quando fica irritado (geralmente por estar sendo contrariado) bate no que está por perto. Dá chute na cama, dá tapa na mesa, na poltrona... Igualzinho ao pai.

Eu poderia ficar aqui horas e horas falando mil coisas sobre meu filhote, o quanto está gostosa essa fase na qual ele fala comigo, interage, discorda, diz não, faz manha, pede beijo. Mas só quero dizer como é bom ter chegado até aqui. Eu estou sobrevivendo e adorando tudo isso. Estou adorando a vida que tenho hoje, com o Miguel. 

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